domingo, 26 de dezembro de 2010

Rasputin 60

Da Wikipédia trago o seguinte:
"Grigoriy Yefimovich Rasputin (russo: Григо́рий Ефи́мович Распу́тин), místico russo, nasceu dia 22 de janeiro de 1869 em Pokrovskoie, Tobolsk e foi assassinado no dia 29 de dezembro de 1916 aos 47 anos em Petrogrado, actual São Petersburgo. Foi uma figura influente no final do período czarista da Rússia.
Influência na corte russa
Por volta de 1905, a sua já conhecida reputação de místico introduziu-o no círculo restrito da Corte imperial russa, onde diz-se que Rasputin chega mesmo a salvar Alexei Romanov, o filho do czar, de hemofilia.
Perante este acontecimento, a czarina Alexandra Fedorovna dedicar-lhe-á uma atenção cega e uma confiança desmedida, denominando-o mesmo de "mensageiro de Deus". Com esta proteção Rasputin passa a influenciar ocultamente a Corte e principalmente a família imperial russa, colocando homens como ele no topo da hierarquia da poderosa Igreja Nacional Russa.
Todavia, o seu comportamento dissoluto, licencioso e devasso (supostas orgias e envolvimento com mulheres da alta sociedade) justificará denúncias por parte de políticos atentos à sua trajetória poluta, entre os quais se destacam Stolypine e Kokovtsov. O czar Nicolau II afasta então Rasputin, mas a czarina Alexandra mantém a sua confiança absoluta no decadente monge.
Assassinato
A Primeira Guerra Mundial trouxe novos contornos à atuação de Rasputin, já odiado pelo povo e pelos nobres, que o acusaram de espionagem ao serviço da Alemanha. Escapa à várias tentativas de aniquilamento, mas acaba por ser vítima de uma trama de parlamentares e aristocratas da grande estirpe russa, entre os quais Yussupov.
Rasputin também foi conhecido pela sua suposta e curiosa morte: primeiro ele foi envenenado num jantar, porém sua úlcera crônica fê-lo expelir todo o veneno, posteriormente teria sido fuzilado atingido por um total de onze tiros, tendo no entanto sobrevivido; foi castrado e continuou vivo, somente quando foi agredido e o atiraram inconsciente no rio Neva ele morreu, não pelos ferimentos, mas afogado (existe um relato de que, após o seu corpo ter sido recuperado, foi encontrado água nos pulmões, dando apoio à ideia de que ele ainda estava vivo quando jogado no rio parcialmente congelado."

Tenho um amigo Rasputin. O conheci por acaso, na Igreja São José em Minas Novas (única de partido octogonal conhecida no Brasil. A planta é igual à da Capela Templária de Leon, na França, do século XIII, mas utiliza soluções locais como a técnica de pau-a-pique) num show de Paulinho Pedra Azul em início de carreira. Era 1983. O show: voz, violão e alguns incensos. Ele no púlpito e nós os discípulos, assistindo sua missa.
Minha vó Auta costumava dizer - ao ouví-lo - que sua música dava-lhe vontade de voar. Talvez por isso mesmo tantas letras citando pássaros: Jardim da Fanstasia, Ave Cantadeira, Voarás...

Atrás de nós uma voz cavernosa, de uma figura sardenda, cabelo e barba vermelhos, longos e degrenhados, a dizer quase em choro a frase que o marcou na época, sempre no hiato entre o fim e o início da próxima música:
- Mata o véio... - a cada último acorde desfiado por Paulinho.

Raputin fará 60 anos em 2011. Em 2001, na festa dos 50, interceptava qualquer mulher que passasse por nós e fazia a pergunta, uma espécie de mote dos 50:
- Você já d... pra um homem de 50??? - éramos só riso.

Rasputin guarda o riso mais irônico e sincero que já ouvi. Sempre antecedido por uma de suas falas:
- Cê tá doido... - numa voz gutural, cadenciada, só dele.
Uma vez em Minas Novas desafiou o maior chincheiro da época a apresentar-lhe o melhor bagulho. A cada trago desafiava o homem a trazer algo melhor, já que aquilo era porcaria. Fumou tudo, em vista do cara não ter aceitado a ofensa e ter-lhe apresentado um cardápio de sabores variados. Voltou ao Sobrado da Tia Auta feito um parafuso, com uma larica dos infernos. Comeu duas, três vezes. Seguiu-se uma infecção intestinal que obrigou-o a fugir de volta à BH mesmo com o FESTUR em Turmalina acontecendo à toda.
Já no ônibus, que parava em Turmalina, foi ajudado pelo filho Dinho, apenas um garoto na época. Desceu do ônibus em Turmalina com a praça lotada e apresentações acontecendo no palco. Esquivou-se de todos, entrando num bar indo direto ao banheiro. Calvário que repetiria pelo cerrado do vale, por quase todo o percurso até Diamantina, sempre interpelando o motorista para que parasse todas as vezes que a situação ficava insuportável.
O papel foi um problema à parte. Na falta, utilizou todas as páginas de seu futuro livro de poesias. Diria mais tarde, com ironia e sarcasmo:
- Na falta do papel, dá-lhe poesia!!! Ficou meu livro pelo cerrado do Vale do Jequitinhonha - seguido por sua risada única, inconfundível.
Completará 60 anos.

Tusta costuma dizer que algumas pessoas são anjos. Não tenho dúvida de que Rasputin seja um. Um pouco torto??? Talvez, porém não menos anjo. Um tanto "místico, adepto das orgias?" Quem sabe? Quem se importa?
Mas as semelhanças terminariam por ai... e na aparência física, por certo.

Geraldo... Rasputin, fará 60 anos. E como o outro, espero que tenha também fôlego de gato, sete vidas. Mas diferentemente do russo, permanecerá perseguido pelos amigos, que adoram seu riso, seu humor ferino.
Viva Rasput...
"- Cê tá doido..."

A Viagem do Beagle 2 : Involução

A paisagem não é mais a mesma. Como eu, o lugar também envelheceu, e mudou. Não vejo mais as ruas da minha juventude, os rostos familiares. São outros os donos de hoje. Usam roupas estranhas, ouvem músicas insólitas em seus carros "tunados", o grave desequalizado simulando um tambor gigante, enlouquecedor. Tremem os vidros, alguns alarmes disparam. Imagino só possível a dirigibilidade com protetores de ouvido. Seria absurdo sem eles, a menos que se quisesse estourar os tímpanos.

Talvez não. Darwin e sua teoria da evolução explicariam a mudança dos tímpanos nos últimos 40 anos. São tão duros como o nitreto de boro. O que a NASA gastou anos e milhões em pesquisas meus conterrâneos obtiveram pela seleção natural. São tímpanos "tunados", compatíveis com os carros.

Já para o repertório necessitar-se-ia de algo mais elaborado. Massificação, imbecilismo. Pronto. Aptos para ouvir as rimas do funk, a poesia do breganejo, a batida dos DJs. A música de hoje é como um menu de restaurante: axé à bolonhesa, sertanejo universitário à parmegiana...
Não há o que pensar. É só por algo no som, aumentar o volume e desfilar como o arauto dos novos tempos. O próximo passo talvez seja se comunicar por grunhidos e namorar raptando a amada com uma paulada na cabeça.
Estaremos de volta ao planeta dos macacos, então.

Aguarde, em breve será só pau e pedra.

sábado, 18 de dezembro de 2010

3 ou 4 coisas

Férias...De volta a Minas em mais alguns dias.
Vou pro "mato". Há muito o que aprender por lá. Trarei com certeza um saco cheio de mudas, sementes de idéias e histórias que jorrarão aqui um ou outro dia.
Pode parecer incrível, mesmo falso, já que não temos outra escolha senão viver e envelhecer, mas o envelhecimento tem me proporcionado um rol de pequenas (e grandes) felicidades, improváveis, na juventude.
Tive filhos, e eles são tudo!!!
Plantei uma árvore, um jacarandá da Bahia cuja semente achei perdida numa cadeira da sala de embarque do Aeroporto de Congonhas, em 2003. Tratava-se de promoção de uma revista semanal, estimulando a consciência ecológica. O leitor da revista destacou a semente, acondicionada num pequeno pacote de plástico com as instruções de plantio dentro, e deixou na cadeira. Levou a revista. Melhor pra mim.
O jacarandá tem hoje quase uns 3 metros. Seu tronco ainda não impõe respeito, mas um dia o fará...espero.

Marli de Mário uma vez instigou sarcástica o marido:
- Você só sabe fazer três coisas: beber, fumar e tr...

Constatação cotidiana, caso pensemos um pouco.

Pra mim ainda falta escrever um livro...
Depois disso, um dia Margô também dirá:
- Você só sabe fazer quatro coisas: comer, dormir, beber e tr...

Não me importarei...

Free dom

It's a fact we live in Brazil a re-arising of democracy, since 80's.
PT got the power since 2002 and will be there at least for more 4 years. It's not that bad, though. Somehow the swapping of parties on power always brings new things, specially if they want to add value, not take out. Lessons learned with the past must be taken into account, always, beyond of all kind of ideological coloration, though.
(...)
I've read somewhere long time ago Michael Dell's history. To make a long story short, he said we all have kind of operational limit. What did he mean with that? He meant that our perspectives, motivation, new ideas and energy doing something, last in some years, after we've been doing the same thing for a long time. After that will be only routine.
HR specialists say it happens within 5 years, when you need to be swapped to somewhere else, to be challenged and become again creative and productive.
Russell said once in his book, 'Bertrand Russell's Best', 1958, that human being has an unavoidable compulsion to boredom. I know, there are some exceptions. Anyway, most of us can not runaway of this truth. We must be challenged, estimulated to keep moving forward.
Guess brazilian people got it. Hopefully on next voting we can put some more oxigen on power swapping some faces.
Problem here, in the South, is the old, anachronic speech of leaders such as Chávez, Morales, Correa, and some of PT's shia.
Nacionalism, protecionism, radical statism... The same old bs...
(...)
I do not see any exit for people but the education. As many inferences based on things you've read or studied, as better. Means you became someone who can think by yourself. And that's something else down here. I don't think government is really interested on making people more critical. They love invest on hype, creating new "big brothers" as the demiurge of hapiness. Those would be the responsible for driving us to the future because we are naive and don't know what we want.
Well, this is exactly the piece of this theory which drives me crazy. I'm not with them, I'm not in the crowd.
Since they keep me aside and alive, leaving me alone to say whatever I want, I don't really care. Hopefully there will not be another Inquisition of ideas as about 30 years ago or so. We've already got our fix of dictatorships. FREEDOM is still the best ilusion in our minds!

I'm relieved, anyway, that I was not born in Venezuela. Chávez, as my "big brother", would be the ugliest brother that I could have at family.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Recorde

Este blog baterá seu recorde de acessos este mês (iniciei em Abril último). Levando-se em conta a motivação que me levou a escrevê-lo, e minha timidez ao divulgá-lo, agravada pelo fato do nome ser propositalmente 'στρατηγός Aristides' - nada fácil de pesquisar no google -, considero-me humildemente quase realizado, por hora (a realização só virá mesmo quando os acessos esbarrarem nos 100 mil pageviews..."Ou não").
Agradeço a todos que de alguma forma passaram por aqui, leram, riram, choraram, odiaram, amaram, praguejaram...whatever... O objetivo era esse mesmo.

Devo dizer que venho alcançando o que queria com isso.
As palavras apenas fluem, agora.
Tenho um estilo - um amálgama de muitos, é fato, mas meu! E esse ninguém me tira!

OBRIGADO!!!

Crônicas do mato. #4: "Rapidinhas..."

4.1 - O primeiro militante contra a homofobia em Minas

Minas Novas, na década de 50, era o município composto pelos distritos: Minas Novas, Berilo, Chapada, Francisco Badaró (ex-Sucuriú) e Leme do Prado (ex-povoado de Gomes).
Não consegui levantar a população da época. Atualmente, o município é constituído por 5 distritos: Minas Novas, Baixa Quente, Cruzinha, Lagoa Grande de Minas Novas e Ribeirão da Folha. A populaçao é de 30.803 habitantes.
Num cálculo grosseiro, diria que a população era bem menor. Somente no distrito de Minas Novas, talvez vivessem entre 4 e 11 mil habitantes. Levando-se em conta que eram os anos 50, em Minas, com todo seu provincianismo e carolismo históricos, tinha que ser macho pra fazer o que o cabra fez. Mas esse é o ponto: ele não era.

Desceu a rua da ponte velha com Tião o seguindo uns 2 metros atrás. Não levantaram suspeitas. Chegando à ponte, viraram à esquerda, no caminho para o rio, antes de atravessá-la. Se postaram quase debaixo da ponte, por entre uns arbustos. Talvez pela "taradeza" exagerada foram descuidados. E Tião iniciou o coito com o companheiro meio que debruçado por sobre uma pedra. Vai, vem, vai vem...
Alguns minutos e alguém passando em cima da ponte avistou aquilo. Começou então a "latumia" de insultos:
- Vagabundo, sem vergonha!!!
- Viado. Bicha fdp...
- Vou chamar a policia seu desavergonhado. Vira homi...

E o cabra interrompeu Tião:
- Tião, "fofa" ai Tião...Deixa eu xingar aquele povo ali - Tião obedeceu, recolhendo o mangote e segurando-o nas mãos.
O cabra puxou o calção e se afastou um pouco até poder ver quem o insultava:
- Vão pra pqp...Tô dando o que é meu. A b.. é minha e dou a hora que eu quiser. Vão cuidar das suas vidas, seus fdps, @#$%@&%#@%#$&^%$@...

Pareceu funcionar porque os detratores seguiram caminho, minutos depois. Então o cabra voltou, arriou o calção e, se apoiando na pedra novamente, soltou convicto:
- "Mete o ferro" Tião!!! - no que foi prontamente atendido por Tião, cego por sua libido sem pudor, ou preconceito.

4.2 - "E se ele caísse ali e morresse?"

Dois matutos vindos da roça a cavalo pararam no top, perto do "campo de aviação". O matuto #2 fora acometido por uma dor de barriga incontrolável e precisava descarregar. Procurou uma moita, a mais adequada, arriou as calças e começou os trabalhos, se distraindo com um pedaço de graveto a perscrutar o chão batido à sua frente. Entre sons e odores estranhos, deparou-se com uma pedra amarelada, que cavucou e retirou da terra mais que depressa. Era uma pepita de ouro... até certo ponto comum naquela época. Entusiamou-se! Arrumou-se arribando as calças e mostrando logo depois a pepita ao companheiro de viagem. Ai começou a pendenga...
- Pois é cumpadre. É meio a meio.
- Não sinhor cumpadre. Fui eu que achei. É minha.
- Mas nóis tá aqui é juntos, uai.
- Não, eu achei e é minha. Si ocê tivesse achado era sua, uai.

E a pendenga se arrastou pela légua que faltava, coisa de quase uma hora, até que os dois chegassem à venda do Zé camargos, comprador do ouro e à quem a pendenga seria apresentada para resolução.

- Seu Zé Camargos, num é por certo que o cumpadre meie a pepita cumigo? Pois eu tava cum ele lá na hora sô.
- Mas fui eu que achei no mato. Tem disso não sinhô.

Zé Camargos, justo, pontuou:
- Pois é, foi ele que achou. É dele mesmo.

Mas matuto mineiro é tinhoso...tem nada de matuto...matuto não.

- Mas sunta só: e se ele caisse e morresse? Quem era o responso???

Zé Camargos desconcertado, concordou com um movimento de cabeça e um riso nos lábios:
- É cumpadre. Acho que o outro cumpadre tá é certo. Divide esse lucro ai com ele. Tem jeito não.

O outro cumpadre cedeu. Matuto mineiro não é muito de briga. "Negoceia..."
No finar "foi justo, muito justo...justíssismo."

4.3 - Mecânico "profissonal"

Zé de Aristides terminou o conserto da caixa de marchas do Jipe 64 do seu Dimas. Levou então o carro para o dono, que infelizmente, não se encontrava no cartório àquela hora. Avisou o funcionário e tomou o rumo de volta para a oficina.
Lá pelas tantas, final da tarde, aponta seu Dimas na oficina.
- Zé, mas o que foi isso?
- Isso o quê?
- O carro só anda de ré. Fábio (o caminhoneiro mais famoso e bem sucedido da cidade) me disse que você montou errado a caixa do Jipe.
(...)
Montara a caixa, inacreditavelmente, ao contrário, sabe-se lá Deus como. O fato que é todas as marchas eram a ré. Primeira: ré. Segunda: ré, terceira: ré. Acertara uma: a ré era mesmo a ré. 25% de sucesso, embora o Jipe tenha se tornado de uma nota só.
E Zé, já debaixo do carro vasculhando o que dera errado, notou os pés de seu Dimas se distanciando, deixando a oficina. Se esqueirou pra fora do assoalho do jipe e levantou-se, sacudindo a terra vermelha da oficina:
- Calé Fabeca calé Dimeca calé nada... Eu sô é profissonal !!!- alardeou para os outros à sua volta invalidando seu Dimas e Fábio.

É... Até certa forma era mesmo profissional...embora fosse o profissional errado, naquela situação.

Estatísticas, meteoritos e fiofós.

Estou lendo o livro 'Lulismo', do Rudá Ricci. Ele me fez saber que sou da classe A ou B, com efeito, da elite econômica do país. Não, não me culpem por isso. Não sou mais que um burguês imperialista capitalista imundo, a anos-luz da "escatologia marxista" radical de alguns "cumpanheros".

Bem, Squid teve influência zero nessa minha "ascensão". Talvez ai, eu seja realmente culpado. Afinal, nesses últimos 8 anos tudo de bom foi responsabilidade da Lula. De ruim, responsabilidade dos outros. Mas comigo o polvo não facilitou nada. O que aconteceu comigo foi responsabilidade só minha, de bom e de ruim.
Porém, não me considero elite. Na verdade não sou! E isso é claro.
Estou mais pra imortal... No fim das contas não tenho mesmo onde cair morto.
(...)
A estatística é mesmo indispensável ao método científico. É comum seu uso na aproximação de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificação, dependendo do objetivo da pesquisa (quantitativa ou qualitativa). É bom dizer também que a estatística utiliza-se das teorias probabilísticas para explicar a frequência de fenômenos e possibilitar a previsão desses, no futuro. Dá-lhe poisson.
Histograma de frequência, média, mediana, desvio padrão, são também termos do metiê.
Mas ainda continua a ser apenas um modelo matématico.
Por exemplo: a probabilidade é de 0,709247 mortes por milhão causadas por raios no Brasil, por ano. Somos aproximadamente 190 milhões de brasileiros e, teremos portanto, 134 vidas ceifadas este ano pelo martelo Mjolnir todas as vezes que Thor estiver de mal humor, certo? Tão certo quanto a temperatura média de um corpo imerso 50% na geladeira - a 5 graus centígrados - e 50% fora dela - a 40 graus - ser de 22,5 graus Celsius. Na média o sujeito está mais que confortável. Na prática, ele é só um cuca fresca com o fiofó em chamas.

Mais probabilidades: embora a probabilidade de se ganhar na Mega-Sena seja ainda menor do que a de ser atingido e morto por um meteorito quando andando pela rua, há sempre a possibilidade de um miserável sortudo levar a bolada pra casa mesmo tendo jogado uns poucos cartões, desde que um meteorito não rache sua cabeça no caminho de volta.

Dito isso, sou definitivamente o ponto fora da curva do livro do Rudá.
Espero, então, ganhar na Mega-Sena essa semana sem ser atingido por um meteorito.... muito menos por um raio (não necessariamente nessa ordem).
Quanto ao fiofó? Bem, pulemos essa parte.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Cultura Inútil #2 - Difícil(???) arte de ser burro

"...Por que (preposição + pronome interrogativo, embora o autor esteja explicando, e ai é conjunção explicativa e deveria ser porque) ser famoso por grandes feitos é fácil. Difícil é ser famoso sem ter feito absolutamente nada de relevante."
Essa pérola foi retirada do artigo 'Geisy Arruda e a difícil arte de fingir de burra' assinada pelo André Barcinski, http://andrebarcinski.folha.blog.uol.com.br/.
Tem mais :
"A dúvida é: será que Geisy Arruda é um gênio autodidata do marketing, ou teve a ajuda de alguém muito, mas muito esperto? Quem ensinou Geisy a manipular a opinião pública de forma tão eficiente?"
Numa releitura, poderíamos deduzir a lógica do autor:
"Conceber a Teoria da Relatividade ou escrever Hamlet é fácil. Ficar famoso por isso, mais ainda. Difícil é ser a Geisy Arruda, vestir um vestidinho rosa, participar da Fazenda e falar m... por ai." Ou ainda, "Geisy é um gênio, burro é você que ainda lê André Barcinski."
Porém, embrenhemo-nos a tentar dar sentido aos minutos que perdemos, ambos, lendo essa porcaria:
'Sofisma (do grego antigo σόϕισμα -ατος, derivado de σοϕίξεσϑαι "fazer raciocínios capciosos") em filosofia, é um raciocínio aparentemente válido, mas inconclusivo, pois é contrário às próprias leis. Também são considerados sofismas os raciocínios que partem de premissas verdadeiras ou verossímeis, mas que são concluídos de uma forma inadmissível ou absurda. Por definição, o sofisma tem o objetivo de dissimular uma ilusão de verdade, apresentando-a sob esquemas que aparentam seguir as regras da lógica.
É um conceito que remete à ideia de falácia, sem ser necessariamente um sinônimo.
Historicamente o termo sofista, no primeiro e mais comum significado, é equivalente ao paralogismo matemático, que é uma demonstração aparentemente rigorosa que, todavia, conduz a um resultado nitidamente absurdo. Atualmente, no uso freqüente e do senso comum, sofisma é qualquer raciocínio caviloso ou falso, mas que se apresenta com coerência e que tem por objetivo induzir outros indivíduos ao erro mediante ações de má-fé.' (fonte: Wikipédia)

Temos também Chomsky e William Cooper.
Chomsky elaborou as '10 estratégias de manipulação através da mídia'. Listo a primeira:
A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à fazenda como os outros animais (citação do texto ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

Cooper em seu livro 'Behold a Pale Horse', não fala somente das armas silenciosas (no capítulo 1, pag. 57) citadas por Chomsky.
O homem foi o rei da 'teoria da conspiração'. Misturava ufologia, sociedades secretas, Bilderberg Group e a nova ordem mundial como quem falava de beisebol ou mulher, numa roda de amigos.

Conclusão: André é membro do Bilderberg Group cujo objetivo é manter-nos ocupados, ocupados, ocupados, sem nenhum tempo para pensar. Para tal intento, trouxe da área 51 um extraterrestre, um Gremlin sobrevivente do acidente do disco voador em Roswell, em 1947. Aqui esse ET recebeu o nome de Geisy e gosta de microvestidos (isso é junto ou separado depois da última reforma ortográfica???;o), rosa.
(...)
Seja lá o que está por trás das intenções de André e grupo (nova ordem mundial, revolução ET socialista ou capitalista burguesa - tanto faz), acho que Chomsky/Cooper tinham razão: a estratégia da distração de fato manda-nos de volta à Fazenda com os outros animais...
Ou à nave BBB.

Ai você me pergunta: e o que 'sofisma' tem a ver com isso? Bom, e quem se importa???

Acho que "vou me embora pra Chapada... Lá sou amigo de Tôto."

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Mainardiando (ou Ilusão de Significado)

Digam o que quiserem do Mainardi mas seus artigos são deliciosos. Devem ser lidos com moderação, porém. Uma overdose como em 'A Tapas e Pontapés' enfastia. Pra não começar a odiar o autor parei de ler o livro pela metade e só retomei a leitura depois de umas 3 semanas. Estava a ponto de me matar ou por fogo no Brasil, ao som de liras.
Comungo da paixão por Voltaire. Swift nunca li, confesso, embora todo mundo conheça 'As Viagens de Gulliver'.
Ultimamente sua coluna já me fez pesquisar a commedia dell'arte, Eleonora Duse e Gabriele D’Annunzio, Boécio. Sobre o vaso sanitário da Toto não precisei de maiores explicações. Usufrui desse mimo no Japão em Dezembro passado, no Strings em Tokyo-Shinagawa. Até em Wakayama tinha uma versão popular da privada japonesa que tem a tampa aquecida que sobe e desce automaticamente.
Confesso porém que "o mecanismo interno que, acionado por controle remoto funciona como um bidê borrifando água morna do centro, da parte dianteira e da parte traseira", causou-me um susto, inicialmente. E diferente do Neorest 550 da Demi Moore, do Brad Pitt, da Madonna, do DiCaprio e do próprio Diogo, os que sentei não tocavam Mozart para abafar os barulhos do banheiro. Mas "também esses não teriam mexido na economia", como Squid.

Sua última coluna começa assim:
"Eu passei oito anos zombando do lulismo. Se agora eu passasse a zombar do dilmismo, que é uma mera pantomima do lulismo, eu me tornaria uma mera pantomima de mim mesmo."

Voltou pra Itália, Veneza. Mas continua impagável, embora acuado.

“Eu vim morar em Veneza para melhorar a qualidade de meus fantasmas. No Rio de Janeiro, eu convivia com o fantasma de Ziraldo. Aqui convivo com o fantasma de Eleonora Duse e de Gabriele D’Annunzio”.

"O problema do Brasil é o excesso de liberdade da imprensa. Quem disse isso, em outras palavras, durante um encontro com sindicalistas baianos, foi José Dirceu. Eu digo o contrário. Eu digo que o problema do Brasil é o excesso de liberdade de José Dirceu."

Marisa e filhos têm cidadania italiana. Lula não teria problemas em ser aceito por lá. Mino já é italiano. O Paulo Henrique e o Zé poderiam surfar no prestígio do chefe e ficar por lá sem problemas. Não fariam a menor falta.

Falta faz o Mainardi...O Ivan Lessa...O Francis.

E um vaso da Toto tocando Mozart em cada banheiro brasileiro abafando alguns ruídos constrangedores.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Crônicas do mato. #3: Marcolino e... a mula.

O entregador de leite badalava as madrugadas da cidade com o som cadenciado, oito cascos vagarosos tamborilando as lapas e estacando vez ou outra em frente a uma casa para deixar as garrafas de leite na porta.

No final da rota o bar de Raul Marcolino, e como fazia todos os dias, o entregador estacionou e desceu do cavalo bem em frente à porta grande de aço, do lado direito, amarrando a mula de carga ao poste junto da entrada, apanhando dois litros de leite no alforje e levando-os para Darci, atrás do balcão.

Na frente do bar, uns 10 metros afastado da rua, havia uma área cimentada inclinada que terminava na rua e servia de estacionamento para os cavalos, mulas e aos poucos carros. O bar ficava em frente à praça Dr. Badaró, na saída para a Chapada e a uns 200m da ponte do saudoso rio Bonsucesso.

Raul Marcolino vinha chegando, descendo a Getúlio Vargas no horário de costume tragando seu pito de palha, impassível, soltando suas baforadas desrespeitosas pelo ar.
Distraído e inatingível, passou por detrás da mula de leite como se ela não estivesse ali. Talvez por mulice genética ou mero espasmo muscular, a mula soltou um coice seco, surpreendendo Raul em cheio na altura do peito, lançando-o à rua feito uma bola.

Por alguns segundos o mundo pareceu parar à espera da reação do monstro a tão desavisada agressão, fazendo da praça um silêncio de olhares e respirações no aguardo do desdobramento da peleja.

Recompondo-se, já irado sob o olhar atônito de quem presenciara a cena, arfando feito touro bravo, Marcolino não se deu ao trabalho de sacudir a poeira das roupas, partiu para cima do animal preso pelo arreio ao poste de madeira no canto direito do estacionamento, estacando, subitamente, na metade do caminho para inclinar-se e apanhar o cigarro de palha, ainda aceso.
Sugou-o profundamente avivando a brasa bem perto dos lábios, para depois baforar ruidoso e retomar a empreitada. Uma locomotiva humana tracionando e soltando fumaça pelas ventas.

Ganhou velocidade a ponto de chegar até a mula com mais três passos e, sem cerimônia, disparou uma série desordenada de pontapés e socos no lombo da pobre, balbuciando insultos e palavrões ininteligíveis por entre os dentes, como sempre.

Após uma sessão exaustiva de golpes, que deixou a coitada arqueada porque presa ao arreio amarrado ao poste, as patas dianteiras dobradas nos joelhos e as traseiras totalmente debruçadas no chão, o entregador só apertava a boca com as mãos num gesto de desespero e pena.
Raul recompôs-se, só então sacudindo a poeira e aprumando a roupa com todo o cuidado e traquejo, enquanto a mula urinava seu medo mal cheiroso na porta do bar. Meticuloso, arrumou a camisa novamente e antes de qualquer outra coisa retirou do bolso direito uma folha de palha, despejando o fumo e selando o "paioso" com a saliva logo em seguida.
Acendeu o cigarro, tragou até que a brasa ficasse bem viva, voltando-se para a praça buscando a platéia e, embora falasse para a mula - talvez ela até o entendesse, baforava, ainda com a respiração acelerada pela briga:

- Cê pode até ser mais mula que eu... mas mais IGNORANTE cê num é não!!!
Confirmou depois com um giro de cabeça se cada espectador vira seu desagravo.

Tinha uma reputação bruta a zelar. Essa ninguém tiraria dele. Nem gente nem bicho...nem o diabo que o parta.

Num futuro não muito distante...

Um sujeito de uns 27 anos, alto, magro, com uma cabeleira que misturava o espetado gumex Punk com o despojo simulado do “mauricinho” de classe média alta. Seu jeito trôpego, embora parecesse forçado à primeira vista, era absolutamente natural. A pele clara e bem tratada denunciava sua condição de rebelde de laboratório, um tipo de inconformado mal dissimulado. Sua moda juntava camisas de algodão e gola padre com calças de puro linho, engomado, compondo assim, sua personagem de guerrilheiro moderno contra as “mesmices” e injustiças do mundo. Vestia-se meticulosamente. Considerava sua aparência como uma linguagem cuja semântica estabelecesse o perfil de sua personalidade e intenções. Não mais que um lugar comum na prosa oca do mundo fashion.
Tinha a fala mansa, a voz muito grave, e conversava pausadamente entrecortando as frases com a respiração, fazendo caras e bocas como quem está compondo um pensamento extremamente profundo e exaustivamente estudado. Nessas ocasiões, forçava um olhar que insinuasse lucidez, arregalando os olhos e lançando-os contra seu interlocutor com certa dose de voracidade. Eu já vira daquele olhar em outras pessoas, umas loucas, outras suspeitas como Arnaldo.

Considerava a si próprio um artista multimídia, desses que enveredam inconsequentemente pela música, literatura, teatro, televisão e cinema com a maior intimidade. Seu estilo, por si só, já denunciava seu maior talento: o de esconder sua embaçada criatividade e inspiração irrelevante sob o manto da vanguarda, parcialmente incompreensível por estar além de seu tempo.

Comungava do apoio frenético da imprensa. Suas frases eram esteticamente tão confusas quanto improváveis. O estilo de sua obra era passageiro, tão minimalista que minimalista demais. Poucas palavras se confundindo com falta de palavras.

Sempre achei as críticas a respeito de sua obra mais relevantes que a própria obra. Eram verdadeiras apologias a respeito de nada. Palavras e palavras tentando dar sentido, forma ao vazio. Era um poeta com a originalidade forjada pela crítica especializada.

Essa tal arte, para mim, mero subterfúgio para justificar tolices vanguardistas que alguns arrogantes criavam sob o pretexto preconceituoso de superioridade. Manifestações artísticas carregadas de prolixidade, sofismas, ininteligíveis. Mas a exemplo do que acontece com as deidades, a imprensa especializada fazia com que o incompreensível vindo delas ganhasse o status de sublime.

Em suas entrevistas entremeadas de frases desconectas - mas nem por isso menos pomposas, massageava seu ego com um ar de superioridade e tédio quando o entrevistador, perdido na cortina de fumaça de sua retórica, reagia como um discípulo diante de seu Mestre. Patético.
(...)
Warhol acertara: "In the future everyone will be famous for fifteen minutes". Ele próprio um embuste, a vida toda.

O futuro chegara...e não era mais belo que o passado.

Cultura Inútil

Artigo retirado do Uai hoje:(http://www.divirtase.uai.com.br/html/sessao_21/2010/12/09/ficha_verpracrer/id_sessao=21&id_noticia=32173/ficha_verpracrer.shtml)

'Um professor de Nova York agora vai poder ficar de olho nos alunos mesmo quando estiver de costas, escrevendo no quadro. Wafaa Bilal, que é de origem iraquiana e ensina na universidade Tisch School of the Arts, instalou uma câmera digital na parte de trás da cabeça.
A ideia é parte de um projeto artístico, batizado de The 3rd I. A tradução literal é "O terceiro eu", mas o nome contêm um trocadilho, já que o som de "I" lembra "eye", olho em inglês. A câmera foi acoplada cirurgicamente na cabeça de Bilal, em uma placa de titânio inserida no crânio do professor.
Uma foto vai ser tirada por minuto e será transmitida por um computador que o professor vai carregar a tiracolo para o site http://www.3rdi.me/ e também para o museu árabe de arte moderna Mathaf, no Catar.
"Eu queria perder a subjetividade fotográfica, mas ao mesmo tempo queria capturar imagens do dia a dia", explicou Bilal, que vai ter que usar um gorro para ocultar a câmera enquanto estiver ensinando.
Esta não é a primeira intervenção artística polêmica de Bilal. Em 2007, um projeto chamado Tensão doméstica tinha como slogan "atire em um iraquiano" e punha o próprio professor como alvo de armas de paintball controladas pela internet.'

Ainda bem que colocou a câmera na cabeça... Me ocorreram lugares piores, vindos de um maluco desses.
Tinha mesmo que se chamar Bilal...

(...)


A exposição Fluxus na Alemanha 1962-1994 – Uma longa história com muitos nós apresenta parte das obras e registros documentais produzidos por artistas fluxistas de 1962 até 1994. Com abertura da temporada brasileira em Curitiba, a mostra segue depois para São Paulo, Buenos Aires e retorna para a Europa.
Indefinição:
"O movimento é de difícil definição. Fluxus não é um movimento estático, é flutuante, versátil. Os artistas fluxistas trabalham a interdisciplinaridade. O Fluxus é contra as instituições e se opõe aos ideais burgueses de arte. É contra o quadrado e acontece fora dos museus e espaços pré-definidos”, afirma Claudia Römmelt Jahnel, diretora do Goethe-Institut /Curitiba e responsável pela organização da mostra em Curitiba. (fonte: http://www.pr.gov.br/mon/exposicoes/fluxus.htm)

Estive lá, no Museu Oscar Niemeyer. Tudo me pareceu nada mais que tralha amontoada. O ápice ocorreu quando vi uma escultura de um coelho, como um daqueles desenhos que qualquer um de nós fazia quando criança com poucos traços, detalhes e recursos. Quando li a informação da escultura, "Coelho, esculpido com as fezes do mesmo"... desisti!!! Peguei a primeira saída pra casa. Pop Art, Concretismo...Fluxus, bullshit!!!
Claudia Römmelt Jahnel deveria escrever um livro. "Eita" criatividade pra justificar lixo.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Cofres, catedrais...

Escrito em 2002.
Para Toninho Horta.

E num solavanco repentino acordou como se lhe faltasse o chão, voltando-se pela janela arredondada do avião para o desenho irregular da cidade que trazia alguma ordem e simetria - paradoxalmente - do retângulo negro que delimitava o terreno de algum cemitério metropolitano.
A queda do sono causou-lhe um calafrio de morte, misturado à perplexidade da imagem inusitada dos mausoléus de mármore negro. O avião estabilizou-se depois e o comandante informou a autorização para pouso na Pampulha. Contudo, ficara o registro, a imagem pendurada na parede de seus recorrentes medos.

Voar era a contradição de sua alma mineira: o apego provinciano às coisas da terra contra os devaneios e sonhos de rompimento e liberdade. Embora não se sentisse totalmente seguro sobre as asas e turbinas da nave, carregava uma serenidade estóica para as viagens das quais não podia evitar o transporte aéreo. Excitava-o a dicotomia de sua personalidade mutante.

Desceu da aeronave e buscou num gesto autômato algum rosto conhecido no terraço do aeroporto, mesmo sabendo que ninguém o esperava. Era mais uma semana oca movida pela roda de seus descaminhos, pela subsistência da qual havia banido seus sonhos.
Quem nunca se sentiu assim? Quem? Quem nunca chorou solitário dos pedaços de si largados pelo caminho, das lembranças de seus sonhos mais recônditos?
É uma chaga, dessas que corroem conquanto mantêm-nos de pé, zumbis mortos vivos presos às lembranças do que fomos, ou deveríamos ter sido. A frustração que advém de tudo ainda é pior, destila outras faces de nós que não são menos feias que a mágoa, o rancor, o ódio e a inveja que acabamos por inocular por vezes em todos com quem existimos.
Mas "os sonhos não envelhecem"...
Deparou-se consigo numa esquina. Altivo, viril e animado, pareceu-se 15 anos mais jovem. Os velhos sonhos, as antigas esperanças arrancaram-lhe lágrimas e uma sensação de fracasso e arrependimento. Todavia estava ali, a um passo de um abraço, do reencontro com suas velhas intenções e causas. Como seria reencontrar-se 20 anos depois? Estaríamos diante de um estranho, algum jovem inconseqüente com a pretensão de mudar tudo? Era ele mesmo, frondoso até, exibindo um charme que não conseguia ver mais em si mesmo naqueles dias difíceis. "O que fiz dos meus sonhos, onde foi que eu perdi..."

A frustração obrigava-o em vão a tentar estabelecer uma conexão, uma ponte entre seus anos matinais e o peso da idade que carregava agora. Era uma sensação estranha, uma ressaca, ressaca de si mesmo. Puxou assunto com o motorista do táxi apenas para fugir de seus fantasmas:
- Está frio aqui hem?
- É. Esfriou na Quarta-feira. Quinta levei um passageiro à Praça do Papa e o vento frio me deixou resfriado(...)
Embora o motorista continuasse falando, dando novos rumos à prosa, perdeu-se novamente observando a geografia da cidade. Caminhos que conhecia bem, rotas delineadas na memória de seus 35 anos. Pampulha, Mineirão, as novas construções e lugares que outrora venceram a especulação imobiliária agora sucumbidos a prédios, shoppings, casas. Ainda assim era uma sensação doce, rever as ruas como corredores de sua casa, prédios e casas como móveis cuidadosamente colocados por algum capricho de decoração. Era bom voltar.

De repente, como na perda de sustentação pouco antes do pouso, faltou-lhe novamente o chão, só que desta vez num solavanco de vida soprado pelo ar na voz de Lô Borges a cantarolar as primeiras frases de Clube da Esquina II: “Porque se chamava moço/Também se chamava estrada/Viagem de ventania..."
E como empurrado pela multidão na saída das arquibancadas num dia de Atlético e Cruzeiro, soltou a voz compelido pelos acordes da música que não lhe davam outra alternativa senão fazer dueto com Lô uma oitava abaixo: “E basta contar compasso/E basta contar consigo/Que a chama não tem pavio...”
O motorista ainda tentou emitir algum comentário, porém, como não obteve resposta, calou-se.

Passou pelos rios de asfalto e gente, esquinas mais de um milhão e quis ver então a gente, gente, gente... Seguiu... Ele e Lô encerraram - "E lá se vai, mais um dia..." - e como num milagre não sentia mais o peso da melancolia que o seguira até ali. O Grand Finale consumou-se num pedido ao motorista para que parasse no primeiro bar que avistasse na Avenida Catalão.
Desceu do carro, pediu uma cerveja e bebeu como se fosse a última, enquanto o táxi o aguardava na porta. Noutro gesto incontido arremeteu o copo alçando-o a todos no bar:
- Saúde!!! - gritou convicto. Bebeu quase num gole, colocando o copo sobre o balcão com decisão e força. Pagou a cerveja e sem esperar o troco saiu trotando em direção ao carro a cantarolar Minas. Abriu a porta do táxi e pouco antes de entrar estacou pra pensar uma rajada de vento que soprava forte. Cheiro de gentes, lugares e tempos, a memória olfativa de algumas praças, catedrais e becos, como a luz das estrelas trazendo o retrato do início do universo em seu longo trajeto.
Cantou junto do vento o cheiro de Minas... seu cheiro, graças a Deus!!!
"Oh! Minas Gerais, um caminhão.
Leva quem ficou por vinte anos ou mais.
Eu iria a pé, oh meu amor.
Eu iria até, meu pai, sem um tostão.
Em Minas Gerais, alegria é guardada em Cofres, Catedrais...” [1]

________________________
[1] Aqui oh! - Toninho Horta e Fernando Brant

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

"Até o fim..."

Lembro-me - em flashes - de um dia chuvoso, todos a bloquearem meu pai para que ele não saísse de carro, de sua determinação trôpega e desarticulada de jogar o carro no córrego da Mariano Procópio no João Pinheiro/Vila Oeste.
Lembro da confusão, da vã diplomacia dos amigos para demovê-lo do intento, que no final, aconteceu comigo dentro do carro, para desespero de minha mãe.
A promessa foi paga, todavia.
Era 1971. Tinha eu 5 anos, então.

Tirar o carro do rio foi outra história.
O carro, um Chevrolet 42, canadense, apelidado de "Gambá" pelo velho. Nenhuma analogia com o bicho malcheiroso, porém. O carro era uma relíquia, uma máquina que suportou meus caprichos infantis para que meu pai ultrapasse a todos, Fuscas, Opalas, Dodges, tantos outros... ninguém à nossa frente.

Não entendia aquilo com a perspectiva exata, era mais um espetáculo, uma espécie de circo. Reconstrui o cenário a partir do mosaico das lembranças, dos pedaços, e vislumbro agora toda a cena, seu sentido absurdo.

O Galo foi campeão brasileiro naquele ano, aguçando o fanatismo do velho.  O "Glorioso" campeão e Dadá "peito de aço" o artilheiro. E eu virei atleticano. Pra sempre!!!
Poucos podem dizer que torcem para um time em consequência de um ato ensandecido, uma irresponsabilidade alcoólica do pai na comemoração de um título, no pagamento de uma promessa. Homens eram assim. Falavam, cumpriam. Perdia-se o patrimônio, não a palavra. Irresponsável, eu sei. Mas estamos vivos... e as lembranças tem outro tom hoje.

Desde então tem sido um calvário: 1977, 1978 na Libertadores, 1980, 1999, 2005.
Mas ninguém muda de sexo (ou muda?), nem de time (só o Joãozito). Eu sou é Galo, como meu pai, como meu filho, como fui toda a minha vida. Isso é tudo!
Sou mais um da torcida que mais comparece ao estádio em toda a história do Brasileirão. Não interessa se a série é A, B, W, ou o escambau. Não importa se vamos mal ou bem.
Somos chamados de "Massa" atleticana, e temos a 12. Isso mesmo, a camisa 12 é da Massa (em 25 de novembro de 2006, o Atlético imortalizou a camisa 12, que representa o torcedor atleticano e não será mais utilizada por nenhum atleta. A iniciativa atleticana em homenagem à torcida foi a primeira do Brasil e já foi, inclusive, copiada por outros clubes do país. Fonte: Wikipédia).

Agradeço ao velho por forjar-me teimoso, assim...
Como Gêra, aroeira atleticana que resiste a tudo e todos, resiste até ao tempo, renovamos a força na teimosia, no sangue e na raça.
As facilidades ficam para os outros. Pra nós é tudo difícil mesmo.

E assim seguimos.
Com uma alegria que nunca sentirão, mesmo depois de ganharem mais um título.
Uma alegria que não vem da mente, da razão. Uma alegria preta e branca, bruta... do fundo do peito, da alma, do coração.

Eu sou é Galo sim meu irmão!!!

"Quando nasci veio um anjo safado
Um chato dum querubim
E decretou que eu estava predestinado
A ser todo ruim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas VOU ATÉ O FIM!!!"[1]
_________________________
[1] Até o Fim - Chico Buarque

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Phaces e phrases

De para-choque de caminhão:
"Sou imortal... pois não tenho onde cair morto."

Da música popular brasileira:
"Eu quero é ver o oco."

Do mato:
Dr. Zezito, discutindo com um matuto.
"- Cê passa no vestibular pra Direito?"
Resposta, nada matuta:
"- Se não for muito estreito... eu passo."

De presidente:
"Não sabia de nada."

Do Nelson Rodrigues:
"Ah, os nossos libertários! Bem os conheço, bem os conheço. Querem a própria liberdade! A dos outros, não. Que se dane a liberdade alheia. Berram contra todos os regimes de força, mas cada qual tem no bolso a sua ditadura."

Do Mário Lourenço:
"Lascou, lascou..."

Do Millôr:
"No Rio se mata. Na Amazônia se desmata. Estamos em pleno equilíbrio sustentável."

De piada:
"Os psiquiatras dizem que: uma em cada quatro pessoas tem alguma deficiência mental... Fique de olho em três dos seus amigos. Se eles parecerem normais, o retardado é você!"

Do mato #2:
Mestre Rocho, encerrando uma pendenga sobre futebol.
"Merda pro Vasco e bosta pro Flamengo."

Do João Pinto (Jogador de futebol do Benfica de Portugal):
"Não foi nada de especial, chutei com o pé que estava mais a mão!"

Do Einsten:
"Se os fatos não se encaixam na teoria, modifique os fatos."


 Do Bauleo:
"Tem males que vem pra... f..der."

domingo, 28 de novembro de 2010

Guerra nos morros x Sociologia de biblioteca #2

Um outro comentário após a leitura de mais um artigo acerca da crise no Rio (abaixo).
http://rudaricci.blogspot.com/2010/11/uma-primeira-resposta-minha-nota-sobre.html

Gave up. Citar Žižek, Iraque e Afeganistão não dá link. Não se trata de ação externa, ingerência internacional com interesses escusos, no momento é só o Estado respondendo aos "bondes" sob pena de o silêncio cristalizar de vez sua inépcia. Pior foi tentar justificar como não terrorista a ação dos traficantes no Rio comparando-a com os ataques do PCC em 2006. Absurdo. O PCC como substituto do poder público responsável pela paz e ordem nas periferias paulistas, a relação "respeitosa, amistosa" entre traficantes e moradores nos morros do Rio, um exagero, um delírio.
É o "funk" do crioulo doido!!!
E já que Žižek foi citado, interpreto-o - apressadamente, como o autor  - a meu favor, claro, com seu conceito de 'Coragem Ética':
"O verdadeiro esforço ético não está apenas na decisão de salvar vítimas, mas também – e talvez muito mais – na dedicação impiedosa de aniquilar aqueles que fazem delas vítimas."

Não dá pra ver a Globo...OK.
Nem dá pra levar a sério esses artigos.

Depois disso temos é que virar a página, estabelecer essa "nova etapa no RJ com um plano de controle social desses territórios."

Só isso é bom senso... e realidade.

sábado, 27 de novembro de 2010

Guerra nos morros x Sociologia de biblioteca

O comentário abaixo foi postado depois da leitura de dois artigos sobre a crise de segurança no Rio, a saber:
1- http://rudaricci.blogspot.com/2010/11/sobrarao-as-upps-o-terceiro-comando-e.html
2- http://rudaricci.blogspot.com/2010/11/upp-e-resistencia-do-trafico-no-rj.html

As análises sociológicas aqui (at this point) são de um academicismo congelante, e inóquo. Não é à toa que certos intelequituais (como diria o Millôr), são tão úteis como a 'Teoria dos Fractais' numa enchente na Tereza Cristina no bairro Betânia, quando D. Maria viu, desolada, seu parco patrimônio (um fogão, uma geladeira velha, algumas panelas e a cama) boiando pra longe. Septicemia é antibiótico. Discute-se "a relação" depois. José Cláudio e Misse estão delirando (ou m..turbando)... na biblioteca. "Capitulação" (espero que a dos bandidos, não a do Estado) vem depois. Primeiro "vence-se" a guerra. E seja lá qual for a motivação por trás de tudo isso, uma coisa é clara: é guerra (há muito tempo). Agora precisamos é de um "capitão Nascimento"(quem dera), de um estado responsável, não de catedráticos propondo simpósios, seminários e o diabo. Desafio-os a se instalar no fogo cruzado e discutir tudo isso do front, longe dos livros.
Perderam o chão, enquanto os moradores perdem tudo...Mas "trata-se de expediente dos mais antigos, que perpassa toda história da política humana"... também.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

51 não. 52!

Notei que escrevi 51 posts (antes desse), desde que comecei em Abril último.
Como aprecio uma boa cachaça mineira, cachaça(!!!), embora não beba (minha resistência para o álcool está limitada à cerveja uma vez por semana. Mesmo assim, é um dia de bebum e três de recuperação. Legado dos meus 44), resolvi mudar esse número... mais que depressa.

Vai ai o quinquagésimo segundo, só pra me salvar de olhar esse número "descambalístico" e me lembrar dessa toxina feita pra gringo e caipirinha (ou talvez uma arma nuclear, bacterológica, química, hidrogênica desenvolvida na Área 51 no deserto de Nevada com ajuda extraterreste).
"Lespa".

Liberdade, liberdade...

Transcrevo do Saite do Millôr, na íntegra (esse copy/paste é mesmo um achado pra falta de inspiração):

"Liberdade, Liberdade" estreou no dia 21 de abril de 1965, no Rio de Janeiro, numa produção do Grupo Opinião e do Teatro de Arena de São Paulo.
Os papéis foram representados por Paulo Autran , Nara Leão e Oduvaldo Vianna Filho com a participação especial de Tereza Rachel.

Comentários
A LIBERDADE DE MILLÔR FERNANDES
Também não sou um homem livre. Mas muito poucos estiveram tão perto. (Epígrafe para o livro Um Elefante no Caos.)

Aceitei, de Flávio Rangel, o convite para escrever com ele o presente espetáculo, por dois motivos: 1º) Porque sou um escritor profissional. 2º) Porque acho esse negócio de liberdade muito bacana. Não tenho procurado outra coisa na vida senão ser livre. Livre das pressões terríveis da vida econômica, livre das pressões terríveis dos conflitos humanos, livre para o exercício total da vida física e mental, livre das idéias feitas e mastigadas. Tenho, como Shaw, uma insopitável desconfiança de qualquer idéia que já venha sendo proclamada por mais de dez anos. Mas paremos por aqui. Isso poderia se alongar por várias laudas e terminar em tratado que ninguém leria. Tentamos fazer um espetáculo que servisse à hora presente, dominada, no Brasil, por uma mentalidade que, sejam quais sejam as suas qualidades ou boas intenções, é nitidamente borocochô. E cuja palavra de ordem parece ser retroagir, retroagir, retroagir. E como não queremos retroagir senão para a frente, mandamos aqui a nossa modesta brasa, numa forma que, para ser válida e atingir seus objetivos espetaculares, tinha que ser teatralmente atraente. Se conseguimos ou não o nosso objetivo deverão dizê-lo as poltronas cheias (ou vazias) do teatro. Fizemos, em suma, uma liberdade como podia concebê-la a modéstia e as limitações de nossas mentalidades - minha e de Flávio Rangel - sottosviluppatas. Mas também vocês não iam querer um liberdadão enorme, feito aquela que está em Nova Iorque. A gente tem que começar por baixo. Como os Estados Unidos, por exemplo: começou com um país só.

Marcha à ré.

Tony Judt em 'Reflexões Sobre Um Século Esquecido - 1901-2000' foi perturbadoramente lúcido. Não mais um teórico, intelequitual de simpósios e entrevistas, mas como Orwell, alguém cuja história pessoal o credencia. Viveu pois muito do que falou e escreveu.

Em Março de 2008 foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica. Em Outubro de 2009, em consequência das complicações de sua doença perdeu os movimentos do pescoço para baixo, tendo sua morte no dia 6 de agosto de 2010. (fonte: Wikipédia)
Também da Wikipédia trago o seguinte:
A Marxist Zionist as a young man, he dropped his faith in Zionism after youthful experience in Israel in the 1960s and came to see a Jewish state as an anachronism, and moved away from Marxism in the 1970s and 1980s. In later life, he described himself as "a universalist social democrat".

É só lê-lo para constatar sua agudeza de raciocínio, método científico, sem falar no estilo, que me enche de inveja. Fino. Magnífico.

Do Epílogo do livro citado transcrevo na íntegra alguns parágrafos absurdamente oportunos:
"Os críticos do intervencionismo estatal de hoje apresentam duas acusações convincentes contra ele. A primeira é que a experiência de nosso século revela uma propensão e uma capacidade inimaginável em épocas anteriores para a regulamentação e repressão não só das pessoas como também das instituições, das práticas sociais e da própria estrutura da vida cotidiana. Agora sabemos, e não podemos ignorar aquilo que os fabianos[1], os teóricos fundadores da social-democracia, os sonhadores utópicos dos sistemas coletivistas, e mesmo os bem-intencionados defensores paternalistas da engenharia social não sabiam ou preferiram esquecer: que o Estado superpoderoso, sob qualquer bandeira ideólogia, apresenta uma alarmante e provavelmente inevitável  propensão de devorar seus próprios filhos, bem como os de seus inimigos.
A outra lição que precisamos aprender com a experiência de nossa época é que o Estado, assassino ou benevolente, é um agente econômico espantosamente ineficaz. Indústrias nacionalizadas, fazendas estatais, economias centralizadas e planejadas, comércio controlado, preços fixos, produção e comércio gerenciados pelo governo não funcionam. Não produzem os bens, e como consequência não distribuem adequadamente, mesmo que a promessa de um sistema de distribuição mais equitativo seja normalmente a base de seu encanto inicial.
Nenhuma dessas lições é inteiramente nova. Críticos do mercantilismo, no século XVIII sabiam que as economias controladas pelo Estado eram ineficientes e causadoras de sua própria ruína. Os oponentes das monarquias autocráticas, dos puritanos ingleses aos iluministas franceses e novelistas russos do século passado, todos já haviam definido os pecados e deficiências de um poder central restrito e seu efeito paralisante no potencial humano. O que o século XX nos ensina é uma versão simples e atualizada do ensinamento de Lord Acton[2]: o poder absoluto do Estado destrói absolutamente, e um controle estatal completo da economia a distorce completamente. O desastre do facismo, de curta duração, e a tragédia mais longa do comunismo podem ser citados como prova do processo conhecido de nossos antepassados, e do qual o sistema Colbert[3] e o ancien régime[4] foram precursores tímidos. Hoje sabemos que uma versão determinada do liberalismo que conceda o máximo de liberdade e iniciativa em todas as esferas da existência é a única opção possível."

Mas estamos na contramão. De mãos dados com Chávez e outros líderes duvidosos.
Do Millôr: "Dividimo-nos orgulhosamente em 60% de analfabetos, 40% de ignorantes e o resto de governantes". Por ai...

Foi Judt que morreu sem os movimentos do pescoço para baixo.
Mas é cá embaixo ("honni soit qui mal y pense", tô falando é do hemisfério sul), onde continuamos vivos, porém atacados por um tipo de 'Ataxia cerebelar de início tardio'.
Aqui tudo indica que perdemos os movimentos do pescoço pra cima... na sinapse.
______________________________________
[1] Socialismo fabiano é o nome atribuído ao movimento intelectual criado pela organização britânica "Sociedade Fabiana" no fim do século XIX cujo objetivo era a busca dos ideais socialistas por meios graduais e reformistas, em contraste com os meios revolucionários propostos pelo marxismo e Socialização fascista. No poder, os fabianos dão uma maquiada na economia capitalista enquanto fomentam por canais aparentemente neutros a disseminação de idéias socialistas, promovem a intromissão da burocracia em todos os setores da vida (não necessariamente os econômicos) e subsidiam a recuperação do socialismo revolucionário. Quando este está de novo pronto para a briga, eles saem de cena envergando o rótulo de “direitistas”, que lhes permitirá um eventual retorno ao poder como salvadores da pátria se os capitalistas voltarem a achar que precisam deles para deter a ascensão do marxismo revolucionário. Então novamente eles fingirão salvar a pátria enquanto salvam, por baixo do pano, o socialismo. (fonte: Wikipédia)
[2] John Emerich Edward Dalberg-Acton, primeiro Barão Acton, (Nápoles, 10 de janeiro de 1834 — Tegernsee, 19 de junho de 1902) foi um historiador britânico famoso pela frase "o poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente". Ele é conhecido como Lord Acton por ter sido o primeiro Barão de Acton. (fonte: Wikipédia)
[3] Colbertismo ou Industrialismo nasceu no século XVII e é o Mercantilismo característico da política econômica francesa. Teorizado e promovido por Jean-Baptiste Colbert, controlador geral das finanças do rei Luís XIV. Uma vez que a maior parte do comércio internacional se fazia por meio de metais, como o ouro e a prata, o colbertismo propunha que o volume de exportações fosse maior que o de importações para que se obtivesse uma balança comercial favorável. As conseqüências desta política foram um protecionismo rígido que visava, entre outras coisas,o incremento da produção de manufaturados; por outro lado, uma série de conflitos econômicos e guerras sangrentas aconteceram neste período. O maior legado das desvantagens desse tipo de política econômica foi o endurecimento das estruturas econômicas e os processos e a redução do espaço para a inovação, através de uma rede de regulamentos e de controles meticulosos. (fonte: Wikipédia)
[4] Segundo a historiografia da época da Revolução Francesa, o Ancien Régime desenvolveu-se a partir da monarquia francesa do Medievo e foi derrubado séculos depois, em 1789, pela Revolução Francesa. O poder no Antigo Regime baseava-se em três pilares: a monarquia, o clero e a aristocracia. A sociedade era dividida em três Estados: o Primeiro Estado, o clero; o Segundo Estado, a nobreza; o Terceiro Estado, o resto da população. (fonte: Wikipédia)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Perdi o respeito...

Perdi o respeito por esses intelequituais fabricados. Me enfarei de sua cultura sem alma, de sua erudição de manual, proposital, não incidental. A mesma das conclusões pedantes - e tolas -, sem brilho. Essa dos títulos de doutores, livros inúteis, entrevistas, simpósios, plenárias e o diabo. Essa das conclusões poéticas, apoteóticas, na mesma proporção que improváveis. Essa da linguagem rebuscada como cortina de fumaça para a mais absoluta falta de propósito.
Prestam-se, no máximo, a criar a aura de mito e extender seu fascínio sobre a horda de acólitos estultos. Esses que são uma subespécie da mesma horda que segue Inri Cristo, ou seguiram Forrest Gump quando esse começou a correr pelos Estados Unidos sem explicação alguma (pelo menos aqueles só existiram num filme de Hollywood).
Perdi o respeito por esses Intelequituais jukebox, crooners do pensamento.
Ando para os títulos, dou laço para a sapiência pasteurizada forjada sob o manto da originalidade e boa intenção, bem nascida. Embuste.
Não vejo mais as entrevistas, não leio mais os blogs. São falsos...

Prefiro o ácido... a alma, a opinião apaixonada. Originalidade.

Perdi o respeito...

domingo, 21 de novembro de 2010

Papo de avião

Aeroportos e viagens de avião parecem também transportar o ser humano a um mundo paralelo, muito além do destino prescrito no cartão de embarque. Mesmo depois da popularização do transporte, que tornou mais vantajoso voar que pegar um ônibus de Belô a Curitiba, por exemplo, as pessoas continuam reagindo como se estivessem num evento, numa apoteóse.
É fácil se deparar com todo o tipo de bizarrice.

Há os que são tomados por uma compulsão incontrolável de falar ao celular, nem que seja com a tia da vizinha da avô de uma amiga de infância que não via há 10 anos.
E dá-lhe palavrório: "estou no avião, decolo daqui a pouco..." Papo de uma relevância monumental, digno de repreensões das comissárias de bordo para que o passageiro obedeça a solicitação de "desliguem os celulares".

Há a turma dos óculos escuros e figurino de viagem.
Essa turma fashion é uma tribo descolada. Consideram a si próprios acima da plebe e com mais conhecimento e acesso ao universo misterioso dos aeroportos, salas vip e aviões (big deal). Afinal, eles são os representantes da estirpe SPFW da aviação nacional.

Há os executivos, empresários, doutores em aviação e reclamação, sempre ostentando seus cartões planitum, gold...whatever, e sacando - como Jesse James, o gatilho mais rápido do oeste - mais ligeiro que qualquer mortal comum:
"- Você sabe com quem está falando?"
Esses se acham acima da plebe por considerarem a si mesmos os aristocratas do ar, quase os donos dos céus do mundo.
Os fashion são até tolerados, porque sempre há uma moça bonita representando o grupo e, essa turma adora um caso com uma modelo fora do casamento.
O único problema é que se o avião cair, irão todos "juntos e misturados" ver São Pedro, pra desgosto deles... Ainda assim, muito provavelmente tentarão prioridade apresentando o cartão Elite Member na porta do céu.

A plebe é a plebe. Come de tudo o que oferecem como se um maldito sanduiche de queijo quente se transmutasse num banquete dos deuses só porque se está flutuando a 12000 pés de altura. Também são responsáveis por algumas das exigências mais insólitas, na tentativa desesperada de mostrar alguma intimidade e fazer parte do big group ("me traga uma pinga de pequi com cereja turca por favor...").

Retirar a bagagem é uma epopéia à parte. Somos todos, naquele momento, acometidos por uma ansiedade irracional, incontrolável.
Daí a frase mais comum disparada a cada 5 minutos por alguém mirando a esteira e projetando a cabeça erraticamente como um cuco tonto por sobre as pessoas e carrinhos que bloqueiam o acesso, cercando as malas :
"- A minha não veio. Oh vida...oh azar. Só acontece comigo".
Mais 10 minutos e a mala aparece, para felicidade geral da nação e saúde do ansioso quase a ponto de um ataque cardíaco ou colapso nervoso.

É um festival enfadonho.
Especialmente porque caso haja uma pane, diferentemente do Titanic, nem com cartão Gold ou Planitum, nem mesmo os óculos escuros de griffe e o figurino descolado, nem com o estusiasmo e a inocência dos neófitos em avião: o fim será extensivo a todos.
Da primeira à classe econômica, sem botes salva-vidas para os previlegiados.

Sem classe... Para o completo desespero da turma fashion. Iguais...

sábado, 20 de novembro de 2010

Tô voltando (the inverse stereographic projection of a logarithmic spiral)

A idade deu-me novas perspectivas das coisas. Natural. Nada, nada é mais importante que a família, os amigos, nossa terra, nossa gente, viver, enfim. Simples...
Tô voltando. Cada vez mais perto... de certa forma nunca sai. Sempre estive por lá, em cacos, reminiscências, em minha convicção doentia.

Quase sempre nosso caminho é como a spira mirabilis de Bernoulli. Mas em certo ponto, embora a distância do início continue crescendo em progressão geométrica, nosso caminho passa a se assemelhar a um círculo, cristalizamos.
Então mudamos o rumo, tomamos o caminho da equação da curva inversa[1]... voltamos. A distância do início será cada vez menor. Passamos a ser cada vez mais parecidos com quem criticávamos e, nossos filhos, os passageiros da espiral logarítmica com r crescente. Eles num ponto da curva cada vez mais distante de nós, no centro.
É torcer pra que a lei se repita e haja também para eles um máximo onde as mudanças se aproximam do círculo, mínimas. A partir daí, inevitavelmente, voltarão para perto... de nós.
É isso ou estaremos cada vez mais - lastimavelmente - distantes deles.

(...)

Ponham água no feijão e chamem os amigos. Tô voltando...
_________________
[1] http://mathworld.wolfram.com/LogarithmicSpiralInverseCurve.html
Veja http://bugman123.com/Math/ShadowProjection.m1v e http://bugman123.com/Math/DoubleSpiral.m1v para animações da Logarithmic Spiral.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Tecla SAP "de cabra homi"

Teclar do computador do lobby de um hotel numa cidade do Texas tem seus percalcos. Esqueca os acentos, o C cedilha e outras cositas mas (não consegui configurar o 'regional settings' aqui).
Mas nao importa em qual ordem as letras de uma palavra estao, a unica coisa importante e que a primeira e a ultima letras estejam no lugar certo. O resto o cerebro decodifica e voce pode ler sem problema. Isto acontece porque nao lemos a letra isolada, mas a palavra como um todo.

Esperimente isso: fixe seus olhos no texto abaixo e deixe que a sua mente leia corretamente o que está escrito.

35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4 M05TR4R COMO NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35! R3P4R3 N155O! NO COM3ÇO 35T4V4 M310 COMPL1C4DO, M45 N3ST4 L1NH4 SU4 M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3, S3M PR3C1S4R P3N54R MU1TO, C3RTO? POD3 F1C4R B3M ORGULHO5O D155O! SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3! P4R4BÉN5!

Surpreendente. Depois de alguns segundos o cerebro encontra a chave para decodificar o texto.

(...)

Tal capacidade seria particularmente útil caso pudesse também ser usada na fala, o que infelizmente não é o caso.
Imagine você com a cerveja e o pratinho de azeitonas (Grand Cru e camembert para os chics) devidamente preparado para assistir Atlético x Cruzeiro (Flamengo x Vasco, Inter x Grêmio...), confortavelmente encaixado no sofá em frente à TV a dois minutos do apito inicial quando sua mulher chega da rua com algo urgente a dizer...

Essa tal "vamos discutir a relação" funciona bem só no 'Saia Justa' da GNT. E só lá, quando tinha a Young, a Luana Piovani - fazendo pinta de intelectual -, a Waldvogel (essa ainda tem) e a Betty Lago, que um dia proferiu a pérola que me remete ao sonho de que nosso cérebro pudesse fazer com a fala o que faz com os signos:
"- É balela quem diz que não pode haver casamento sem sexo."
Pode até ser. Talvez até seja verdade pra ela, caso tenha se casado com um estilista, cabelereiro baitola ou peroba genérico mesmo. Ou às vezes casou-se com o irmão da amada, pra não dar na cara.
O resto é só falta... e frustração. Muita.

Bom, mas voltando à vaca fria, imagine então que o discurso de sua esposa - exatamente no momento em que o jogo pegava fogo com o ataque do Galo botando na roda o timeco do Cruzeiro - toma ares de gravidade, digna de atenção.
Se pudéssemos depurar somente pela primeira e última palavras proferidas o discurso inteiro, perderíamos somente alguns segundos fingindo atenção. Depois era olho na bola rolando de novo.

Fato é que determinadas coisas são somente o que são: "homem é homem, menino é menino, politico é politico e baitola é baitola"[1].
Melhor que essa só o Tim Maia no programa do Jô:
"-Tudo é tudo... e nada é nada."

Anyway, alguns assuntos não merecem ser tão complicados. Não precisamos ser mulheres para sermos sensíveis. Elas não precisam fazer em pé e de porta aberta para mostrarem alguma dureza. Tá claro pra mim que o trauma do símbolo fálico não é problema nosso.
Melhor é sermos homens e mulheres, cada um na sua. É ai que a diferença faz a força, somados.

Mas pra quem discorda uma sugestão: peçam a volta da Young, Luana e da Betty Lago ao 'Saia Justa'. Anda terrivelmente sem graça menina.
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[1] Homem é Homem - Falcão

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Libertas Quæ Sera Tamen

Tenho visto diversos "manifestos" contrários a posição tomada por Chico e outros notáveis ("intelequituais" - valeu Millôr) com relação às eleições.
Saio em defesa... só do Chico (o resto nem sei se sabia o que fazia lá).

Niemeyer, como Althusser (ou não!), "engajou-se no que os acólitos de Althusser chamavam de "leitura sintomática de Marx". Isso significava que pensavam de Marx o que precisavam e ignoravam o resto. Quando queriam que Marx houvesse dito ou definido algo que não conseguiam encontrar em suas obras, eles interpretavam os "silêncios", construindo com isso uma entidade de sua própria imaginação. Chamavam o procedimento de ciência, uma ciência que Marx supostamente inventara e que poderia ser aplicada como uma matriz a todos os fenômenos sociais."[1]

Fato é que em sua biografia nunca li nada que remeta a alguma luta de fato. No máximo, o que retirei da Wikipédia e reproduzo abaixo desabona-o ainda mais:
"A luta política é uma das questões que sempre marcaram a vida e obra de Oscar Niemeyer. Em 1945, já um arquiteto conhecido, conheceu Luís Carlos Prestes e filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Niemeyer emprestou a Prestes a casa que usava como escritório, para que este montasse o comitê do partido. Sempre foi um forte defensor de sua posição como stalinista. Durante alguns anos da ditadura militar do Brasil autoexilou-se na França. Um ministro da Aeronáutica da época diria que "lugar de arquiteto comunista é em Moscou".Visitou a União Soviética, teve encontros com diversos líderes socialistas e foi amigo pessoal de alguns deles. Em 2007 presenteou Fidel Castro com uma escultura de caráter antiamericano: uma figura mostruosa ameaçando um homem que se defende empunhando uma bandeira de Cuba. Em seu discurso de 2007, onde Fidel fala em aposentadoria, faz referência ao amigo Niemeyer: "Penso, como (o arquiteto brasileiro Oscar) Niemeyer, que se deve ser consequente até o final". Esta frase foi repetida em sua carta de renúncia de 18 de fevereiro de 2008.
"Não me sinto importante. Arquitetura é meu jeito de expressar meus ideais: ser simples, criar um mundo igualitário para todos, olhar as pessoas com otimismo. Eu não quero nada além da felicidade geral"- Oscar Niemeyer.
Apesar do discurso comunista, da fama de ser desapegado de dinheiro e pródigo, de ter doado diversos projetos e não ter acumulado fortuna, seus projetos custam altas cifras ao Estado: em 2007, cobrou 7 milhões de reais pelo projeto da nova sede do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, tendo sua empresa recebido 33,5 milhões de reais do governo federal, entre 1996 e 2008, apenas por projetos de obras em Brasília."

Para ele não há defesa. Comunista de gaveta. Cereja do bolo, intelequitual útil. Melhor só olhar para os prédios. Esses não falam. São poesia...calados.

Mas tiremos o Chico dessa.
Não tenho nada a ver com sua postura política. Afinal, democracia e liberdade é isso mesmo. Ele é favor...eu contra...mas nem por isso sua obra é menor.
Aliás, revisitando, redescobrindo Chico, sua obra é maior.

Não confundamos as coisas.
Embora Niemeyer diga "que só quer a felicidade geral", nunca tive notícia de alguém sendo tocado pela providência numa comunhão milagrosa com Deus na Catedral de Brasília.
Estive lá. Bela obra arquitetônica. Arquitetônica. De fora. Lá dentro, só com um sistema de refrigeração de primeira. Faz um calor dos infernos (epa, blasfêmia).
Já do Chico, é so ouvir uma de suas centenas de músicas. Toca a alma, faz a felicidade geral sem levantar um tijolo da construção.

Bom, não caiamos nessa beligerância exacerbada que transformou as opiniões contrárias em inimigas e dignas de exclusão ou eliminação. Essa postura é mais característica nos partidários do grão mestre Squid, sim.
Esse não é nosso discurso, não é o discurso liberal (SIM! LIBERAL![2] Vá de retro patrulhamento ideológico!).

Ponha algo no som e relaxe.
Tente "Retrato em Branco e Preto",  "Quem te viu, quem te vê", "Pelas Tabelas", "Quando o Carnaval Chegar", "Pedaço de mim" ...
Me diga depois se vale a pena misturar as coisas.

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[1] Ver Tony Judt, Reflexões Sobre Um Século Esquecido 1901-2000 (RJ, 2008), p. 128
[2] O Liberalismo é um sistema político-econômico baseado na defesa da liberdade individual, nos campos econômico, político, religioso e intelectual, contra as ingerências e atitudes coercitivas do poder estatal.
Apesar de diversas culturas e épocas apresentarem indícios das ideias liberais, o liberalismo definitivamente ganhou expressão moderna com os escritos de John Locke (1632 - 1704) e Adam Smith (1723-1790). Seus principais conceitos incluem individualismo metodológico e jurídico, liberdade de pensamento, liberdade religiosa, direitos fundamentais, estado de direito, governo limitado, ordem espontânea, propriedade privada, e livre mercado.
A história do liberalismo abrange a maior parte dos últimos quatro séculos, começando na Guerra Civil Inglesa e continua após o fim da Guerra Fria. O liberalismo começou como uma doutrina principal e esforço intelectual em resposta as guerras religiosas, segurando a Europa durante os séculos 16 e 17, embora o contexto histórico para a ascensão do liberalismo remonta à Idade Média. A primeira encarnação notável da agitação liberal veio com a Revolução Americana, e do liberalismo plenamente explodiu como um movimento global contra a velha ordem durante a Revolução Francesa, que marcou o ritmo para o futuro desenvolvimento da história humana. Liberais clássicos, que em geral destacaram a importância do livre mercado e as liberdades civis, dominaram a história liberal no século após a Revolução Francesa. O início da Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão, porém, aceleraram a tendência iniciada no final do século XIX na Grã-Bretanha para um novo liberalimo que enfatizou um maior papel para o Estado melhorar as condições sociais devastadoras. No início do século XXI, as democracias liberais e as suas características fundamentais de direitos civis, liberdades individuais, sociedades pluralistas e o estado de bem-estar haviam prevalecido na maioria das regiões do mundo. O liberalismo defendia a descentralização politica. (FONTE: Wikipédia).

domingo, 14 de novembro de 2010

"Ando com minha cabeça já pelas tabelas"

O celular: a esposa batera o carro. Em meio aos arranjos para remediar a situação, ainda do escritório, o instant messenger desatou a piscar, intermitente. O Gerente. Algo saira errado com o transporte da última alteraçao de sistema que mandara para produção e a repercussão no Negócio atingira o ponto das reclamações disparadas a esmo de todas as plantas, como se o mundo estivesse acabando. Antes mesmo de digerir a segunda notícia e iniciar as providências foi abordado por um colega com mais uma: todos os testes de projeto no ambiente de aceitação haviam parado em consequência das alterações que fizera num programa compartilhado. A essa altura, já não era mais possível distinguir as solicitações, hierarquizá-las, estabelecer um plano de ação e resolver uma de cada vez. Aquilo já era um estouro de boiada.

O celular tocava, o fone do escritório também, o instant messenger piscando na tela e dois, três já o cercavam em seu cubículo, falando ao mesmo tempo. Atendeu o fone do escritório e disse a quem quer que estivesse do outro lado "que chamasse o seguro, pegasse um táxi e fosse pra casa". Ao celular respondeu sem pensar "I'm already verifying this out. I'll take the proper actions, promptly. Do not worry". No instant messenger digitou peremptoriamente: "voltem pra suas mesas e me deixem procurar a causa do problema em aceitação". Levantou-se e sem dirigir o olhar ou a palavra, como se não estivessem lá, passou pelos três que continuavam a fazer perguntas atrás dele. Provavelmente nem os viu. Foi até o café. Ligou o ipod no caminho e entre "...Claro que ninguém se toca com a minha aflição/Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela/Eu achei que era ela puxando o cordão/Oito horas e danço de blusa amarela/Minha cabeça talvez faça as pazes assim/Quando ouvi a cidade de noite batendo as panelas/Eu pensei que era ela voltando pra/Minha cabeça de noite batendo panelas/Provavelmente não deixa a cidade dormir..."[1] cantarolou com Chico.

Tomou um café, pensou na vida, voltou, sentou-se e, em 40 minutos, resolveu tudo.
O resto do dia seguiu sem maiores emoções.

Porém, mais tarde atendeu uma ligação, era o Gerente ligando do estrangeiro. Perguntado "what the hek did you mean with 'chamar o seguro'??? What did you talk to me in portuguese?", respondeu com uma pergunta:
- Sorry, what are you talking about? - O Gerente desistiu. O problema fora resolvido. Era o que interessava. Confused was, confused still.

Encontrou depois os três colegas, não ao mesmo tempo, querendo saber o que tinha feito pra resolver esse, aquele, o outro problema do teste. Se mostrou surpreso:
- O que???
Ficou por isso mesmo.

No computador fechou todos os instant messengers sem ler. Ligou pra casa e certificou-se que a esposa estava bem. Também ouviu dela uma pergunta semelhante a do Gerente, mas a questão agora era porque falara em inglês com ela.
- Como??? O que??? - Ela não se interessou mais por saber. Deixou passar. Resolvera tudo sozinha e estava exausta demais pra dar trela pra mais aquela bizarrice dele.

O dia acabou...
Colocou de novo o ipod e tomou o rumo de casa: "Quando ouvi a cidade de noite batendo as panelas/Eu pensei que era ela voltando pra/Minha cabeça de noite batendo panelas/Provavelmente não deixa a cidade dormir/Quando vi um bocado de gente descendo as favelas/Eu achei que era o povo que vinha pedir/A cabeça de um homem que olhava as favelas/Minha cabeça rolando no Maracanã/Quando vi a galera aplaudindo de pé as tabelas/Eu jurei que era ela que vinha chegando/Com minha cabeça já pelas tabelas/Claro que ninguém se toca com a minha aflição/Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela/Eu achei que era ela puxando o cordão/Oito horas e danço de blusa amarela/Minha cabeça talvez faça as pazes assim/Quando ouvi a cidade de noite batendo as panelas/Eu pensei que era ela voltando pra/Minha cabeça de noite batendo panelas/Provavelmente não deixa a cidade dormir/Quando vi um bocado de gente descendo as favelas/Eu achei que era o povo que vinha pedir/A cabeça de um homem que olhava as favelas/Minha cabeça rolando no Maracanã/Quando vi a galera aplaudindo de pé as tabelas/Eu jurei que era ela que vinha chegando/Com minha cabeça já numa baixela/Claro que ninguém se toca com a minha aflição..."[1].

É...
A melhor explicação as vezes é...
(...)explicar coisa nenhuma.
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[1] Pelas Tabelas - Chico Buarque

sábado, 6 de novembro de 2010

Réquiem: da vida só o levaram morto!

A morte é tão inevitável quanto a vida. De fato. Ninguém escolhe nascer.
No entanto, alguns escolhem morrer por um ideal, missão ou sonho. Por ironia, esses por vezes terminam imortais.
Outros, simplesmente desistem de viver. Por antagonismo direto trilham o caminho do suicídio.

Embora recorramos às crenças e religiões como consolação em relação à morte de um ser amado ou à prospecção da nossa própria morte, o assunto permanece para a maioria de nós como um tabu ou frustração irremediável.

Da Wikipédia trago o seguinte:
"Do ponto de vista científico, não se pode confirmar nem rejeitar a idéia de uma vida após a morte. Embora grande parte da comunidade científica sustente que isso não é um assunto que caiba à ciência resolver, muitos cientistas tentaram entrar nesse campo estudando as chamadas "experiências de quase-morte" e o conceito de "vida", que se associa ao de "consciência". São consideradas duas hipóteses:
A consciência existe unicamente como resultado de correlações da matéria. Se esta hipótese for verdadeira, a vida cessa de existir no momento da morte.
A consciência não tem origem física, apenas usa o corpo como instrumento para se expressar. Se esta hipótese for verdadeira, certamente há uma existência de consciência após a morte e provavelmente antes da morte, também, o que induziria às tentativas de validação da reencarnação".
 
Eu cá, humildemente, considero a "utilidade" da morte em dois aspectos:
(i) Serve para confrontar-nos com nossa própria finitude; a finitude de nossas crenças e verdades absolutas, a relatividade de nossas leis e perspectivas acerca do que é certo ou errado, nossa própria pequenês, enfim;
(ii) Instigar em quem fica um sopro de vida - ou de morte - como consequência da perda de quem amamos ou apreciamos. Enquanto em alguns faz nascer a motivação e o exemplo em outros desencadeia diametralmente o oposto: o mote para a depressão do suicídio.
 
Diferentemente de Camus e seu 'Mito de Sísifo', não tenho a menor intenção (nem a sapiência) para embrenhar-me pelo assunto sob a luz da filosofia e/ou da psicologia do absurdo.
Na verdade só considero válida a opção (ii) até a parte da motivação e exemplo.
O suícídio, por outro lado, faz menos sentido para mim que a morte em si mesma.
 
No fim vivemos a vida na ironia de morrer um pouco a cada dia - nossa contagem regressiva.

(...)
 
Fui apresentado a ele por um ex-sócio, alguém que em teoria deveria ser meu amigo. O que aconteceu foi exatamente o contrário. Pelo tal ex-sócio nunca nutri uma amizade real pela mais absoluta falta de afinidades. Já por ele, a simpatia foi instantânea.
Não foi um herói que mereça longos discursos, homenagens e adaptações em sua história para acomodá-lo como um mito perfeito. Foi apenas humano. Amigo.
Suficiente!
 
Acometido por uma doença que continua a dizimar-nos sem parcimônia, viveu...e viveu...até o fim.
Lutou relegando os prognósticos médicos aos seus devidos lugares, ao vazio. E na verdade eles não significam nada para alguém que não desistirá de lutar. Nunca.
"Era seu conforto, da vida só o levariam morto".

Aconteceu hoje, inevitável.
Mas acho que ele ainda luta, agora para sempre, já que foi a luta a última reminiscência em sua consciência.
 
A ele minhas homenagens e um desabafo de quem anda desolado pela falta de crença e acometido pelo ceticismo do absurdo:
 - És madeira de lei!!! Que te recebam outros que nos deixaram e que hoje talvez nos esperem. Que todos esperem por nós juntos, agora. Que Motinha, Tião, Fabeca, te recebam e o acolham.
Saiba, és madeira de lei!!! E se agora voltas ao pó, é porque só te levaram morto.
Aqui, viveste até o último suspiro. Foi até o fim...sem desânimo, sem arrependimento. Como tem que ser...
"Good night sweet prince"[1]...
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[1] Hamlet, Act V, Horatio, scene ii - Shakespeare