sábado, 21 de dezembro de 2013

Cruzeiro de C é R

Não sou hipócrita. Fair play de C é R. Quero que o Cru... se exploda. Sempre quis. Nunca neguei, em tempo algum. Isso faz parte do DNA do atleticano. Quem disser o contrário, ou não é galo ou tá doente do pé.
Porém, ainda mantenho certa sanidade quando discuto futebol. Embora concordasse que estádios fossem o lugar apropriado para salivarmos feito cães raivosos, durante 90 minutos e separados por cercas, cordões de isolamento e a polícia (isso antes da barbárie de Santa Catarina ... ou da briguinha entre os "torcedores do PT" e o resto. Pão é pão, queijo é queijo... e política não é futebol. Vide http://www.strategosaristides.com/2010/10/depois-de-ver-o-noticiario-de-ontem-com.html e aqui http://www.strategosaristides.com/2010/10/o-cachorro-de-pavlov_24.html), teimo em continuar pensando, buscando causas e razões para as coisas, usando na medida da minha ínfima inteligência, a lógica (a Aristotélica meu filho...). Ato desprezado hoje em dia, bem sei.
E antes que um mané qualquer confunda esse fanatismo, essa paixão por um time com vandalismo, barbárie e essa bestajada de torcidas organizadas que deram agora pra brigar até em festa de comemoração de título, interrompo: perá lá psiu! Tô aqui escrevendo pra quem sabe ler... Não é analfabeto funcional e nem cancela festa de comemoração com cerveja de graça na base da porrada entre patrícios.

Nas minhas pelejas contra a bicharada nunca teve contato físico, e por Deus, espero que nunca tenha. Só de imaginar me agarrando a um cruzeirense já me dá urticária. Pior, vai que o cabra se apaixona?
Dai que um jogo mal jogado do meu glorioso não se transforme em nada mais que um jogo mal jogado. Mesmo que o juizinho tenha inventado um pênalti numa hora horrível, nada mudaria a péssima partida. Perdemos vexatóriamente, mas merecidamente. Que o Raja atropele o Bayern (difícil...). Ano que vem tem mais.
(...)
Meu filho chorou quando da derrota. Expliquei a ele que meu calvário havia durado até a Libertas desse ano, que não se abatesse que isso faz parte. Pra um time que me deu a alegria que tive em Julho, desenterrando a cabeça de porco plantada por algum bichano azul no CT de Vespasiano, tiro o chapéu, aplaudo e me preparo para o ano que vem. Vai ter mais, alegrias e tristezas, por certo. Muito obrigado ao galo esse ano, independente do vexame da quarta. Mas não tenho esperança de que a azurada entenda do que estou falando. No hope.

No entanto, depois de 3 dias de insultos diversos pululando de toda parte, não poderia deixar de dar uma resposta aos que fizeram a escolha de torcer para o Cru... mas que não tiram o galo da cabeça pelos últimos dois anos. Preocupado com tamanho infortúnio, pesquisei seu mal e, parafraseando o Olavo, descobri que sofrem da famigerada 'obsessão do galo doido do inferno'.
Isso processa-se da seguinte maneira: toda noite quando o cabra vai dormir, sobe do fundo do inferno um enorme galo de fogo, entra pelo fiofó do incauto bichano azul, vai até a cabeça, queima tudo, transforma tudo em vácuo, enchendo depois a caixa craniana de penas de galináceo. Dai em diante, é só pena que voa em tudo o que o infeliz falar... E o maganão não tira mais meu galo da boca, mesmo sendo ele um Super Mario Bros. (aquele bigodinho foi piada pronta) azul. Enternecido com tão grande revés obsessivo, perdôo-lhes e até concordo com eles hoje: mundial de C é R.

Verdade verdadeira: C de Cru sempre será R.

Cospe ou engole?

Um amigo, cuja veia cômica mereceria mais sorte, tinha mania de abordar alguém da turma com a deliberada intenção de cortar e mudar o assunto, lançando ao interlocutor a pergunta infame:
- você cospe ou engole?
O resto era só riso.

Percival, no artigo abaixo, não está de brincadeira. Mas eu não resisti à analogia. No fundo, pra mim que partilho da definição de livre pensamento do Millôr, o resto é mesmo só boquete ideológico. Pois é disso que se trata.
Vai ai...

A VIDA SEM MENSALÃO
Percival Puggina


Mensalão, você sabe o que é. É aquele crime que levou José Genoíno a demitir-se da presidência nacional do PT em 9 de junho de 2005 e o mesmo crime pelo qual Tarso Genro, ao substituir Genoíno no posto, pediu a "refundação" do partido. É o mesmo crime que conduziu à exoneração de José Dirceu do cargo de ministro-chefe da Casa Civil em 16 de junho de 2005. O mesmo crime pelo qual Lula pediu perdão ao país, em rede nacional, no dia 12 de agosto de 2005. O mesmo crime que, em setembro de 2005, constrangeu centenas de militantes e dirigentes petistas a deixar o partido, filiando-se ao PSOL. O mesmo crime que justificou a cassação do mandato de José Dirceu pela Câmara dos Deputados, em 1º de dezembro de 2005, numa votação secreta, com placar de 293 votos a favor e 192 contra. O mesmo crime que foi reconhecido como existente pelo atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em entrevista à revista Veja, na edição do dia 20 de fevereiro de 2008. O mesmo crime que deu causa à condenação de 25 réus por um plenário do STF onde oito dos onze magistrados foram indicados pelo PT. O Mensalão é o mesmo tipo de crime que os petistas, em uníssono, acusam ter ocorrido anteriormente em Minas Gerais, num governo tucano (o processo está no STF aguardando decisão sobre onde deve ser julgado).

O Mensalão é, também, por fim, aquele crime que as mesmas legiões de petistas, em misto de exaltação cívica e amnésia seletiva, punhos erguidos ao vento, afirmam, agora, que simplesmente não existiu! Gerou uma hecatombe interna, mas não existiu. A gente compreende. É a causa. Ela sempre está em primeiro lugar. Ela ocupa o centro de um altar onde tudo se sacrifica - a verdade, a história, a lógica, o amor próprio. É o velho tema dos fins e dos meios, que todo mundo conhece. Uns cospem fora. Outros engolem sem nenhuma dificuldade.

Durante muitos anos, a disciplina da base do governo vinha sendo mantida com a liberação de emendas parlamentares. Era um mecanismo que funcionava em três tempos: 1º) o congressista apresentava propostas pessoais ao Orçamento da União, dentro de um limite que neste ano ficou em R$ 15 milhões para cada um, destinando os recursos para demandas de suas bases eleitorais; 2º) o Congresso aprovava o Orçamento; 3º) as emendas só eram liberadas, gradualmente, ao longo do exercício, segundo o bom comportamento do seu autor nas votações de interesse do governo. Nesse caso, para que o Mensalão? Ora, o Mensalão foi um adicional, um "por fora", agregado a algumas bancadas, ou a parte delas, para - digamos assim - aumentar o entusiasmo da adesão dos deputados ao governo petista. Congressista feliz com o governo faz o governo feliz.

Tivessem os líderes dos partidos beneficiados com os repasses do Mensalão revelado os nomes dos colegas recebedores, haveria, certamente, mais de uma centena de réus no processo. Os líderes, no entanto, suportaram sozinhos os ônus do criminoso papel desempenhado. Roberto Jefferson, líder do PTB, indagado sobre quem recebera os valores que lhe foram entregues, respondeu que isso ele não revelaria nem amarrado num toco levando chicotada.

E agora? O Congresso Nacional aprovou, há poucos dias, um projeto que torna obrigatória a liberação das emendas apresentadas pelos congressistas, com a condição de que sejam destinadas à saúde pública. É um avanço. Acabou a chantagem do governo sobre os parlamentares através da liberação ou não dos recursos correspondentes às emendas que apresentam. E acabou também o Mensalão, porque dá cadeia. Como fica, então, a negociação do governo com sua base, na ausência de moeda de troca? Como assegurar-se a fidelidade de uma base habituada a negociar periodicamente seu apoio ao governo?

A política nacional desceu a um nível baixíssimo. O presidencialismo multipartidário de cooptação impõe seus rasteiros estratagemas de governabilidade: apoio é coisa que se compra. De momento, o governo tem apenas cargos para oferecer. Isso não basta, os cargos já estão ocupados e não assegura maioria para todas as votações em que sua base deve permanecer unida. Que será que vem por aí? O sistema ficou manietado!
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* Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Unanimidade burra

Nunca gostei de chamar a atenção nem de falar em público... menos ainda de tocar as duas ou três músicas que sei ao violão - das quais não consigo mesmo me lembrar das letras.
Enfim, constato novamente que nasci mesmo desprovido de qualquer carisma, esse dom que se concedido ao cabra errado transforma charlatães em gurus, picaretas em intelectuais, analfabetos em colunistas do New York Times.

Evidente que para um psicólogo ou sociólogo progressista o diagnóstico seria diferente e as declarações acima, filtradas pelo crivo do politicamente correto e da novilíngua engajada definiriam-me como reacionário pequeno burguês, racista, preconceituoso, fascista, etc. etc. etc., seja lá o que isso signifique.
Qual explicação qual nada... palavras-gatilho são o novo moedor de consciências e o inibidor de sinapses mais efetivo que existe transformando idiotas úteis em linchadores e juizes de crimes de opinião. Junte-se a isso os artigos dos pseudo-intelectuais (os intelequituais de quem o Millôr tirava sarro) que dizem explicar, mas ao contrário, só usam e abusam da erística (quando muito) para impor seus sofismas. Como argumento de autoridade citarão Singer, Safatle, Chaui e até Frei Betto. Todos pensadores de uma nota só, ou virão com um desses artigos pinçados de algum AIE na imprensa ou blogosfera oficiosa, idônea e "livre como um táxi". A geometria Euclidiana nas mãos desses think tanks ideológicos só teria negado o postulado das paralelas se atendesse ao partido. Caso fossem o padre jesuíta Girolamo Saccheri (1667-1733), certamente teriam queimado o resultado frustrado da prova por negação ou redução ao absurdo do quinto postulado de Euclides e estaríamos até hoje sem as geometrias Riemanniana ou de Lobachevski. E Einstein teria penado um pouco mais pra explicar a relatividade sem elas. Relatividade, que não por acaso - mas no sentido pejorativo - tornou-se o mantra para validar qualquer descalabro à luz da causa. É a zorra...
A militância é tão extensa que hoje o linchamento de qualquer opinião que não se alinhe ao status quo é norma e fato. Sequestraram a bondade e tornaram-se os guardiões do que é certo ou errado.

Do blog do Briguet trago referência a dois tipos dessa trupe iluminada no passado:
Goebbels disse: “Aqui eu decido quem é e quem não é judeu”.
Beria disse: “Aqui eu decido quem é e quem não é inimigo do povo”.

Hannah Arendt sabia bem onde terminariam arroubos como esses e dizia: "O revolucionário mais radical se torna um conservador no dia seguinte à revolução."

(...)

Com isso me lembro imediatamente da frase de um amigo: "quando me vejo me acho uma b... Mas quando me comparo..."

(...)

Continuo me achando um m... E sei que a cultura anda escondida por ai, dispersa em livros e livros aos borbotões, acima e abaixo do óbvio propalado oficialmente como tal. De quando em vez me atrevo a escavar e ler algo relevante... ainda.
No entanto, a preguiça me compele no mais das vezes ao voyeurismo, puro masoquismo, como ver a TV Câmara ou TV Senado na época em que não tinha TV a cabo.
Ai, por vezes sou acometido de súbita ira e vontade lancinante de esculhambar com algumas tolices e paralogismos que leio das redes.
Mas (in)felizmente passa minutos depois. Lobão (logo ele) me ensinou que isso seria o mesmo que jogar xadrez com pombo. E francamente, ando sem a menor paciência de falar com malucos.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Puppets

Nunca tive paciência para ver a Ana Maria. Como se ela já não fosse o bastante, seu louro José ainda "poria meus neurônios no pau sem cachorro". Ai me lembrei de outros programas que abusam do artifício de botar bonecos em cena pra falar coisas engraçadas com aquela sutileza e naturalidade de um trator desgovernado no canteiro de hortaliças.
Tem a Palmirinha e seu irritante Guinho, tinha o Ratinho e seu xaropinho. Todo esse humor pasteurizado me lembra alguns filmes do Mel Brooks, que tirando o pastelão cult do Agente 86, nunca me fizeram rir.  Mas sei que o errado sou eu, afinal, o American Film Institute elegeu 'Primavera para Hitler' como uma das 100 melhores comédias de todos os tempos. Errado e mal informado, porque esse ai nunca nem vi.
Mas voltando aos bonecos de programa - honi soit qui mal y pense, me refiro aos bonecos que nada tem a ver com sexo remunerado -, parece ser mandatório ter algumas qualidades:
Egolatria - tem que aparecer mais que a protagonista do programa; ser humorista, ainda que o pior daqui até Marte; e falar feito uma matraca mesmo sem nada pra dizer.
Bons tempos aqueles em que via na TV Cultura o Castelo Rá-Tim-Bum com minhas filhas pequenas. Ainda me lembro do Godofredo, do Mau descendo pela tubulação como numa montanha russa a repetir:
- Tô chegando... Tô chegando... Tô chegando... Godofredo?!?... Cheguei.
Depois desatava a vangloriar-se de suas maldades, que iam desde lambuzar manteiga na árvore da Celeste (a cobra cor-de-rosa do Castelo), até o passeio no jardim para "amassar, pisotear, destruir todas as flores"... pra logo depois exigir do Godofredo que não desse com a língua nos dentes revelando que ao invés experimentara a manteiga, gostara e convidara Celeste para saborear pão com manteiga; e que o jardim, permanecera intacto, com as mais belas flores.
Eram todas maldades de mentirinha, ritos de um quadro num programa infantil que culminava invariavelmente na gargalhada fatal do Mau, aquela que ninguém esquece.
Fazia sentido, e era deliciosamente engraçado.
Mas hoje o que vemos é a infantilização de programas para adultos. Quando não lançando mão de bonecos, usam o funk, axé, a novela, a fazenda, a gostosona, o pânico, as redes sociais.

Do artigo 'Bebezões a bordo', por Pedro F. Bendassolli e Maurício C. Serafim FGV-EAESP, http://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/4710.pdf   leio o seguinte:

Para se ter uma idéia melhor da referida inversão, vamos apresentar quatro visões até então influentes sobre o que é ser adulto. 
A primeira vem da história: na Idade Média, a criança não tinha um estatuto próprio, sendo socialmente vista como um adulto em miniatura. Isso era expresso na arte da época, como mostrado na figura abaixo. Nesse sentido, exigia-se da criança comportamentos iguais aos que se exigiam do adulto, em um fenômeno que poderíamos chamar de “adultização da criança”. Foi só a partir do século XVII que a criança começou a ser vista com características próprias, com um mundo à parte, diferente do mundo adulto no qual deveria se inserir com o tempo.
A segunda visão vem da filosofia. Ser adulto – na influente visão do Iluminismo, corrente filosófica iniciada com os filósofos René Descartes e completada por Emmanuel Kant – é desenvolver o intelecto, fazendo-o chegar à maturidade – fato tangibilizado pelo desenvolvimento do discernimento, da autonomia de idéias, da capacidade de decisão própria e da responsabilidade em relação a elas. O indivíduo idealizado pelo Iluminismo era alguém “consciente de seus pensamentos e responsável por suas ações”. Dessa forma, o homem adulto poderia ser entendido como sinônimo do “homem que ousa pensar”.
A terceira visão vem de uma tradição sociológica específica. Para o influente sociólogo Norbert Elias, por exemplo, o homem moderno surge graças ao processo por ele denominado civilizacional. Embora Elias não se interrogue especificamente sobre o que é ser adulto, empreende um brilhante estudo no qual mostra que as antigas “classes bárbaras” (pessoas “sem modos”) foram pouco a pouco se convertendo em classes civilizadas, hábeis à mesa, no uso de garfo e faca, no domínio de comportamentos públicos. Ser adulto, nesse caso, é ser alguém capaz de dominar uma determinada etiqueta social.
E a quarta visão vem da psicanálise. Sigmund Freud foi um dos primeiros pensadores a mergulhar fundo na vida mental do adulto, vendo-a como reflexo – ou continuidade, sob outra perspectiva – da vida infantil, repleta que é de  conflitos e dilemas não resolvidos. Em uma interpretação ampla da visão freudiana, poderíamos dizer que o adulto é alguém capaz de responsabilizar-se por seus próprios desejos. Alternativamente, o adulto é alguém capaz de superar a onipotência infantil, de acordo com a qual o mundo (e as pessoas nele) estaria aí a nosso inteiro serviço, pronto a satisfazer todas as nossas necessidades e a minimizar todas as nossas frustrações. O adulto seria, então, reflexo da quantidade de frustrações que, em vez de levá-lo ao desalento, o confrontaram com suas próprias limitações e o fizeram crescer.
Negação geracional. Cada uma das quatro visões anteriores sobre o que é ser adulto vem sendo fortemente subvertida na atualidade, e aqui novamente a tese de Michael  Bywater precisa ser retomada. De fato, o sintoma social de infantilização do adulto mostra que existe hoje, em grande parte de nossas sociedades “civilizadas”, uma espécie de negação geracional: os pais, os adultos, enfim as figuras de autoridade (portanto, pessoas “crescidas”), estão abdicando de seu papel. Mas por que, afinal, essa negação ao amadurecimento? 
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Gosto mais da segunda, estamos presos na Matrix porque imbecilizamos. Nossa estupidificação é patente, viramos alvo fácil da engenharia social.
Da minha parte ando buscando Morpheus e a pílula vermelha.
As vezes isso vem em forma de um bom livro, embora dure pouco...

Mas no mais das vezes não há saida fácil, e me pego revendo o Mau... sua gargalhada fatal...
Sem culpa! Imune a Ana Maria, imune ao Face.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

AQUI É GALO!!!

Kalil filho dedicou o título ao pai, presidente do lendário time de 80 a 85 que vi jogar quando criança, com Reinaldo, Cerezo, pra falar pouco.
Eu dedico ao meu, que me fez irremediavelmente atleticano! 
Hoje eu e meus filhos choramos por meu pai, choramos pelo Galo... Campeão da Libertadores de 2013.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Cobra cega...


Joguei pequenos seixos pelo caminho caso depois de anos quisesse retornar e ver a radiografia do que fui. Passaria a ser fonte de mim mesmo, para o certo ou para o errado, ou até para sentir vergonha, constatar alguma estultícia ou ingenuidade.

Aconteceu...
Diante dos acontecimentos recentes, nada tenho a dizer... que já não tenha dito.
Tomara esteja errado...




http://www.strategosaristides.com/2011/01/diario-da-corte.html
http://www.strategosaristides.com/2011/02/nova-ordem.html

"... And therefore think him as a serpent's egg 
Which hatch'd, would, as his kind, grow mischievous..."[1]
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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Tudo foi dito

O que poderia dizer, mas faltava vontade, o Briguet resumiu.
Tudo foi dito...
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Abaixo a passeata
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Somando a quilometragem de todas as passeatas e viagens de ônibus em minha vida, acredito que chegaria ao Muro das Lamentações. Na verdade, cheguei – já estou em Jerusalém! Para quem não sabe dirigir automóvel, até que fui longe, não?
Em 25 anos de maioridade, participei de incontáveis manifestações políticas. Nos tempos de DCE e sindicato, eu era uma espécie de animador de festinhas ideológicas, um Silvio Santos mirim trotskista. Com o tempo, esse amigo, descobri que o silêncio da crônica é infinitamente melhor do que a algaravia dos atos públicos. Parei com as paradas.
Já gritei fora Sarney, fora Collor, fora FHC. Também gritei fora Lula, mas ninguém deu bola. Jamais quebrei uma janela, nem sequer disse um palavrãozinho ao microfone. Só estive perto de botar fogo em alguma coisa quando esqueci o Miojo esquentando no fogão da República. Sim, houve aquela madrugada em que saqueei a geladeira, mas ressarci o Beto e o Baiano na hora do rachid. Em nossa República não havia mensalão.
Soube que me “homenagearam” nas passeatas aqui em Londrina. Infelizmente, o slogan é impublicável neste jornal. Mesmo assim, enviei mensagens a alguns amigos e desconhecidos pedindo que se cuidem. Rezo por todos.
Acho que nada vai dar em nada. Sou absolutamente pessimista quanto à hipótese de salvar o país. Se conseguirmos salvar algumas almas, já está bom. Não acredito em revolução, só em vida eterna: e digo que uma é o contrário da outra. Se todos estivessem em casa lendo as confissões de Henry Miller ou Nelson Rodrigues, seria muito mais produtivo.
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Por falar em leitura, se você quer compreender melhor a formação e a identidade de nossa gente, leitura imprescindível é “Terra Vermelha”, de Domingos Pellegrini. O livro está sendo relançado hoje. Perca a passeata, não o romance.
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Paulo Briguet - http://www.jornaldelondrina.com.br/blogs/comoperdaodapalavra/

Yo vengo a ofrecer mi corazon


FITO PAEZ  'YO VENGO A OFRECER MI CORAZON' CON SOSA Y HEREDIA

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Calor e sombras

Hugo Lanza mal se lembrava de quem fora, embora aqui e ali jogados em prateleiras da estante do quarto um ou outro livro ainda trouxesse-lhe lampejos, espasmos dolorosos do passado. Lembrava-se de Kafka e da transformação de Gregor Samsa numa barata gigante, mas apenas para perder-se logo depois por entre uma multidão de baratas bípedes, de ternos, gravatas, no escritório, nos consultórios, ruas, ônibus, de jeans, vestidos, suéteres. Duvidava que resistiriam a uma bomba nuclear mas sabia com certeza que sobreviveriam sem cabeça por pelo menos um mês, pois lera um dia que um gânglio nervoso em seu tórax passaria a coordenar os movimentos permitindo que fujissem das ameaças, e disso lembrava-se bem. Como em seu corpo haveria um revestimento de células sensíveis à luz, poderiam localizar e correr para as sombras a fim de se proteger.
Um cérebro no estômago... as sombras... faziam um estranho sentido. De alguma forma, aquilo explicava sua melancolia crônica trazendo-lhe certa paz, resignada.

A ausência de sua imagem refletida nos espelhos ou a imagem de outrem no lugar não o incomodavam mais. Não tinha mais ideia de como havia se parecido, nem mesmo uma memória residual nesse caso. Um vampiro, ou talvez a bala no crânio como em Winstom e o grande irmão, sua distopia.
Andava sem pensamento próprio na maioria do tempo, apenas atormentado aqui e ali por epilépticos takes como cacos de memórias que desconhecia, como se suas não fossem. Ainda ouvia do fundo da cabeça uma chamada estranha a susurrar-lhe frases, "All's well that ends Wells"[1], nomes... Pavlov, Watson.

Embora vivesse ao sul do equador, nos trópicos, e de ter o sol como parceiro e autor de temperaturas médias perto dos 26 graus, sua perspectiva doente turvava a beleza da cidade no lúgubre e úmido universo russo de Fiódor, Franz, os únicos autores cujos livros ainda faiscavam suas remotas e esporádicas lembranças.
Dai estar sempre de blusa, independente da temperatura...

Lá fora o mundo sempre o mesmo, como se dias, meses e até anos não medissem mudanças, apenas uma contagem insossa e desnecessária. O suor, a pele oleosa. As sombras... seu cérebro talvez no estômago, como Gregor Samsa, só que bípede, indo ao trabalho todos os dias, autômato, como todos.
"Como um cão" [2].
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Figura: Gregor Samsa | Calibre Cultural
calibrecultural.wordpress.com 
[1] H. G. Wells, "Dr. Wells", Escritor britânico e socialista utópico, cujo livro Men Like Gods foi um incentivo para Admirável Mundo Novo. Huxley escreveu em suas cartas: "All's well that ends Wells" (claro jogo de palavras utilizando o conhecido provérbio "Tudo bem quando termina bem" utilizado também por Shakespeare como título de uma de suas peças) para criticar Wells por seus pressupostos antropológicos ao qual Huxley achava irrealista. Fonte: Wikipédia
[2] O Processo - Franz Kafka, 1925

quinta-feira, 25 de abril de 2013

25 de Abril

25 de Abril foi um marco. Naquele dia meu caminho foi redesenhado, e seja lá o que tinha em mente até então, simplesmente deixou de ser minha prioridade. Tudo o que veio depois foi inevitavelmente a consequência daquela manhã. E se hoje saio de casa para o trabalho é porque tenho uma razão para voltar. 25 de Abril de 1990 me deu um motivo indestrutível para seguir. Tudo por causa daquele dia, e tenho agora mais dois dias inesquecíveis para lembrar... e ainda descobri a mulher da minha vida. Nada mal para um idiota que nem planejara bem o que queria da vida.
Antes tarde do que nunca...

Sou um servo consciente e feliz dos meus. Na verdade, como meu velho e minha mãe, acho mesmo que só faço sentido assim.
Para muitos parecerá pequeno, afinal, nunca me tornarei um bilionário, muito menos um popstar, menos ainda um Nobel da Física. Mas sorvo diariamente prazeres que me fazem sentir um gigante: discuti com minha filha uma ideia sua para a próxima tirinha do blog; fui buscar a outra no shopping e ouvi dela planos para o primeiro dia do resto de sua vida; passei todo o fim de semana em quadras de tênis assistindo meu filho em mais um torneio.
A mim basta alcançar o outro lado do mistério sem escrever o Capítulo das Negativas, como Cubas. Não esquadrinharei memórias póstumas, 25 de Abril já me fez imortal!
Naquele dia nasci de novo, e de novo todos dias diante de meus filhos.
25 de Abril me trouxe um começo, um nome.
Cinara...

sábado, 30 de março de 2013

Contenda II

Thiago Amud e Guinga já disseram em verso e música que contenda é a pior das brigas, porque aquela de você contra você mesmo.
Concordo.

Após ler a biografia do Agassi notei quão corriqueiro num esporte individual isso é(... mestre yoda).
E eu que já imaginei o tênis como o paraíso da autonomia onde não precisasse prestar contas das falhas, erros a ninguém. Nunca lidei muito bem com cobranças de gente cuja autoridade e direito não alcançavam meu sapato, btw.
Mas é fato que a cobrança vinda de você mesmo pode ser ainda mais devastadora. Pior, dessa simplesmente não há fuga.
Tommy Haas confirmou isso em entrevista recente quando justificava a um repórter a devastação de uma derrota. Porém, perto de completar 35 anos e jogando um tênis impecável, disse não saber ainda viver sem essa pressão. É um vício.
Meu filho, aos treze, vivencia hoje a mesma contenda, a dúvida.
Não posso fazer muito, o que é ainda mais enlouquecedor. Ele terá de andar sozinho o caminho, como sozinho também estará em quadra lidando com os altos e baixos do jogo e da briga interna. O "tênis é um turbilhão".
Mas lograr-se sobre si mesmo fazem de ti um campeão, e se não consegui eu mesmo vencer essa "sombra rival que me acompanha", esse "rosto escondido no espelho", meu filho rodopia, beija o chão, camba pra cá, camba pra lá, luta. E eu grito VIVA!
Seu mestre rei foi ZéMota, camará!!!

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Imagem: http://www.marcelomoutinho.com.br/blog/Diversidade_sexual_imagem.JPG

Contenda
(Guinga e Thiago Amud)

Sou a dobra de mim sobre mim mesmo
Nesse afã de ganhar de quem me ganha
Tento andar no meu passo e vou a esmo
Tento pegar meu pulso e ele me apanha
Eita, sombra rival que me acompanha
Artimanha de enconsto malfazejo

Rodopiei, beijei o chão, cambei pra cá
Meu mestre rei foi Salomão, camará!

Dei um talho em meu próprio sentimento
Pra que o mundo fulgure na clareira
Que esse nervo me aviva o sofrimento
Que esse olho é motivo de cegueira
Ê, presença difusa, desordeira
Giro de furacão sem epicentro

Desafiei, puxei facão, ponguei pra lá
Vazei no peito esse intrujão, camará!

E vem pernada aí
Vem não, foi desvario
E vem navalha aí
Vem não, foi calafrio
A roda vai abrir
Quando eu cair
No vazio

Meu sangue arredio, arrevesado
Arranco e derramo em oferenda
Mas não ponho fim nessa contenda
Com meu coração esconjurado

Camará, Camará, Camará...

Sei de um rosto escondido no espelho
Bem depois do cristal iridescente
Entro no meu juízo e destrambelho
Entro no meu caminho e passo rente
Eita, angústia que vai minando a gente
Capoeira contra Pedro-Botelho

Serpentei, botei pressão, varei o ar
Parei no meio do desvão, camará!

E vem pernada aí
Vem não, foi desvario
E vem navalha aí
Vem não, foi calafrio
A roda vai abrir
Quando eu cair
No vazio

Camará, Camará, Camará...

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Déjà-vu

Sempre ouvi falar da "crise da meia idade" com a mesma descrença com que um amigo até hoje "truca" a ida do homem à lua. Usar a "crise" para justificar erros estava mais para baitolagem que para psicologia séria (se é que há algo de sério na psicologia), embora Elliot Jaques já tivesse ganho a "imortalidade" ao cunhar o termo em 1965, tendo ainda se transformado numa espécie de guru corporativo ao introduzir conceitos como o 'horizonte temporal do discernimento' (ou TSD - Time Span of Discretion), 'strato', o 'felt-pair pay' e outros em um sem número de trabalhos e livros.
Mas eis-me aqui, aos 46, sentindo algo que se parece um pouco com aquilo. Pra piorar, depois de surfar pelo Google e ler chunks do Dr. Jaques, descubro também que sua ciência corporativa é um dos rotores da minha descrença. Tudo parece miseravelmente correlacionado, e não por coincidência.
Às vezes considero mesmo que algo me antecipa um futuro, assim como uma bola de cristal intuitiva. Porém, cego, não decifro os sinais a tempo, só concluindo a posteriori quando juntar os pontos nada mais é que a derradeira constatação de que deveria ter levado mais a sério meus déjà-vus. Ou talvez seja como Ruth Rocha escreveu em 'O Menino que Aprendeu a Ver', nada mais que rever o mundo velho sob a perspectiva nova aberta por um insight ou novo aprendizado. É como deparar-se com a placa PARE tarde demais, após já ter passado o cruzamento. Frustrante. 

(...)

É carnaval. Na TV me esforço para entender a explicação surreal do apresentador - talvez lendo o prospecto da Escola acerca da ala ora filmada - ao mesmo tempo em que busco na imagem a correlação que nunca vem. Mulheres seminuas pululam sob a análise dos especialistas comentaristas e me perco ainda mais. A única inferência que me ocorre é por que algumas Escolas têm aqueles nomes,  'Acadêmicos do..."
É academicismo demais nos comentários, enquanto signficado e roupa de menos na avenida.
Mas como o João da Ruth Rocha, talvez apenas precise aprender a ver... o que também me ajudaria sobremaneira a entender art pop, música contemporânea e poesia concreta.

(...)

O ócio no carnaval e a "crise" me compeliram a achar o Dr. Jaques.
Me lembrei também da Ruth Rocha e de quando comprei o CD de seu livro e dei de presente para minha filha de 5 anos. Hoje ela tem 22.
Encerro querendo ser o Mainardi, exilado voluntário em seu apartamento existencial em Veneza fugindo de ser uma pantomima de si mesmo ao abandonar a pantomima oficial aqui desse nosso sítio. Ou talvez o Francis, como o fantasma do Metropolitan Museum em Nova York. Mas não tive ainda a mesma sorte, ou azar. E embora o patrulhamento me execre por isso, não dou a mínima para os facistinhas.

A disseminação de conceitos forjados ideologicamente dispensou sua explicação e análise transformando-os em verdades indiscutíveis, axiomas, embora seu fim seja apenas despertar na platéia, por força do automatismo decorrente do uso repetitivo e pseudo avalizado, as emoções e reações desejadas.

Em crise da meia idade sim... Deprimido?, um pouco.
Burro ainda não!
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Referências:

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Notas de miragem

Tentei iniciar o ano escrevendo algo diferente. Não consegui.
Tempo velho de um ano novo.
(...)
Tenho sonhado frequentemente com meu velho. Aqui e ali ele ainda passa por mim e flerta, me diz coisas.
Estranho minha mãe não ter sonhado com ele ainda.
Pra mim, de todo modo, é o velho ano que não acabou, que talvez nunca acabe.
(...)
Vim do interior onde encontrei velhos amigos dele. São meus amigos agora, como também seus filhos, e até os filhos de seus filhos. Talvez esteja me transformando, por vezes acho mesmo que sou ele. E gosto, até.
(...)
Do alto de um prédio vi a tempestade emboscar a cidade. Nuvens subitamente cobriram o azul fazendo do cinza a âncora do mundo.
O muro d'água cegou-me por minutos enquanto o rebenque do granizo açoitando o prédio, os carros me fazia imaginar o fim de tudo. Fôramos reduzidos a prédios, carros?
Busquei explicação então numa viagem de trem. Sou mineiro, after all.
Fui além... adentrei a fazenda de um pai segundo e descobri um caminho novo: entre cães, galinhas, abóboras, o maxixe da horta, a mata, o gado, o lobo guará errante, a bebida intoxicante depois do jantar, estava a vida ali dispersa à minha frente.
(...)
Continuar é preciso...
Lembrei meu avô e repeti: "quem vier por último que feche a porteira".