terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Decifra-me ou devoro-te

Para fechar o mês sugestão de alguns textos que recomendo a leitura, caso você tenha culhão para enfrentar o patrulhamento ideológico e refletir de "peito aberto" sobre os temas abordados.
Como diria o Millôr, a Internet e o Google são o conhecimento prêt-à-porter, portanto, seja homem (ou mulher) e encare o desafio. Conteste o autor... se puder.
(...)
Eu que também leio o Emir, o Quartim e até o Leonardo Boff garanto: nenhum desses consegue soletrar 'Caraguatatuba' perto do Reinaldo. A distância é um abismo intelectual irremediável, sem esperanças. Além do mais, esses fugiram das aulas de lógica elementar e se entrincheiraram no paralogismo ideológico, essa vertente de pseudo-conhecimento que relativiza tudo e todos sob o crivo das utopias (ou da picaretagem intelectual deslavada) que Emir chama enigmaticamente (como quase tudo o que ele fala) de “o outro mundo possível”.
Emir cometeu também ato falho ao dizer  que "para alguns movimentos sociais e para as ONGS, o Estado expropriaria a possibilidade das pessoas de fazerem politica, estatizando-a. Ele teria um potencial inerentemente antidemocrático.
Exatamente!!! Já aconteceu há tempos... Os chamados "movimentos sociais", a maioria das ONGs, os sindicatos, todos pelegos, aparelhados, parte do chamado 'imperativo categórico' de Gramsci. Já não representam a sociedade civil, esta mais interessada na lida diária da sobrevivência e ainda obrigada a pagar mais de 35% em impostos mais a previdência privada, a escola dos filhos, uma das gasolinas mais caras do mundo, etc.etc.etc. É só empulhação.
Mas em meio à pseudo análise política sob a batuta de suas cátedras, Emir dá de novo com a língua nos dentes, embora, como de praxe, culpe os insurretos: "Os setores de esquerda que não querem Estado são incoerentes. Ou não querem construir o “o outro mundo possível” e ficar sempre na resistência, ou não dizem como se garantiriam direitos, sem o Estado, como se regulamentaria a circulação do capital financeiro, sem o Estado, como se resistiria às privatizações, sem o Estado, como se democratizaria a formação da opinião pública, sem o Estado." 
Outra sequência de paradoxos já que o Governo segue o modelo de privatização dos aeroportos além de "Obrigada a tolerar os feudos políticos dos partidos de coalizão, presidente quer acelerar adoção de modelo empresarial para a máquina federal" e emprega Gerdau como consultor da ministrada incompetente. 
O tal modelo empresarial e o choque de gestão tão criticados pelos esquerdopatas quando oposição agora vão virando mantra do capitalismo de estado petista. 
Mas nada é pior que "... democratizaria a formação da opinião pública". WHAT THE HELL IS THIS??? Democratizar a formação de opinião??? 
Ato falho de novo, já que democratizar aqui significa o que Carvalho soltou no FSM em POA: eles querem o estado produzindo “informação” para a classe C via mídia estatal fazendo disputa ideológica descarada com quem quer que noticie algo em contrário. É nada mais que o miniver de Orwell.

Sem palavras. Formação de opinião não se democratiza, ao contrário, é fruto das democracias que respeitam o estado de direito e a liberdade de imprensa, a divergência de opiniões, sem censura.

Isso sim é democratizar a formação de opinião: dê-me a opção de ver, ouvir e ler tudo. Do resto cuido EU. Afinal, formação de opinião é ato individual. Caso seja coletivo é mera disseminação ideológica e manipulação das massas por grupos de poder.

(...)

Ah, eu leio o Emir, o Quartim e até Leonardo Boff sim. Tenho esses arroubos de masoquismo tanto quanto assistir à TV Câmara, TV Senado e à TV Justiça de vez em quando. Só não li nem lerei o 'Brejal dos Guajas' ou 'Tempos de Planície'. Muito menos voltarei ao Conversa Afinada depois de ver a entrevista do PH na TV Câmara. Tétrica. Ai já seria insanidade ou suicídio intelectual.

(...)

Dêem uma olhada. Todos os textos abaixo são do Reinaldo Azevedo. ISSO MESMO!
Gramsci, o parasita  do amarelão ideológico  de 2007.
As ONGs do fim do mundo  de 2008.
Capitão Nascimento bate no Bonde do Foucault  de 2007.
Que falta faz um Voltaire de 2008.
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Imagem: esfinge de Gizé e pirâmide de Quéfren

sábado, 28 de janeiro de 2012

Realidade Indigesta


Brasileiros pagaram valor recorde de impostos e contribuições em 2011


Arrecadação federal somou R$ 969,9 bi no ano passado, alta real de 10,1% em relação a 2010


27 de janeiro de 2012 | 9h 53
Notícia : Adriana Fernandes e Célia Froufe, da Agência Estado
A arrecadação do ano passado registrou uma alta real de 10,10% em relação ao ano anterior. O crescimento ficou abaixo da projeção feita pelo Fisco para 2011, que era um intervalo de alta entre 11,00% e 11,50%.BRASÍLIA - Os brasileiros pagaram uma quantia recorde de impostos e contribuições no ano passado. Segundo dados divulgados nesta sexta-feira, 27, pela Receita Federal, a arrecadação federal somou R$ 969,907 bilhões no ano passado. O volume representou um crescimento de R$ 143,388 bilhões em relação ao verificado em 2010, que já havia sido o maior da história até então, quando totalizou R$ 897,988 bilhões.
Especificamente em relação a dezembro do ano passado, a arrecadação somou R$ 96,632 bilhões, o que significa uma queda real de 2,69% na comparação com o mesmo mês de 2010, mas uma alta de 21,76% na comparação com novembro.
Esta foi a única queda mensal ao longo de todo 2011. Dezembro também foi o único a não registrar um volume recorde para o mês em questão. O resultado foi influenciado negativamente pelo crescimento no valor de compensações efetuadas naquele mês, quando comparadas com idêntico período de 2010.
Por outro lado, o saldo de dezembro de 2011 contou com arrecadação extraordinária de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e de Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) provenientes do setor financeiro. A Receita também contou com depósitos judiciais no valor de R$ 1,925 bilhão.
Maior lucratividade das empresas impulsiona resultado
A arrecadação do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL) - dois tributos que incidem sobre o lucro das empresas - apresentou, em 2011, uma alta real de 12,82%, informou a Receita Federal. No ano passado a arrecadação de ambos somou R$ 166,63 bilhões.
Segundo a Receita, esse crescimento ocorreu em função da maior lucratividade das empresas, verificada no último trimestre de 2010 e no primeiro semestre de 2011. Além disso, a Vale pagou R$ 5,8 bilhões de CSLL, em 2011, em razão do encerramento de questionamento na esfera judicial.
Já a arrecadação da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) apresentou um desempenho mais modesto. Uma alta real de 6,18%. Esse imposto é considerado um termômetro da atividade econômica e teve um desempenho mais tímido em relação a outros tributos cobrados pela Receita Federal.
A arrecadação do PIS-PASEP apresentou uma queda de 2,93% e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), tributo que o governo fez mudanças de alíquota ao longo ano, apresentou crescimento de 12,14%.
Aumento do IPI mexe com a arrecadação
O aumento de 30 pontos porcentuais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre veículos importados, que entrou em vigor em dezembro do ano passado, foi apontado como um dos principais motivos para a forte queda do recolhimento desse tributo no último mês de 2011.
A arrecadação do IPI caiu 18,35% em dezembro do ano passado na comparação com o mesmo mês do ano anterior. No último mês de 2010, o recolhimento de IPI foi de R$ 3,313 bilhões e, no mês passado, a arrecadação foi de R$ 2,705 bilhões.
Apesar de ter entrado em vigor apenas em dezembro de 2011, o anúncio de que haveria aumento do imposto incidente sobre automóveis estrangeiros foi feito três meses antes, o que provocou uma antecipação de consumo, na avaliação do secretário da Receita Federal, Carlos Barreto. "Houve uma movimentação de antecipação de saídas das fábricas, em outubro e novembro, para evitar pegar já as alíquotas novas", disse o secretário. "Isso tem efeito nas saídas futuras. Em dezembro, ficaram bem menores as saídas da fábrica para o consumo", continuou.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012 7:07

Brasil amarga pior retorno dos impostos

Soraia Abreu Pedrozo
do Diário do Grande ABC


O Brasil ocupa a última colocação de um ranking com 30 países que mensura o retorno do pagamento de impostos em benefícios à população, como segurança, Educação e Saúde públicas. Em outras palavras, todos os recursos arrecadados com os tributos, que no ano passado somaram R$ 1,5 trilhão, de acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, estão tendo outro destino, que não o bem-estar social.

Levantamento do IBPT mostra que a Austrália é a líder do ranking, com carga tributária que equivale a 25,9% do Produto Interno Bruto, ou seja, de todas as riquezas produzidas naquele país. Os Estados Unidos estão na segunda colocação (eles têm a menor carga do ranking, 24,8%) e a Coréia do Sul, na terceira (carga de 25,1%).
Segundo o presidente do IBPT, João Eloi Olenike, na Austrália não se paga pedágio, por exemplo. "Esses gastos estão embutidos nos impostos, assim como os desembolsos com Saúde e Educação de qualidade. Lá, os índices de roubos são baixos, o que dispensa o investimento em segurança, como aqui, que em muitas ruas os proprietários são obrigados a montar guaritas e a pagar guardas para se proteger."
Para se ter ideia de valores, a arrecadação de impostos na líder Austrália é de R$ 577,5 bilhões, o equivalente a 25,9% de seu PIB de R$ 2,23 trilhões. Já no lanterninha Brasil, a arrecadação de R$ 1,5 trilhão corresponde a 35,13% do PIB de R$ 3,6 trilhões. Ou seja, temos disponíveis para serem investidos muito mais do que os australianos. E, o retorno, é muito menor.
"Aí é que está a questão. O problema nem é tanto o quanto se investe, mas como se investe. No Brasil, somam-se dois problemas, pois além de uma parte muito pequena da arrecadação ser revertida para a sociedade, os nossos serviços têm qualidade muito ruim, há muito desperdício de investimentos", diz o economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Solimeo.
PARA ONDE VAI - O maior problema é que mais de 70% da trilhonária arrecadação de impostos brasileira vão direto para a manutenção dos gastos correntes do governo, aponta Olenike. "Aqui, em um gabinete público, por exemplo, são necessários 20 funcionários, enquanto que para fazer a mesma coisa na Austrália, precisa-se de apenas quatro pessoas. A folha de pagamento no País é muito grande."
Além disso, há expressivas despesas com juros da dívida pública, deficit da Previdência Social, desvios da corrupção. "Sobram apenas em torno de 7% para investir em infraestrutura, por exemplo", diz Olenike.
Por isso os especialistas orientam que os cidadãos cobrem os parlamentares em quem votaram, para exigir retorno maior. "É preciso mudar essa cultura, na qual o contribuinte não pede nota fiscal nos estabelecimentos porque tem medo de ser fiscalizado."
País está atrás dos vizinhos Argentina e Uruguai no ranking
A situação do Brasil no ranking que mensura o quanto os países devolvem aos contribuintes em serviços públicos, a partir do pagamento de tributos, é tão crítica que ele fica atrás dos vizinhos Argentina e Uruguai, na 16ª e 13ª posições, respectivamente. Apesar de ter a sexta maior economia do mundo, de acordo com o tamanho do PIB, o País ainda engatinha na oferta de qualidade de vida.
Tanto na Argentina como no Uruguai vive-se melhor e paga-se menos impostos. De acordo com o estudo do IBPT, os portenhos têm carga tributária de 29% do PIB e Índice de Desenvolvimento Humano de 0,797 (quanto maior, melhor - a Austrália, por exemplo, tem 0,929). Os uruguaios, carga de 27,18% e IDH de 0,783. Os brasileiros, carga de 35,13% e IDH de 0,718.
E ter alta arrecadação de impostos não é o maior dos problemas, a questão está em como investir esse dinheiro. Países como Noruega, Suécia e França detêm cargas em torno de 43% do PIB, mas estão melhor posicionadas no ranking do que o Brasil.
Acesse o link do Estudo sobre Carga Tributária/ PIB x IDH - Cálculo de IRBES do IBPT para detalhes.

Vale Tudo

Imagine a cena: alguém fazendo crossdressing (What the hell is this? É só uma DRAG - "Dressed As a Girl" - vestida de maneira menos espalhafatosa) decide utilizar o banheiro feminino numa pizzaria.
No Brasil, diferentemente da Suécia ou do Reino Unido, não há banheiros coletivos unissex (tirando os banheiros químicos, aquelas cabines azuis de fibra utilizadas nos shows em espaços públicos), e embora o conceito de 'gênero' ou 'identidade de gênero' sirva mais para confundir que para esclarecer - coisa de antropólogo e sociólogo -, ser masculino e feminino, por enquanto, só na música do Pepeu. Pelo menos enquanto a definição de masculino e feminino nos banheiros estiver associada ao de sexo e este por último e por enquanto (tirem os sociólogos e "engajados" da sala) significar a diferença entre os órgãos sexuais (ou genitálias) e os gametas diferentes produzidos por estes (o órgão ou indivíduo que produz o gameta de maiores dimensões - o ovócito secundário - tem a denominação de fêmea ou feminino, enquanto o que produz o gameta menor, normalmente móvel, é chamado macho ou masculino); mais que os machos apresentam um cromossomo X e um Y, enquanto as fêmeas têm dois cromossomos X (XX).
Claro, há outro conceito para bagunçar um pouco mais o já confuso o suficiente : 'papel social de gênero'. Esse último, um conjunto de comportamentos associados com masculinidade e feminilidade em um grupo ou sistema social. Todas as sociedades conhecidas possuem um sistema sexo/gênero, ainda que os componentes e funcionamento deste sistema varie de sociedade para sociedade.
Pois bem. Eis que o cara se veste de mulher, entra num banheiro feminino onde uma mãe está com a filha de dez anos e o reconhece, por tratar-se de famoso cartunista da Folha, fica indignada - já que para ela o cabra é só um homem vestido de mulher - e reclama com o dono do estabelecimento. Além do fato dele/dela ser um trubufu tremendo em ambos os gêneros, a confusão piora quando o ambíguo justifica-se como alguém "com dupla cidadania" e recebe da coordenadora estadual (SP) de políticas para a diversidade sexual, Heloísa Alves, o aviso de que pode reinvidicar seus direitos. Segundo ela, a casa feriu a lei estadual 10.948/2001 ao não permitir que o "hermafrodita" usasse novamente o banheiro feminino.
Eis a lei:
Lei Nº 10.948, de 5 de novembro de 2001
(Projeto de lei nº 667/2000, do deputado Renato Simões - PT)
05/11/2001
Veja a ementa
Publicação: Diário Oficial v.111, n.209, 06/11/2001
Gestão: Geraldo Alckmin
Revogação:
Alteração:
Retificação:
Órgão:
Categoria: Direitos Humanos e Cidadania
Termos Descritores:
DIREITOS DO CIDADÃO;
Dispõe sobre as penalidades a serem aplicadas à prática de discriminação em razão de orientação sexual e dá outras providências.
O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:
Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei:
Artigo 1º - Será punida, nos termos desta lei, toda manifestação atentatória ou discriminatória praticada contra cidadão homossexual, bissexual ou transgênero.
Artigo 2º - Consideram-se atos atentatórios e discriminatórios dos direitos individuais e coletivos dos cidadãos homossexuais, bissexuais ou transgêneros, para os efeitos desta lei:
I - praticar qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética, filosófica ou psicológica;
II - proibir o ingresso ou permanência em qualquer ambiente ou estabelecimento público ou privado, aberto ao público;
III - praticar atendimento selecionado que não esteja devidamente determinado em lei;
IV - preterir, sobretaxar ou impedir a hospedagem em hotéis, motéis, pensões ou similares;
V - preterir, sobretaxar ou impedir a locação, compra, aquisição, arrendamento ou empréstimo de bens móveis ou imóveis de qualquer finalidade;
VI - praticar o empregador, ou seu preposto, atos de demissão direta ou indireta, em função da orientação sexual do empregado;
VII - inibir ou proibir a admissão ou o acesso profissional em qualquer estabelecimento público ou privado em função da orientação sexual do profissional;
VIII - proibir a livre expressão e manifestação de afetividade, sendo estas expressões e manifestações permitidas aos demais cidadãos.
Artigo 3º - São passíveis de punição o cidadão, inclusive os detentores de função pública, civil ou militar, e toda organização social ou empresa, com ou sem fins lucrativos, de caráter privado ou público, instaladas neste Estado, que intentarem contra o que dispõe esta lei.
Artigo 4º - A prática dos atos discriminatórios a que se refere esta lei será apurada em processo administrativo, que terá início mediante:
I - reclamação do ofendido;
II - ato ou ofício de autoridade competente;
III - comunicado de organizações não-governamentais de defesa da cidadania e direitos humanos.
Artigo 5º - O cidadão homossexual, bissexual ou transgênero que for vítima dos atos discriminatórios poderá apresentar sua denúncia pessoalmente ou por carta, telegrama, telex, via Internet ou fac-símile ao órgão estadual competente e/ou a organizações não-governamentais de defesa da cidadania e direitos humanos.
§ 1º - A denúncia deverá ser fundamentada por meio da descrição do fato ou ato discriminatório, seguida da identificação de quem faz a denúncia, garantindo-se, na forma da lei, o sigilo do denunciante.
§ 2º - Recebida a denúncia, competirá à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania promover a instauração do processo administrativo devido para apuração e imposição das penalidades cabíveis.
Artigo 6º - As penalidades aplicáveis aos que praticarem atos de discriminação ou qualquer outro ato atentatório aos direitos e garantias fundamentais da pessoa humana serão as seguintes:
I - advertência;
II - multa de 1000 (um mil) UFESPs - Unidades Fiscais do Estado de São Paulo;
III - multa de 3000 (três mil) UFESPs - Unidades Fiscais do Estado de São Paulo, em caso de reincidência;
IV - suspensão da licença estadual para funcionamento por 30 (trinta) dias;
V - cassação da licença estadual para funcionamento.
§ 1º - As penas mencionadas nos incisos II a V deste artigo não se aplicam aos órgãos e empresas públicas, cujos responsáveis serão punidos na forma do Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado - Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968.
§ 2º - Os valores das multas poderão ser elevados em até 10 (dez) vezes quando for verificado que, em razão do porte do estabelecimento, resultarão inócuas.
§ 3º - Quando for imposta a pena prevista no inciso V supra, deverá ser comunicada a autoridade responsável pela emissão da licença, que providenciará a sua cassação, comunicando-se, igualmente, a autoridade municipal para eventuais providências no âmbito de sua competência.
Artigo 7º - Aos servidores públicos que, no exercício de suas funções e/ou em repartição pública, por ação ou omissão, deixarem de cumprir os dispositivos da presente lei, serão aplicadas as penalidades cabíveis nos termos do Estatuto dos Funcionários Públicos.
Artigo 8º - O Poder Público disponibilizará cópias desta lei para que sejam afixadas nos estabelecimentos e em locais de fácil leitura pelo público em geral.
Artigo 9º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Palácio dos Bandeirantes, 5 de novembro de 2001
GERALDO ALCKMIN
Edson Luiz Vismona
Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania
João Caramez
Secretário-Chefe da Casa Civil
Antonio Angarita
Secretário do Governo e Gestão Estratégica
Publicada na Assessoria Técnico-Legislativa, aos 5 de novembro de 2001


Não sou advogado mas não há nada ai que de fato dê ao cartunista masculino/feminino realmente o direito de reclamar de discriminação. Vamos lá: masculino refere-se ao sexo masculino, e como exposto mais acima, alguém com um pênis, produtor de espermatozóide e com cromossomos XY. Ora, o cabra se encaixa nessa categoria. Enquanto não chega o dia em que teremos uma lei que cobrirá em minúcias todas as nuances de 'gênero', 'identidade de gênero' e 'papel social de gênero', cobrar do dono da pizzaria a sapiência esquerdista de identificar as diferenças é só exagero e culto a factóide para marketing gratuito na mídia.

Eu nada tenho contra (nem a favor) o cara se vestir de mulher, de abóbora, de maçaneta ou de hamburger. Mas essa babaquice de requerer direitos por toda e qualquer bobagem usando a palavra mágica 'discriminação' combinada com outra, qual seja, 'criminalização', já virou um circo de horrores. A continuar assim chegará o dia em que tudo será discriminação: preconceituoso quem reclama dos peidorreiros de elevador, preconceituosos os que fazem chacota dos baixos, ou dos altos, ou dos magros, ou dos gordos, ou dos zarolhos, ou dos bonitos, ou dos feios, ou dos burros, ou dos petistas... 
Pra quê o Artigo 5º da constituição ou o Artigo 240º do código penal?
Além do mais, se a moça tinha "dupla cidadania", poderia usar sem temor o banheiro que "estivesse mais a mão", não? Que diferença faz? 
O resto foi só "forçar a barra para causar..." 
Depois não querem que usemos o adjetivo viadagem. Mas permanece ainda o que melhor se encaixa nessa bizarrice.
(...)
Meu Senhor... é o fundo do poço da pobreza intelectual.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Mais uma do Villa

O incômodo silêncio da oposição - MARCO ANTONIO VILLA


O GLOBO - 24/01/12



O silêncio da oposição incomoda. Desde 1945 - incluindo o período do regime militar - nunca tivemos uma oposição tão minúscula e inoperante. Vivemos numa grande Coreia do Norte com louvações cotidianas à dirigente máxima do país e em clima de unanimidade ditatorial. A oposição desapareceu do mapa. E o seu principal partido, o PSDB, resolveu inventar uma nova forma de fazer política: a oposição invisível.

A fragilidade da ação oposicionista não pode ser atribuída à excelência da gestão governamental. Muito pelo contrário. O país encerrou o ano com a inflação em alta, a queda do crescimento econômico, o aprofundamento do perfil neocolonial das nossas exportações e com todas as obras do PAC atrasadas. E pior: o governo ficou marcado por graves acusações de corrupção que envolveram mais de meia dúzia de ministros. Falando em ministros, estes formaram uma das piores equipes da história do Brasil. A quase totalidade se destacou, infelizmente, pela incompetência e desconhecimento das suas atribuições ministeriais.

Mesmo assim, a oposição se manteve omissa. No Congresso Nacional, excetuando meia dúzia de vozes, o que se viu foi o absoluto silêncio. Deu até a impressão que as denúncias de corrupção incomodaram os próceres da oposição, que estavam mais preocupados em defender seus interesses paroquiais. Um bom (e triste) exemplo é o do presidente (sim, presidente) do PSDB, o deputado Sérgio Guerra. O principal representante do maior partido da oposição foi ao Palácio do Planalto. Numa democracia de verdade, lá seria recebido e ouvido como líder oposicionista. Mas no Brasil tudo é muito diferente. Demonstrando a pobreza ideológica que vivemos, Guerra lá compareceu como um simples parlamentar, de chapéu na mão, querendo a liberação de emendas que favoreciam suas bases eleitorais.

Em 2011 ficou a impressão que os 44 milhões de votos recebidos pelo candidato oposicionista incomodam (e muito) a direção do PSDB. Afinal, estes eleitores manifestaram seu desacordo com o projeto petista de poder, apesar de todo o rolo compressor oficial. Mas foram logrados. O partido é um caso de exotismo: tem receio do debate político. Agora proclama aos quatro ventos que a oposição que realiza é silenciosa, nos bastidores, no estilo mineiro. Nada mais falso. Basta recordar o período 1945-1964 e a ação dos mineiros Adauto Lúcio Cardoso ou Afonso Arinos, exemplos de combativos parlamentares oposicionistas.
E pior: o partido está isolado, fruto da paralisia e da recusa de realizar uma ação oposicionista. Desta forma foi se afastando dos seus aliados tradicionais. É uma estratégia suicida e que acaba fortalecendo ainda mais a base governamental, que domina amplamente o Congresso Nacional e que deve vencer, neste ano, folgadamente as eleições nas principais cidades do país.

O mais grave é que o abandono do debate leva à despolitização da política. Hoje vivemos - e a oposição é a principal responsável - o pior momento da história republicana. O governo faz o que quer. Administra - e muito mal - o país sem ter qualquer projeto a não ser a perpetuação no poder. Com as reformas realizadas na última década do século XX foram criadas as condições para o crescimento dos últimos dez anos. Mas este processo está se esgotando e os sinais são visíveis. Não temos política industrial, agrícola, científica. Nada.

Este panorama é agravado pelo sufrágio universal sem política. Temos eleições regulares a cada dois anos. Foi uma conquista. Porém, a despolitização do processo eleitoral acentuado a cada pleito é inegável. Para a maior parte dos eleitores, a eleição está virando um compromisso enfadonho. Enfadonho porque vai perdendo sentido. Para que eleição, se todos são iguais? O eleitor tem toda razão. Pois quem tem de se diferenciar são os opositores.

Ser oposição tem um custo. O parlamentar oposicionista tem de convencer o seu eleitor, por exemplo, que os recursos orçamentários não são do governo, independente de qual seja. Orçamento votado é para ser cumprido, e não servir de instrumento do Executivo para coagir o Legislativo. Quando o presidente do principal partido de oposição vai ao Palácio do Planalto pedir humildemente a liberação de um recurso orçamentário, está legitimando este processo perverso e antidemocrático - inexistente nas grandes democracias. Deveria fazer justamente o inverso: exigir, denunciar e, se necessário, mobilizar a população da sua região que seria beneficiada por este recurso. Mas aí é que mora o problema: teria de fazer política, no sentido clássico.

Já do lado do governo, qualquer ação administrativa está estreitamente vinculada à manutenção no poder. Não há qualquer preocupação com a eficiência de um projeto. A conta é sempre eleitoral, se vai dar algum dividendo político. A transposição das águas do Rio São Francisco é um exemplo. Apesar de desaconselhado pelos estudiosos, o governo fez de tudo para iniciar a obra justamente em um ano eleitoral (2010). Gastou mais de um bilhão. Um ano depois, a obra está abandonada. Ruim? Não para o petismo. A candidata oficial ganhou em todos os nove estados da região e na área por onde a obra estava sendo realizada chegou a receber, no segundo turno, 95% dos votos, coisa que nem Benito Mussolini conseguiu nos seus plebiscitos na Itália fascista.

Se continuar com esta estratégia, a oposição caminha para a extinção. O mais curioso é que tem milhões de eleitores que discordam do projeto petista. Mais uma vez o Brasil desafia a teoria política.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Durango Kid

Durango Kid, de acordo com a Wikipédia, 'foi um cowboy fictício do cinema e dos quadrinhos. Ele surgiu pela primeira vez no faroeste B de 1940 O Cavaleiro de Durango (The Durango Kid). O personagem somente seria retomado em 1945, quando a Columbia Pictures iniciou uma série que renderia sessenta e quatro filmes até 1952, todos interpretados pelo ator Charles Starrett. Ela foi relançada na televisão brasileira nos anos1960, com grande sucesso.
Durango Kid agia como Robin Hood. Vestia-se de negro e cobria o parte do rosto com um lenço da mesma cor. O nome de seu cavalo era Raider (Corisco, no Brasil; quando o personagem retomava seus trajes civis, ele era chamado de Faísca). O personagem é citado por Raul Seixas nas canções Cowboy Fora-da-Lei e Anarkilópolis.'

É também música belíssima de Toninho Horta e Fernando Brant cuja letra diz:
"Propriamente eu sou / Durango Kid / Eu vim trazer / Eu vim mostrar / Novo jornal / Novo sorriso / Novo jornal / Novo sorriso / Propriamente dizer / O só exato / Pois hoje eu sou / O que eu fui / Não desmenti / O meu passado / Este jornal / É o meu revólver / Este jornal / É o meu sorriso".

Propriamente, eu sou...


Nova Ordem II

Voltei.
Nessas férias passei pela experiência de uma rápida imersão no universo paralelo dos novos ricos, com direito à festa em mansão com o clichê do pulo na piscina (calibrado por uísque, absolut e cerveja, todavia), viagem a balneário com bônus de passeio em iate, balada em boite particular de mansão com 9 suítes e jardim japonês (não mexi um músculo, btw, ainda que bêbado - o som típico de balada nunca me persuadiu  a chacoalhar nem um osso do esqueleto), dentre outros luxos (quais sejam, quadra de tênis e heliporto, ainda em construção. PQP).

Cheguei então a algumas conclusões, mesmo que levianas.
  • Ter dinheiro parece ser um fim em si mesmo, colocando o maior detentor no topo de um gradiente de glamour e poder com direitos quase monárquicos sobre os demais, como "bem manda" o ethos de nosso tempo;
  •  As conversas devem passar necessariamente pela comparação tácita - porém numérica, ainda que falsa - de quem tem mais, via confrontação sutil das posses, viagens, gastos e excentricidades, além, claro, por questões periféricas afins como quem merece "receber o serviço de manutenção de meu iate de 58 pés" ou se você conhece A ou B ou esteve na festa de sei lá quem; isso sem falar da mulherada arrivista (sempre linda e malhada) a soldo (ou não) que orbita os astros da grana atazanando a vida das esposas, e dos gadgets eletrônicos acessados a cada minuto como se todos precisassem broadcast sua glamourosa e imprescindível realidade diária para Deus e o mundo;
  • Pessoas valem quanto pesam (em dinheiro), não quanto pensam;
  • Nós, meros mortais duros e sem onde cair mortos, somos chamados de "prendas" pelos ricaços quando levados de roldão para tais encontros, ainda que sejamos, sem dúvida, o resquício humano do grupo que ainda fala de futebol, filhos, amizade e otras cositas mas, embora menos nobres e mais fantasiosas, com certeza. "Cá estou eu ainda tentando entender qual foi a verdadeira razão para o convite e nossa presença. Talvez procurassem o elo perdido??? Ou viramos aberrações de circo??? Sei lá. Who cares???";
  • Símbolos de riqueza devem ser cuidadosamente estudados - ora, rico bebe champagne e uísque, nunca cerveja. E marcas são importantíssimas, como bem disse a ricóloga Valdirene, mais conhecida como Val (e como diria meu primo Marcão, "que b... hem?").
(...)

Sempre gostei e gosto de luxo, embora até hoje não tenha pago o preço para tê-lo.
Aliás, tirando São Francisco de Assis (e talvez a Dona Vany), nunca conheci nenhum outro humanóide que não tivesse o mesmo gosto por conforto, requinte, facilidades... É só experimentar e você será fisgado...
Nem revolucionários, nem ex-guerrilheiros, nem os estudantes chincheiros da USP, nem políticos e, muito menos, ex-pobres estão isentos.
E embora não haja nada de errado em assumir o gosto pelo luxo, poucos "intelequituais" e/ou "engajados" o fazem. Mentem, portanto.
Assim, tirem definitivamente dessa lista os citados acima. Esses só utilizam o marketing da pobreza para encher os próprios bolsos ou sanar alguma psicopatologia por já terem nascido ricos, tentando desesperadamente justificar sua existência insípida com uma causa ainda que tão verdadeira e factível quanto a existência do Caboclo D'água.
Se não é assim, você deve estar diante de um novo Francisco de Assis.

(...)

De outro lado, estive entre o resto dos mortais do interior de Minas, do qual sou também um exemplar legítimo.
Ali sim, em estado bruto, interagi com gente de verdade, comi quibebe e acarajé do Vale, angú liso (de milho verde, não de fubá), molho pardo, além de me fartar da cerveja mais gelada do mundo no Bar do Cardoso e falar abobrinhas por horas.
Da Vinci tinha razão, a simplicidade é mesmo o último grau de sofisticação.

Assim sendo, concluo que grana é bom. Iates e mansões em balneários também. Tanto quanto carrões e mulheres bonitas. Não sou estúpido. Ademais, não sou político nem militante, logo, sincero o suficiente e imune às conclusões forjadas (forçadas) sob o espectro ideológico. Imune o suficiente também ao teatro político e às distopias para dizer o que sinto, o que penso, sem receio de patrulhamento.
Porém, quando tiver a minha mansão, a festa na boite terá Gentle Giant, Jethro Tull, Yes, Genesis, Led, Stones, Rappa, Milton, Chico, Pixinguinha, Nelson Cavaquinho... como trilha sonora. Nada de techno, música eletrônica ou DJs com nomes escrotos simulando aquela parafernália eletrônica de botões como se estivessem a tocar um prelúdio ou fuga de Bach no cravo. Menos ainda algo da famigerada preferência nacional por sertanejo ou axé.
Haverá sim é muita cerveja gelada, daqui e da Bélgica... ou da Inglaterra, Hungria, Vietnã, Japão, Índia, Minas... Tudo regado a acarajé de milho do Vale, molho pardo, quibebe, arroz com pequi e o mais que der na telha. Tirando o que vai tocar no equipamento de som, tudo o mais será permitido: você pode até trazer o uísque 18 anos que/se quiser, a Veuve Clicquot, o vinho mais caro, ou o chapinha mesmo, a pinga ou o foi gras... whatever you want. E eu com isso???

Espere um pouco: tudo permitido não! Me falem do galo, do cruzeiro (nem tanto), de fórmula 1, de amenidades... do diabo que o parta. Só não me perguntem a marca do avião ou da lancha e nem me fale da Amnesia ou do "We love Sundays" em Ibiza. E nem se atreva a citar Chanel, Gucci, Louis Vuitton, Lanvin ou Rodeo Drive.
Ahhh... e detalhe: "prenda" é a PQP!!!
Quero ver é se além de ganhar dinheiro as Valdirenes leram mais que revistas náuticas ou livros sobre pompoarismo e sabem que Razumikhin era amigo do protagonista Raskólnikov, da novela russa 'Crime e Castigo' de Dostoiévski.
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Fonte da imagem: curiosocorreiocoruja.blogspot.com
Nova Ordem I

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Vazando água

Que esse "governo de coalizão" emPeTizado pelo mensalão do Zé e squid é imoral, ilegal e engorda (principalmente a horda de "cumpanheros" que vampirizam o Estado) é coisa que qualquer pessoa cuja sinapse não esteja comprometida pode ver, ainda que só tenha dois neurônios. A única forma de sentar em cima de tudo ou acreditar na supersimplificação seja lá de qual descalabro como sendo apenas mais um golpe da mídia, preconceito, racismo, whatsoever, só sendo beneficiário ou membro da famiglia, mamando receitas para projetos superfaturados (e na maioria nunca realizados) de ONG's, ganhando e superfaturando contratos com estatais ou sendo benemérito remido de dívidas do BNDES.
Mas não precisam acreditar em mim, que nunca gostei mesmo de lulas. Leiam a Dora Kramer no Estadão.


Loteamento irregular

05 de janeiro de 2012 | 3h 08


DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
A ordem da presidente Dilma Rousseff para que sejam adotados critérios técnicos na distribuição de recursos para prevenção e combate a enchentes nos Estados é um gesto alentador.
Traduz atenção e conexão com o que se passa no País, ainda que a chefe de Estado esteja em férias, além de marcar positivamente mais uma distinção comparativa com o governo antecessor, que preferia ignorar ou brigar com as más notícias.
Dilma reagiu à revelação, feita pelo Estado, de que 90% das verbas de prevenção e combate a enchentes do Ministério da Integração Nacional foram destinadas para Pernambuco - onde o ministro Fernando Bezerra será candidato a governador.
Desalentador, porém, é o fato de que a ação da presidente tenha caráter meramente simbólico, uma vez que a determinação para que as liberações passem a ser feitas sob o crivo da Casa Civil não anula a prática da influência política.
A força do governador Eduardo Campos, como aliado de primeira linha, junto ao Palácio do Planalto, não será por isso minimamente abalada e, portanto, o potencial de desequilíbrio no tratamento dado a este ou àquele Estado permanece inalterado na prática. Tanto que, segundo o ministro, a liberação foi devidamente discutida da Casa Civil e no Planejamento, com o conhecimento da presidente.
Além disso, só a necessidade de existir uma ordem expressa da presidente para que sejam observados critérios técnicos na distribuição de recursos já diz quase tudo sobre a distorção do modelo de coalizão governamental em vigor.
A rigor, os protocolos administrativos servem para serem seguidos como regra geral e não para que o administrador seja lembrado de que não podem ser exceção e chamado às pressas das férias para dar explicações a respeito.
Nada contra o socorro a Pernambuco ou a qualquer outro Estado necessitado, mas a concentração de verbas configura um evidente privilégio e é a expressão material do sistema de loteamento que transforma o ministério em extensão dos partidos.

Vida que segue. Eles perdem os anéis, mas conservam os dedos em perfeito estado. Dos seis ministros obrigados a deixar os cargos por ação ou omissão em algum tipo de atividade suspeita, cinco tocam a vida sem enfrentar qualquer consequência.
Antônio Palocci (Casa Civil) voltou às consultorias e à atividade de bastidor no PT. Pedro Novais (Turismo) é deputado federal, Alfredo Nascimento (Transportes) é senador, Orlando Silva (Esportes) é candidato a vereador e Carlos Lupi comanda a máquina do PDT.
O único com contas a prestar é Wagner Rossi (Agricultura), indiciado pela Polícia Federal em inquérito sobre fraude em convênio com a PUC.

Não sobra um. Dos partidos governistas com assento no Ministério, só o PSB até agora não tinha sido pego na curva dos desvios.
Com o gentil patrocínio do pernambucano Fernando Bezerra, titular do Ministério da Integração Nacional, na concessão de 90% das verbas contra enchentes para o Estado no qual se candidata a governador, o partido de Eduardo Campos entra na roda e fecha o círculo.
Nenhuma legenda da coalizão saiu ilesa no primeiro ano de governo, mas nem por isso deixarão de compartilhar o poder nos próximos três anos.

Mão de obra. Uma grande e urgente contribuição do setor privado de serviços ao pacote de medidas para estimular a vinda, e facilitar a vida, dos turistas estrangeiros que o governo vai laar em breve seria o investimento pesado no treinamento de mão de obra.
Aí incluídos atendentes de lojas, restaurantes, aeroportos, taxistas etc. E não é só o idioma. É, sobretudo, o padrão de comportamento, a maneira leniente e pouco profissional no trato com a clientela.
Com gente displicente e desqualificada não se pode nem pensar em receber bem a quantidade de visitantes esperados para a Copa e a Olimpíada.
Isso sem falar nos preços escorchantes cobrados no Brasil.
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Imagem: Dilma Queixas.jpg do blogdozeca100.blogspot.com

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Barragem das Almas - Cap. I

Era estranho aparecer subitamente naquele lugar. Lembrava-se vagamente do carro, da viagem, mas de resto, a mesma pergunta a martelar sua memória: como viera parar na Barragem das Almas?
Notou com estranheza pessoas e línguas que não faziam sentido ali, embora pudesse entendê-las todas. Nunca estudara francês, ou inglês, ou tcheco ou húngaro, e ainda que não pudesse identificar separadamente cada uma, causava-lhe perplexidade e satisfação como as compreendia todas, agora. Não eram sua língua materna, todavia.

Alguém trajando a indumentária do Exército Real Francês do Século XIX conversava efusivamente com um bonachão careca a soltar baforadas preguiçosas de seu charuto. A gravata borboleta e o chapéu Bowler pendendo da mão esquerda carregavam-lhe ainda mais a fachada de fastio.
Duvidou tratar-se de Napoleão a insultar Winston Churchill em francês, cuja reação lembrava mais uma criança a divertir-se com bolhas de sabão, embora no caso desse fossem mais halos de fumaça como um fog oriundo do cubano com a ponta em brasa. Seu tédio abissal com os arroubos sobre estratégia militar vindos do oponente forçara-lhe a um quase monossilábico Waterloo, perdido entre as baforadas do charuto e o descaso do olhar vago para a margem oposta do Fanado. E o francês pareceu contorcer-se sob a urticária da ira, embora Winston permanecesse impávido em seu prazer tabagista.

Subitamente junta-se à cena alguém familiar, devidamente ébrio, curvado sobre si mesmo a observar aquele parlamento estranho, ora torcendo-se para a direita ora para esquerda alternando de esguelha o olhar desconfiado para ambos os exaltados interlocutores.
Bem... exaltado só nosso Napoleão, porque Churchill lembrava mais o Francis. Aliás, Francis também podia ser visto dali, mais além, debruçado no balcão do bar da Diva balançando um snifter com um single malt escocês tirado sei lá de onde, o que provocava a conclusão de que ele, na morte, retomara o hábito alcoólico abandonado em vida. Falava então entusiasticamente para um Lourenço ainda vivo, distraído e inatingível em suas tarefas de dono de bar. O scotch deixava-o ainda mais sarcástico e falante, mesmo que estivesse agora técnica e definitivamente morto. Estaria morto?, tinha de estar. Afinal, Labiú se lembrava da morte do Francis quando parou de assistir o Manhattan Connection, insípido, só com o Caio e o Lucas.

Reconheceu num estalo o tal bêbado e era ninguém menos que Muriçoca, que depois de segundos suntando o diálogo franco-britânico proferiu seu epíteto:
- Vai tomá na sua "preura" nego véio. Papo ruim é esse? Vai tomá na sua "preura" - deixando os estranhos contendores em direção à beira do rio com uma rede de pesca.

Muriçoca?!?! Labiú perguntou a si mesmo.
Era ele mesmo, após correr a certificar-se antes de estacar pensativo na descida do barranco.
Péssimo sinal.
Não que Muriçoca fosse alguém a quem quisesse evitar, o problema era outro, o homem morrera há quase 9 anos. E se Napoleão, Churchill ou Francis já lhe haviam causado confusão e estranheza, nada se comparava ao fato de se deparar de novo com Muriçoca, alguém em cujo enterro estivera presente.
Como o último elo que o levaria a considerar o imponderável, estremeceu ao inferir o lógico e inevitável, aquele absurdo: eram almas, ele mesmo uma das muitas cujas línguas apontavam ser aquilo alguma espécie de congresso, encontro ou o último foro antes da eternidade!? Seria?
A barragem, a mesma de seus carnavais juvenis, das moças, dos moços, das Minas Novas de seus anos alegres, matinais... e um flash dolorido atravessou-lhe a cabeça, vindo então à tona o caminhão, a pedra, o pavor do acidente. Tudo acabado, em segundos.
Lembrou-se. Era mesmo aquilo. Estava morto!
Enterrou-se de súbito numa tristeza abismal, o peso da constatação da morte. Os amores, parentes, irmãos, amigos, a vida!!! Um século pareceu ter passado até que tivesse novamente força para erguer os olhos.
Mas o lugar permanecera como antes, apenas um ou outro rosto novo a chegar, ou a sair... se vivo. Juscelino, Rita Pezinho, Tiradentes, até Judas, dentre tantos outros que não conhecia.
Reconhecia vultos que vira inúmeras vezes nos livros de história, sua diletância secreta pelo estudo, pelas letras. E embora Rita Pezinho não constasse de livro algum - achava mesmo que por mera injustiça, já que como a protagonista do ditado popular que atravessara as bordas da cidade, do estado, sintetizando o sonho impossível, a fantasia de uma vida que ao fim e ao cabo nunca se concretizaria, leda "ilusão de Rita Pezinho" -, tinha ela sim sua importância histórica. Achava mesmo Rita Pezinho até mais importante que Marx, que por sinal já elucubrava para outros revolucionários de cima do barranco da chegada da casa de Zarinha de Jacú seu comício político-metafísico. Ladeado por Sartre, Althusser e Guevara, esse ainda armado até os dentes sabe-se lá pra quê, redefinia o conceito de práxis, da mais-valia ao metamundo do qual era agora mais uma alma penada. O proletariado dava lugar às almas perdidas, e a burguesia seria representada agora por Deus e seus desígnios inescrutáveis. Inescrutável também sua presença física, já que nem Cristo sabia dar conta do pai.
Mas também lá todos eles deflagariam a revolução, mais dia menos dia, libertando as almas escravas do jugo do Senhor para torná-las escravas felizes do PMCA, Partido Metafisico Comunista das Almas.
- Almas de todo o mundo, uni-vos - proferiu ao final.
Enquanto isso Gramsci apressava-se em auto encarcerar-se na sala aonde a pequena turbina importada da Alemanha na década de 40 ainda transformava hidráulica em eletricidade - afinal, para reescrever sua distopia seria necessário simular também o ambiente e o ócio do cárcere. Jacú, que passava por ali tendo dificuldade em atravessar a pequena multidão de almas para chegar em casa, soltou um "vá a merda" em voz alta depois que Che acirrou os ânimos dos mortos úteis a se juntarem à causa, já sem paciência.
- Vambora é fazer um molho pardo lá em casa. Deixá essa latomia pra esses gringo abilolados ai - concluiu.
Metade da turba se dissipou em direção à casa de Zarinha atrás dos frangos para o molho, embora a dona da casa não notasse a pequena multidão infestando todos os cômodos de sua casa, e muito menos o marido ali a seu lado, já que morto há mais de três anos. Mas algumas regras terrenas pareciam também valer ali. Não eram como fantasmas que atravessavam paredes, tinham que andar.

Dos vivos no Bar da Diva Labiú viu Renato, ladeado então por Harrison e  Lennon a dedilhar um blues numa mesa; Rey no balcão cercado por Francis, Voltaire, Russell como num simpósio satírico, e uns outros que não reconhecera de imediato.
Nenhum de seus esforços para alcançar os vivos rendeu algum sinal. Ouviu sim foi um "peace and love" seguido pelo V com a mão direita vindo de George, vestido como no Sargent Peppers. Depois de várias tentativas insanas para que Renato ou Rey lhe dissessem o que estava acontecendo, desistiu frustrado.

A confusão em sua cabeça começava a irritar-lhe. Era imperativo descobrir o que era tudo aquilo. Por que raios encontrava-se ali, e por que tantos outros de tantos lugares, tempos, a perambular agora pela Barragem das Almas? Por que não no Hide Park em Londres, ou a Bourbon Street em New Orleans? Por que em sua Minas Novas? E por que diabos estava ele ali?
Seria o lugar uma espécie de limbo? O purgatório?

Agora que o tempo deixara de ser, pelo menos assim imaginava, uma limitação à sua vida de morto, haveria de descobrir.

In the Rapids

Na correnteza (In the Rapids - Genesis)
Tradução: myself

Descendo a corredeira
John está sumindo de vista
Somente depois de passar do ponto de retorno
É que se descobre realmente como lutar

No frio, sinta o frio a cercar-lhe
E a força da correnteza
Envolver-lhe com seu som ensurdecedor

Lutando para alcançá-lo
Não consigo chegar do outro lado
Quando se está à deriva
Só há uma maneira, deixar-se levar

Levado para baixo, para baixo,
pela ressaca
Sou sugado em espiral, para o leito do rio
Minha chama está quase se apagando
Me agarro então a uma rocha
Espero até que John também passe por mim
Nos agarramos, e juntos somos levados pela força da água

Quando a correnteza perde força
E o escuro nos abraça profundamente
Não há ninguém, uma viva alma, alguém...
Ninguém sobrou
Aguente John! Estamos finalmente quase fora disso
Mas espere, algo mudou, este não é seu rosto...
É o meu - esse sou eu!