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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

"Até o fim..."

Lembro-me - em flashes - de um dia chuvoso, todos a bloquearem meu pai para que ele não saísse de carro, de sua determinação trôpega e desarticulada de jogar o carro no córrego da Mariano Procópio no João Pinheiro/Vila Oeste.
Lembro da confusão, da vã diplomacia dos amigos para demovê-lo do intento, que no final, aconteceu comigo dentro do carro, para desespero de minha mãe.
A promessa foi paga, todavia.
Era 1971. Tinha eu 5 anos, então.

Tirar o carro do rio foi outra história.
O carro, um Chevrolet 42, canadense, apelidado de "Gambá" pelo velho. Nenhuma analogia com o bicho malcheiroso, porém. O carro era uma relíquia, uma máquina que suportou meus caprichos infantis para que meu pai ultrapasse a todos, Fuscas, Opalas, Dodges, tantos outros... ninguém à nossa frente.

Não entendia aquilo com a perspectiva exata, era mais um espetáculo, uma espécie de circo. Reconstrui o cenário a partir do mosaico das lembranças, dos pedaços, e vislumbro agora toda a cena, seu sentido absurdo.

O Galo foi campeão brasileiro naquele ano, aguçando o fanatismo do velho.  O "Glorioso" campeão e Dadá "peito de aço" o artilheiro. E eu virei atleticano. Pra sempre!!!
Poucos podem dizer que torcem para um time em consequência de um ato ensandecido, uma irresponsabilidade alcoólica do pai na comemoração de um título, no pagamento de uma promessa. Homens eram assim. Falavam, cumpriam. Perdia-se o patrimônio, não a palavra. Irresponsável, eu sei. Mas estamos vivos... e as lembranças tem outro tom hoje.

Desde então tem sido um calvário: 1977, 1978 na Libertadores, 1980, 1999, 2005.
Mas ninguém muda de sexo (ou muda?), nem de time (só o Joãozito). Eu sou é Galo, como meu pai, como meu filho, como fui toda a minha vida. Isso é tudo!
Sou mais um da torcida que mais comparece ao estádio em toda a história do Brasileirão. Não interessa se a série é A, B, W, ou o escambau. Não importa se vamos mal ou bem.
Somos chamados de "Massa" atleticana, e temos a 12. Isso mesmo, a camisa 12 é da Massa (em 25 de novembro de 2006, o Atlético imortalizou a camisa 12, que representa o torcedor atleticano e não será mais utilizada por nenhum atleta. A iniciativa atleticana em homenagem à torcida foi a primeira do Brasil e já foi, inclusive, copiada por outros clubes do país. Fonte: Wikipédia).

Agradeço ao velho por forjar-me teimoso, assim...
Como Gêra, aroeira atleticana que resiste a tudo e todos, resiste até ao tempo, renovamos a força na teimosia, no sangue e na raça.
As facilidades ficam para os outros. Pra nós é tudo difícil mesmo.

E assim seguimos.
Com uma alegria que nunca sentirão, mesmo depois de ganharem mais um título.
Uma alegria que não vem da mente, da razão. Uma alegria preta e branca, bruta... do fundo do peito, da alma, do coração.

Eu sou é Galo sim meu irmão!!!

"Quando nasci veio um anjo safado
Um chato dum querubim
E decretou que eu estava predestinado
A ser todo ruim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas VOU ATÉ O FIM!!!"[1]
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[1] Até o Fim - Chico Buarque