sábado, 21 de dezembro de 2013

Cruzeiro de C é R

Não sou hipócrita. Fair play de C é R. Quero que o Cru... se exploda. Sempre quis. Nunca neguei, em tempo algum. Isso faz parte do DNA do atleticano. Quem disser o contrário, ou não é galo ou tá doente do pé.
Porém, ainda mantenho certa sanidade quando discuto futebol. Embora concordasse que estádios fossem o lugar apropriado para salivarmos feito cães raivosos, durante 90 minutos e separados por cercas, cordões de isolamento e a polícia (isso antes da barbárie de Santa Catarina ... ou da briguinha entre os "torcedores do PT" e o resto. Pão é pão, queijo é queijo... e política não é futebol. Vide http://www.strategosaristides.com/2010/10/depois-de-ver-o-noticiario-de-ontem-com.html e aqui http://www.strategosaristides.com/2010/10/o-cachorro-de-pavlov_24.html), teimo em continuar pensando, buscando causas e razões para as coisas, usando na medida da minha ínfima inteligência, a lógica (a Aristotélica meu filho...). Ato desprezado hoje em dia, bem sei.
E antes que um mané qualquer confunda esse fanatismo, essa paixão por um time com vandalismo, barbárie e essa bestajada de torcidas organizadas que deram agora pra brigar até em festa de comemoração de título, interrompo: perá lá psiu! Tô aqui escrevendo pra quem sabe ler... Não é analfabeto funcional e nem cancela festa de comemoração com cerveja de graça na base da porrada entre patrícios.

Nas minhas pelejas contra a bicharada nunca teve contato físico, e por Deus, espero que nunca tenha. Só de imaginar me agarrando a um cruzeirense já me dá urticária. Pior, vai que o cabra se apaixona?
Dai que um jogo mal jogado do meu glorioso não se transforme em nada mais que um jogo mal jogado. Mesmo que o juizinho tenha inventado um pênalti numa hora horrível, nada mudaria a péssima partida. Perdemos vexatóriamente, mas merecidamente. Que o Raja atropele o Bayern (difícil...). Ano que vem tem mais.
(...)
Meu filho chorou quando da derrota. Expliquei a ele que meu calvário havia durado até a Libertas desse ano, que não se abatesse que isso faz parte. Pra um time que me deu a alegria que tive em Julho, desenterrando a cabeça de porco plantada por algum bichano azul no CT de Vespasiano, tiro o chapéu, aplaudo e me preparo para o ano que vem. Vai ter mais, alegrias e tristezas, por certo. Muito obrigado ao galo esse ano, independente do vexame da quarta. Mas não tenho esperança de que a azurada entenda do que estou falando. No hope.

No entanto, depois de 3 dias de insultos diversos pululando de toda parte, não poderia deixar de dar uma resposta aos que fizeram a escolha de torcer para o Cru... mas que não tiram o galo da cabeça pelos últimos dois anos. Preocupado com tamanho infortúnio, pesquisei seu mal e, parafraseando o Olavo, descobri que sofrem da famigerada 'obsessão do galo doido do inferno'.
Isso processa-se da seguinte maneira: toda noite quando o cabra vai dormir, sobe do fundo do inferno um enorme galo de fogo, entra pelo fiofó do incauto bichano azul, vai até a cabeça, queima tudo, transforma tudo em vácuo, enchendo depois a caixa craniana de penas de galináceo. Dai em diante, é só pena que voa em tudo o que o infeliz falar... E o maganão não tira mais meu galo da boca, mesmo sendo ele um Super Mario Bros. (aquele bigodinho foi piada pronta) azul. Enternecido com tão grande revés obsessivo, perdôo-lhes e até concordo com eles hoje: mundial de C é R.

Verdade verdadeira: C de Cru sempre será R.

Cospe ou engole?

Um amigo, cuja veia cômica mereceria mais sorte, tinha mania de abordar alguém da turma com a deliberada intenção de cortar e mudar o assunto, lançando ao interlocutor a pergunta infame:
- você cospe ou engole?
O resto era só riso.

Percival, no artigo abaixo, não está de brincadeira. Mas eu não resisti à analogia. No fundo, pra mim que partilho da definição de livre pensamento do Millôr, o resto é mesmo só boquete ideológico. Pois é disso que se trata.
Vai ai...

A VIDA SEM MENSALÃO
Percival Puggina


Mensalão, você sabe o que é. É aquele crime que levou José Genoíno a demitir-se da presidência nacional do PT em 9 de junho de 2005 e o mesmo crime pelo qual Tarso Genro, ao substituir Genoíno no posto, pediu a "refundação" do partido. É o mesmo crime que conduziu à exoneração de José Dirceu do cargo de ministro-chefe da Casa Civil em 16 de junho de 2005. O mesmo crime pelo qual Lula pediu perdão ao país, em rede nacional, no dia 12 de agosto de 2005. O mesmo crime que, em setembro de 2005, constrangeu centenas de militantes e dirigentes petistas a deixar o partido, filiando-se ao PSOL. O mesmo crime que justificou a cassação do mandato de José Dirceu pela Câmara dos Deputados, em 1º de dezembro de 2005, numa votação secreta, com placar de 293 votos a favor e 192 contra. O mesmo crime que foi reconhecido como existente pelo atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em entrevista à revista Veja, na edição do dia 20 de fevereiro de 2008. O mesmo crime que deu causa à condenação de 25 réus por um plenário do STF onde oito dos onze magistrados foram indicados pelo PT. O Mensalão é o mesmo tipo de crime que os petistas, em uníssono, acusam ter ocorrido anteriormente em Minas Gerais, num governo tucano (o processo está no STF aguardando decisão sobre onde deve ser julgado).

O Mensalão é, também, por fim, aquele crime que as mesmas legiões de petistas, em misto de exaltação cívica e amnésia seletiva, punhos erguidos ao vento, afirmam, agora, que simplesmente não existiu! Gerou uma hecatombe interna, mas não existiu. A gente compreende. É a causa. Ela sempre está em primeiro lugar. Ela ocupa o centro de um altar onde tudo se sacrifica - a verdade, a história, a lógica, o amor próprio. É o velho tema dos fins e dos meios, que todo mundo conhece. Uns cospem fora. Outros engolem sem nenhuma dificuldade.

Durante muitos anos, a disciplina da base do governo vinha sendo mantida com a liberação de emendas parlamentares. Era um mecanismo que funcionava em três tempos: 1º) o congressista apresentava propostas pessoais ao Orçamento da União, dentro de um limite que neste ano ficou em R$ 15 milhões para cada um, destinando os recursos para demandas de suas bases eleitorais; 2º) o Congresso aprovava o Orçamento; 3º) as emendas só eram liberadas, gradualmente, ao longo do exercício, segundo o bom comportamento do seu autor nas votações de interesse do governo. Nesse caso, para que o Mensalão? Ora, o Mensalão foi um adicional, um "por fora", agregado a algumas bancadas, ou a parte delas, para - digamos assim - aumentar o entusiasmo da adesão dos deputados ao governo petista. Congressista feliz com o governo faz o governo feliz.

Tivessem os líderes dos partidos beneficiados com os repasses do Mensalão revelado os nomes dos colegas recebedores, haveria, certamente, mais de uma centena de réus no processo. Os líderes, no entanto, suportaram sozinhos os ônus do criminoso papel desempenhado. Roberto Jefferson, líder do PTB, indagado sobre quem recebera os valores que lhe foram entregues, respondeu que isso ele não revelaria nem amarrado num toco levando chicotada.

E agora? O Congresso Nacional aprovou, há poucos dias, um projeto que torna obrigatória a liberação das emendas apresentadas pelos congressistas, com a condição de que sejam destinadas à saúde pública. É um avanço. Acabou a chantagem do governo sobre os parlamentares através da liberação ou não dos recursos correspondentes às emendas que apresentam. E acabou também o Mensalão, porque dá cadeia. Como fica, então, a negociação do governo com sua base, na ausência de moeda de troca? Como assegurar-se a fidelidade de uma base habituada a negociar periodicamente seu apoio ao governo?

A política nacional desceu a um nível baixíssimo. O presidencialismo multipartidário de cooptação impõe seus rasteiros estratagemas de governabilidade: apoio é coisa que se compra. De momento, o governo tem apenas cargos para oferecer. Isso não basta, os cargos já estão ocupados e não assegura maioria para todas as votações em que sua base deve permanecer unida. Que será que vem por aí? O sistema ficou manietado!
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* Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Unanimidade burra

Nunca gostei de chamar a atenção nem de falar em público... menos ainda de tocar as duas ou três músicas que sei ao violão - das quais não consigo mesmo me lembrar das letras.
Enfim, constato novamente que nasci mesmo desprovido de qualquer carisma, esse dom que se concedido ao cabra errado transforma charlatães em gurus, picaretas em intelectuais, analfabetos em colunistas do New York Times.

Evidente que para um psicólogo ou sociólogo progressista o diagnóstico seria diferente e as declarações acima, filtradas pelo crivo do politicamente correto e da novilíngua engajada definiriam-me como reacionário pequeno burguês, racista, preconceituoso, fascista, etc. etc. etc., seja lá o que isso signifique.
Qual explicação qual nada... palavras-gatilho são o novo moedor de consciências e o inibidor de sinapses mais efetivo que existe transformando idiotas úteis em linchadores e juizes de crimes de opinião. Junte-se a isso os artigos dos pseudo-intelectuais (os intelequituais de quem o Millôr tirava sarro) que dizem explicar, mas ao contrário, só usam e abusam da erística (quando muito) para impor seus sofismas. Como argumento de autoridade citarão Singer, Safatle, Chaui e até Frei Betto. Todos pensadores de uma nota só, ou virão com um desses artigos pinçados de algum AIE na imprensa ou blogosfera oficiosa, idônea e "livre como um táxi". A geometria Euclidiana nas mãos desses think tanks ideológicos só teria negado o postulado das paralelas se atendesse ao partido. Caso fossem o padre jesuíta Girolamo Saccheri (1667-1733), certamente teriam queimado o resultado frustrado da prova por negação ou redução ao absurdo do quinto postulado de Euclides e estaríamos até hoje sem as geometrias Riemanniana ou de Lobachevski. E Einstein teria penado um pouco mais pra explicar a relatividade sem elas. Relatividade, que não por acaso - mas no sentido pejorativo - tornou-se o mantra para validar qualquer descalabro à luz da causa. É a zorra...
A militância é tão extensa que hoje o linchamento de qualquer opinião que não se alinhe ao status quo é norma e fato. Sequestraram a bondade e tornaram-se os guardiões do que é certo ou errado.

Do blog do Briguet trago referência a dois tipos dessa trupe iluminada no passado:
Goebbels disse: “Aqui eu decido quem é e quem não é judeu”.
Beria disse: “Aqui eu decido quem é e quem não é inimigo do povo”.

Hannah Arendt sabia bem onde terminariam arroubos como esses e dizia: "O revolucionário mais radical se torna um conservador no dia seguinte à revolução."

(...)

Com isso me lembro imediatamente da frase de um amigo: "quando me vejo me acho uma b... Mas quando me comparo..."

(...)

Continuo me achando um m... E sei que a cultura anda escondida por ai, dispersa em livros e livros aos borbotões, acima e abaixo do óbvio propalado oficialmente como tal. De quando em vez me atrevo a escavar e ler algo relevante... ainda.
No entanto, a preguiça me compele no mais das vezes ao voyeurismo, puro masoquismo, como ver a TV Câmara ou TV Senado na época em que não tinha TV a cabo.
Ai, por vezes sou acometido de súbita ira e vontade lancinante de esculhambar com algumas tolices e paralogismos que leio das redes.
Mas (in)felizmente passa minutos depois. Lobão (logo ele) me ensinou que isso seria o mesmo que jogar xadrez com pombo. E francamente, ando sem a menor paciência de falar com malucos.