sábado, 28 de agosto de 2010

"Você não existe..."

Já devem ter notado que adoro uma referência musical. É que minha frustração eterna - não ter sido músico, harmonizando a la Toninho Horta e virtuoso o suficiente pra interpretar qualquer coisa, de Zeppelin a Bach - me espeta o tempo todo. Tem outra razão, também prefiro poesia musicada, garantia de orgasmo duplo, letra e música mais o bônus do arranjo, belas vozes, interpretações...

Ai, redescobrindo “Quem te viu, quem te vê” do Chico, surfei até o saite (Obrigado Millôr) oficial do gênio. Nas palavras de Ruy Guerra,” Chico Buarque não existe, é uma ficção - saibam. Inventado porque necessário, vital, sem o qual o Brasil seria mais pobre, estaria mais vazio, sem semana, sem tijolo, sem desenho, sem construção."
É isso mesmo. Tudo foi dito.

(...)

O Jansen, há muitos anos atrás, na casa (de então) do João Carlos Cavalcanti, acho que pros lados de Ribeirão das Neves, disse algo semelhante sobre uma gata que um médico residente pupilo do Tusta levou como companhia. 
Estávamos todos entre cervejas, violão e o bate papo de sempre. Só que a mulher era um exagero, impossível de ser ignorada. Quebrava a concentração, era o ponto focal, chegava a incomodar - no bom sentido. 
Eu era jovem demais, algo como uns 17 anos or so. Administrava aquilo resignado, sabendo que não era pro meu bico. Já o Jansen, não conseguia se livrar do imã que era aquela pele morena dentro de uma bermuda branca apertada. Então bebeu, bebeu, e bebeu mais...Muito. Momentos depois, conseguiu se libertar e ignorá-la. Daí em diante passou a aproveitar a festa e a conversar.

Eis então, que ignorada, a moça se inquietou com aquilo. Como algum homem poderia passar impassível por sua presença abundante???
Ela então desatou a se insinuar pro Jansen, sensual, provocante. O Alberto, o pupilo do Tusta, fingia nada perceber. Não valeria mesmo o desgaste.  A moça estava fishing
Mas era tarde, o Jansen estava bêbado...E livre.


Bom, a certa altura ela estourou:
- Ei, não tá me vendo aqui não???
O Jansen de estalo, com certo descuido e um tédio meio Francis:
- Você não existe. É um delírio da minha cabeça. Você não está aqui, nunca esteve, porque você não existe...Não dá pra falar com alguém que não existe.  

Jansen estava certo: a mulher era boa demais... uma ficção.

(...)

Ruy Guerra também, Chico não existe!!!

Curitiba, Sábado 26 graus





Dia lindo, sol reinando absoluto num azul sem nuvens (nem brancas). The king is back!!!
Minha tristeza foi
wiped out e me sinto pronto pra qualquer coisa. Manda ver... Cai dentro... Vai encarar???
Coloquei  'Foxtrot' no som e ouço 'Supper´s Ready' no talo. Os vizinhos??? F...-se!!!
Deles tenho que ouvir música
breganeja e toda sorte de banalidade musical como se fossem obras cuja importância é imperativo compartilhar.
Pelo menos de mim, eles estão ouvindo 'Genesis' e ouvirão um
acervo que vai de Guinga a Toninho Horta, de Edu a Chico, de ELP a Milton, de Hendrix a Zeppelin, de Rosa Passos a Tavinho Moura, e por ai vai.
Se tenho que agüentar lixo no último volume vindo das paredes alheias, tomem ai algumas pérolas...
Nem que sejam aos porcos...
"Ihhh haaa" 

Why, why can we never be sure till we die
Or have killed for an answer
Why, why, do we suffer each race to believe
That no race has been grander
It seems because through time and space
Though names may change each face retains the mask it wore”(1)

 _____________________________________
(1) Genesis, Foxtrot - Time Table, 1972


quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Redescobrindo o Brasil. Estrelando Squid, Cabral e um tal de "Leandro"

Uns tem o dom da palavra, outros o da fala. Outros falam mais que qualquer palavra enquanto uns palavreiam mais que qualquer discurso. A propósito, os verborrágicos deveriam vir com o comando mute embutido, poupando-nos assim de sua "latumia" super faturada de palavras e carência de sentido.

Há também os embusteiros. Esses são uma espécie interessante. Passam por tudo e por todos sem acrescentar uma única pedra ao caminho e, no entanto, monopolizam a atenção e os olhares como se fossem os responsáveis por todo o desenrolar da história. Maestros na arte de se esquivar de qualquer coisa que seja associada aos verbos fazer, agir, realizar, conceber... ainda se apropriam seja lá do que estiver disponível que traga alguma vantagem, ignorando descaradamente autorias, fatos históricos, etc.

Na política receberam a alcunha de pragmáticos (ou deveria chamá-los de pragmatistas? Who cares?). Nas palavras de William James, "o Pragmatismo aborda o conceito de que o sentido de tudo está na utilidade - ou efeito prático - que qualquer ato, objeto ou proposição possa ser capaz de gerar. Uma pessoa pragmatista vive pela lógica de que as ideias e atos de qualquer pessoa somente são verdadeiros se servem à solução imediata de seus problemas. Nesse caso, toma-se a Verdade pelo que é útil naquele momento exato, sem consequências”. (Wikipédia)

Bem, embora eu duvide que essa corja tenha algum dia se interessado por filosofia ou lido, mesmo desavisadamente, William James, assimilaram, todavia, o conceito de maneira espantosamente poderosa.
Mas o que diria Squid se soubesse que o Pragmatismo foi a primeira filosofia estadunidense*  autônoma? Para alguém que respondeu ao ilustre desconhecido Leandro de Paula “...tênis é esporte da burguesia, p...” quando questionado pela falta de uma quadra de tênis na comunidade, melhor é alguém avisar que ser chamado de pragmático não é uma boa. Ah, avise a ele também que Guga Kurten elevou o Brasil (país de terceiro mundo) ao topo do ranking mundial de tênis por 43 semanas (esporte de primeiro e segundo mundos; mundos burgueses por dedução lulística). Sim, um brasileiro de Florianópolis. Tem mais, eu gosto de tênis. Sempre gostei, e sou filho de um motorista de caminhão do Vale do Jequitinhonha. Burguesia‽‽‽“Será que não dá pra mudar essa cartilha? Parece até aquela musiquinha ridícula do Cazuza. Tenha dó...

Mas pra salvar o "assado" vou tentar redefinir essa p... (bem ao gosto do excelentíssimo).
Ai vai: Rorty foi o responsável pelo ressurgimento do pragmastismo nos Estados Unidos depois de um longo e tenebroso inverno de ostracismo. Nos últimos anos de vida (ele morreu em 2007), o anti-filósofo começou a intervir cada vez mais em política. Em 1997 apelou às universidades, num ensaio, a regressar a uma política esquerdista "que no essencial se ocupa de impedir que os ricos desvalorizem o resto da população."
Tai” a deixa. Como Rorty considerava-se principalmente um discípulo de Dewey, mas também fortemente inspirado por Hegel - que teve impacto profundo no materialismo histórico de Karl Marx - também podemos usar essa referência para salvar o presidente. Squid pode se justificar nesse pragmatismo de Rorty e rechaçar a pecha de estadunidense (oh nome feio) e burguês (de novo p...???).

Mas pra mim, alguém cujo conhecimento filosófico não daria pra atravessar a rua, o pragmático de esquerda (e o político em geral) brasileiro continua sendo aquele que “...vive pela lógica de que as ideias e atos de qualquer pessoa somente são verdadeiros se servem à solução imediata de seus problemas. Nesse caso, toma-se a Verdade pelo que é útil naquele momento exato, sem consequências”. 
Mas tirem o Polvo dessa. Afinal, o conhecimento filosófico dele não dá nem pra não atravessar no samba e, ademais, ele "não sabe de nada, não leu nada" ... Paul - o polvo - está a salvo e pode continuar falando m... por ai e caminhando, desde que não hajam mais Leandros nas comunidades pobres cariocas gravando a conversa numa câmera precária.
Assim, ele e o Cabral podem redescobrir as américas do Rio... não, quero dizer, do Brazil, nas caminhadas eleitorais sem sustos.
Os assessores é que deveriam fazer melhor o trabalho deles, tirando essa turma que gosta de esporte da burguesia (de novo não...Arghhh!)  do caminho. Onde já se viu???

* Babaquice anti EUA. “Americanos” me soava melhor. Puro complexo de inferioridade, embora os signatários dessa tolice não dispensem for sure uma “boquinha” pra fazer compras em Miami. (NA)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

"Filosofada"

Sempre achei que as coisas acontecessem comigo de uma forma um tanto ordenada, como se um acontecimento por mais desejado que fosse só viria por ordem, subsequente a outro - seu pré-requisito, mesmo contra a minha vontade.
Todavia, essa visão mística não encontra lastro em minhas convicções, uma vez que prefiro a luz da ciência ao obscurantismo metafísico, embora Hume ou Russell às vezes me tragam mais dúvidas que certezas acerca da causalidade.

Tirando o fato de que você nasce primeiro, cresce, depois morre, exatamente nesta ordem, não vejo outra lei determinante ao nosso destino.
Paradoxalmente, me conforta imaginar que as coisas aconteçam somente na hora em que deveriam acontecer. E isso não diminui o fato de considerar essa uma visão medíocre, calcada na acomodação e indolência, na maioria das vezes. Presta-se no máximo a manter você em paz consigo mesmo, evitando uma guerra interna cujas consequências poderiam ser desde a depressão e ceticismo a uma tentativa insana de transmutar-se no arquétipo do “homem de sucesso” moderno.
Não, obrigado!!!

Compreendi minhas limitações e persisto ultimamente em tentar dar-lhes uma justificativa plausível, uma espécie de salvo conduto contra as opiniões contrárias.
Pensar já é um ato de diferença. A maioria de nós não pensa porque o mundo é do jeito que é e nem porque nos dedicamos a fazer as coisas que fazemos todos os dias, repetidamente.

(...)

Ai, diante da TV vejo as notícias que trazem invariavelmente o mesmo tempero, a mesma receita: “ânsia de aquisição”, “vaidade”, “rivalidade” e a “paixão pelo poder”1. Confesso um tédio abissal, embora veja nas leis acima, não sem tristeza, algumas das molas propulsoras da minha própria existência...até agora.


Porém, diante da complexidade filosófica do tema e de minha restrita capacidade intelectual, recorro novamente à indolência do fatalismo clichê de que a vida seria mesmo assim, de qualquer maneira. É mais cômodo, por hora, não pensar porque as coisas aconteceram dessa e não daquela maneira.
E me refugio de novo na doce guarita das realizações artísticas, essas das quais as explicações não explicam, e nem acrescentariam nada de útil.
Ouço “Saudade da Guanabara”2 e mergulho no refrão “Brasil, tira as flechas do peito do meu padroeiro, que São Sebastião do Rio de Janeiro, ainda pode se salvar...” pra fugir do ceticismo que me espreita ultimamente, agravado sobremaneira pelo horário eleitoral.
 
Sem esperanças...



(1) Bertrand Russell’s Best - 1958
(2) Saudade da Guanabara, Moacyr Luz, Aldir Blanc e Paulo César Pinheiro


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Estrangeiro

Parece que minha depressão sazonal está mesmo com as horas contadas. Cheguei ao Texas hoje pela manhã, em Beaumont pra ser exato.
Céu azul e um calor que me fez eleger esse lugar, juntamente com Valadares e Montes Claros, como uma nova sucursal do inferno (abroad).

Desta vez, “for the very first time”, depois de apresentar meu passaporte na Imigração, passei pelo constrangimento de ser encaminhado à uma sala separada onde fui submetido a uma detalhada sabatina de 25 minutos.
Isso depois de 14 entradas nos US nos últimos 2 anos. Entrada e saída, diga-se de passagem. Ou seja, nunca descumpri o acordo selado no visto nem o compromisso determinado por minha vinda, que no máximo não passava de 3 semanas. Ademais, sempre entreguei o canhoto do formulário I-94 na saída, o que entendo, deveria ser suficiente para o update da base de dados da imigração com o histórico de minha passagem - irrepreensível - pelo país do Tio Sam.

Num país com tão elevado nível de automatização (não posso dizer o mesmo dos índices de emprego e crescimento nesses tempos de crise), só reputo tal fato à gentil lady (de origem hispânica) que era a immigration officer dessa vez.
Ela falava em espanhol - mal humorada - e eu respondia no meu inglês básico. Não podia mesmo dar certo.
Pediu-me o visto de trabalho, já que eu estaria aqui “trabalhando” pelas próximas duas semanas.
- Visto de trabalho? Estarei aqui apenas por 2 semanas. Além do mais, não sou pago aqui. Sou funcionário da empresa no Brasil e meu visto de negócios deveria cobrir essa vinda para atender meetings, workshops, etc.
- ¿Usted va a trabajar acá en las próximas semanas?
- … Hmmm. Yes, I’ll do.
- Solamente puedes trabajar en los Estados Unidos los extranjeros que tienen un visto de trabajo. Espere la atrás por favor…

Só fiquei imaginando quão indolentes foram os 14 agentes anteriores que me permitiram a entrada sem maiores altercações. Sem falar da companhia, com todas as suas normas e procedimentos muito bem definidos para envio de funcionários ao exterior.
Talvez fossem todos incompetentes…

É incrível que a mesma tarefa, exatamente com os mesmos preceitos a serem seguidos, torne-se absolutamente diferente caso feita por 2 pessoas diferentes. Escrevi num artigo anterior algo sobre o tema (perspectivas) e não vou me alongar muito nisso.

Diferenças de humor, background, educação e inteligência, comprometimento e responsabilidade, fazem a mesma coisa soar bem diferente quando vinda de 2 fontes distintas.
Já experimentei isso na prática, quando anos atrás precisei antecipar todos os pedidos de carregamento para a semana uma vez que ligaríamos o novo sistema no final de semana e, portanto, interromperíamos o carregamento na Segunda e Terça da semana seguinte.
Liguei então para o primeiro responsável. Chamemo-lo de Sr Beans, que disse:
- Impossível. Me ligue depois. Vou ver o que posso fazer mas será muito complicado.

Imcomodado com tal declaração, agradeci e desliguei o telefone. Porém continuei a imaginar o porquê alguém confrontaria a data de start up de um sistema do qual não tinha a menor autonomia para mudar. E diga-se de passagem, ambos, eu ou ele, éramos "nada" diante de uma implementação nacional envolvendo alguns milhares de funcionários e mais de uma centena de consultores.
Ai me lembrei de uma frase, “a pequena autoridade exercendo o seu minúsculo poder…” Nesses momentos, e só nesses, até um porteiro de boate vira o cara mais importante do mundo, caso tudo o que você queira seja adentrar a porta que ele guarda.

Bom, esperei mais uns 10 minutos e liguei para o Sr MV para solicitar a mesma coisa, frustrada antes pelo Sr Beans.
- Olá. Aguarde na linha por favor.
Esperei menos de 15 minutos, quando então:
- Resolvido. Todos os pedidos antecipados e prontos para pré-faturar até a próxima Terça-Feira. Vou ratificar também junto aos clientes que só voltaremos a entregar normalmente na Quarta da próxima semana.

MV fez em 15 minutos, sem rodeios ou personal marketing, o que de início, sob a perspectiva do Sr Beans, seria uma epopéia comercial de altíssima complexidade e de criticidade executiva.

Mas devemos ser compreensivos. No mundo cabemos todos. Uns mais rápidos outros menos. Temos mesmo é que exercitar a paciência e aprender a ser flexíveis com tais situações. Na verdade, eu já deveria tê-las como prováveis no meu rol de possibilidades e ter de cor uma saída na ponta da língua para cada uma.
Mas que me passou pela cabeça chamar a immigration officer de estúpida, inepta e outros adjetivos não muito amistosos, isso lá passou.
Btw, nunca faça isso. Eu não fiz!

(…)

Mas pensando melhor, vai que ela está certa? Vai que um estrangeirozinho mal encarado chega aqui e prova para os nativos que pode fazer o trabalho deles mais rápido, melhor e ainda agregando valor???
Vai que prova a eles que mesmo o homem da rua de lá, de modo geral, leu o suficiente pra saber - pelo menos - que Buenos Aires é a capital da Argentina e que não se fala espanhol nos Estados Unidos (bom, tire o Texas fora disso).
Vai que o cara mostra a ela que sabe fazer conta de cabeça e nem precisa de calculadora para subtrair 11 de 26 e dividir por 2???

É… Acho que entendo agora.
Ainda bem (pra ela) que isso não é uma competição e o estrangeiro fictício não é um oponente querendo tomar-lhe o emprego.
Ela estaria certamente na rua… A menos que o oponente fosse o Sr Beans.

...Mas por via das dúvidas, melhor não dar asa ao azar, right?
- Good job lady.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Sem acento...

Tudo começou meio por acaso. De novo.
Ai me vejo escrevendo como se ja nao pudesse nao faze-lo.
Nao doi, nao elaboro mais como antes. Flui, inunda, as vezes ate sufoca.
As madrugadas ja nao tao frias.
Silencioso, mas com os fones de ouvido a me trazerem Sirlan, Lo ou outro qualquer.
Sou so um fantasma teclando na madrugada, seguindo um roteiro na noite feito um zumbi das palavras.
Apropriei-me do espaco, da forma, e arrisco. Navego entre temas, como um novo Aldir, um Blanc na caçamba de orasamba.
A deriva estou e permaneço, desorientado, sem o fanal das manhas. As mesmas manhas onde sigo sempre o mesmo caminho.
Agora pouco me importam as regras, as leis ou signos. Livre...nesses breves momentos onde inatingivel, me perco da gramatica, da estetica, dos acentos.
Adeus agudos, circunflexos, adeus as crases... "(...)Um compromisso a sirene chamou / Duplicatas, meu senso de humor / Se perdeu na cidade onde estou / Viva Zapátria, saudou esse meu senhor..." E ouço outra vez, talvez a centesima, a mesma musica de novo e de novo...
Minha trilha sonora , unica companhia desperta.
Minha esposa a meu lado, incomodada pela luz do abajour que mantenho aceso pra divisar as letras no computador, dormindo.
Estou viciado.
Nao quero a cura...todavia.
E assim, mais um libelo, sem revisao, sem pudor...sem acento.

Como eu nesses dias...

domingo, 8 de agosto de 2010

Back to dust - inspired by Arlindo Maciel's text named "Tú és pó".

For some friends abroad I need to broadcast in english. Yes, have friends abroad. Amazing, isn't it? Up to 6 years ago I could hardly imagine that I would be here trying to be understood by someone in Belgium or in Houston... What to say about Budapest? Quite odd. Specially from someone who had his soul sowed in a red land, in between Pequi trees surrounded by the opulence of the Cerrado Mineiro. Away from US, far away from Brussels, from where Budapest is even further.

But I was born there, somehow. As a matter of fact, after a while you can decide by yourself if you want to be born here or there. Place they "stamp" in your documents is not relevant. At least not from the perspective I see things now. 


From this place I bring you some impressions, and I spread them out with hope you will get something to compare, to make you imagine from where my heart comes and maybe to allow you to conclude we're not so different, at the very end... It's like my Vitruvian Man placed in my Voyager spacecraft thrown out to the cyberspace to find another human life in the cyber universe (although Nasa has not placed this Da Vinci's portrait at Voyager Golden Phonograph Record).

(...)

They have Álvaro Freire there, they had João de Deus and the Party of Nossa Senhora do Rosário. For your understanding: these people were not made of flesh and bones like us, they were made of hardwood (madeira de lei) instead, although somewhere all of us will turn back to dust, altogether (João de Deus is already there, awaiting us...).

They had the Água Limpa, Água Suja, the Bom-Sucesso, Córrego do Sapo, Córrego do Bicho, Córrego da Chácara, the Bentinho, the Santo Antônio, the Tomaz Corrêa, the Lourenço. They had the cacimbas, the  veredas da Dona e do Tatá.  It used to be a water world, but now they are all gone. To dust they returned.
Not even the lakes, not even the imponent Jequitinhonha, Araçuaí, Fanado, Itamarandiba, Setubal and Capivari are safe anymore. They are also "stepping out"  to dust.

There, people used to leave the home's doors opened, the kitchen table done all day long crowded with pies, biscuits, bread, coffee and did not matter if nobody was coming in.

They have there the Barragem Das Almas, a small dam where I used to swim with a bunch of friends and spend the whole carnival partying, dating, drinking...

A place about 220 Km further ahead of Diamantina and its Beco do Mota.

There is this place, there was a time...

Don't worry if this does not make sense to you. Just try to imagine it...having yourself and your own experiences as the basis reference. Or just forget it.

We're all the same. Just from different places, with different visions and different perspectives, though.

Anyway, thanks to Tim Berners-Lee, Bob Cailliau, Gates, IBM... They all made possible our journey to "where no man has gone before". Just have a sit, and enjoy...

sábado, 7 de agosto de 2010

"Pro resto de nossas vidas"


Nossas lembranças não passam de flashes, pedaços isolados de situações, momentos que ficaram por algum motivo congelados na memória.
Como num filme, uma sequência em branco e preto, ainda sigo meu irmão com os olhos pela janela da cozinha, emitindo nossa senha sonora... “qssssssssssssssss", e recebendo a contra senha de volta, até mesmo depois que o portão se fecha e não o vejo mais... "qsssssssss qsssssssssss".

Precipitou-se na rua uma noite. Nunca mais voltou pra casa.

(...)


Ainda falo com Fabeca na cozinha da casa da Rua do Fogo, e me junto a ele numa pinga com jurubeba num coité (aquele que o Zé herdou, levando de brinde o DNA daquelas noites), vaticinada depois por sua saudação de boa noite:
- Essa é pra respaldar.

Tião e eu ainda vamos até o corredor conferir a causa do barulho de uma batida sêca na parede. Lado a lado, vemos Fabeca com um ombro na parede, inclinado, se recompor e voltar-se pra trás pra tentar salvar a reputação:
- É... Acho que eu tô é bêbado. Desaparecendo no quarto logo depois.
Nós somos só riso.

Ainda trombo com Tião na porta de entrada da casa numa noite de carnaval. Ele excitado com os nossos 20 anos, deitado com uma menina no sofá não se importa com minha presença. Bate o pé no suporte da samambaia em frente da janela e o barulho do vidro estilhaçando acorda a casa. Correria...Viramos os três no Beco de Lêra, não sem que antes eu vire para trás e divise Fabeca de pijama à caça dos invasores. Sem óculos.
Estávamos a salvo.
No dia seguinte, na mesa do café, demonstrávamos surpresa e uma certa preocupação com a escalada da violência, embora a porta da sala teimasse em permanecer destrancada. Sempre.

Ainda vejo Fabeca subir a praça da Loja do Mário, virar à direita e descer  a rua pra inspecionar o muro dos fundos,  no dia seguinte ao roubo dos frangos da criação no quintal.
Sentados em frente à loja, vimos sua volta desolada e a constatação de que fora roubo, fuga teria sido impossível com o muro ainda intacto.
Desistiu da criação naquele dia mesmo, imputando-nos um remorso irreversível.
Ainda tentaria confrontar-nos uma vez mais quando na viagem para Diamantina no Opala 76, pra buscar a Flávia, mudou o rumo da prosa para o caso dos frangos - logo depois do Vicente Francisco - à queima roupa:
- Foi você Fernando?
- Não pai...Quê isso.
E eu me segurando atrás pra não explodir em gargalhadas delatando nossa empresa.
Como filho do irmão mais novo, contava com a cumplicidade e apoio do meu pai, meu comparsa da vida toda.

Tenho certeza que Fabeca sabia. Sempre soube. O resto era manter a rigidez e não macular a imagem diante do filho. No fundo, sempre soube. Relevava sem revelar.

Ainda vejo o Tião no Hospital Biocor explodir em lágrimas logo depois de o ZéMota entrar pra sala de cirurgia, para a retirada de um rim canceroso.
Palavras pra quê? Irmãos.

(...)

E eu perdido em minha solidão de crenças, de religiões, na certeza de que o fim é só o fim.
Não há mais, além. Não há.

Então mergulho desesperado na memória, em preto e branco, em infinitos takes como num filme mudo do Chaplin, onde não canso de repetir as cenas, centenas de vezes, com a sensação de que sempre é a primeira vez. 
Lá reencontro todos, face a face, eternos, enquanto a lucidez me brindar ou o ar ainda escoar de meus pulmões.

Queria eu partilhar alguns momentos que vi... Projetar minha memória numa tela... Lá... Lá onde estamos todos, pra sempre, pro resto de nossas vidas, salvos do tempo, salvos do fim.
Salvos, enfim!!!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Prismático

Diferenças de perspectiva são bem conhecidas e naturais. É normal que alguém veja algo sob um ângulo enquanto outro, noutra posição, veja o mesmo de maneira diferente. A Física explica isso com a luxuosa ajuda da óptica, matemática, ângulos, seno, cossenos, geometria...

Incrível que o mesmo acontece com opiniões, julgamentos. Isso me induz a concluir que fatos, acontecimentos, palavras, também tem forma, são materializáveis e permitem diferentes interpretações de diferentes locais de observação. Qual outra explicação para embasar o fato de que duas pessoas lendo a mesma coisa captem verdades diametralmente opostas???

Mas o mesmo acontece na rua: o motorista vê um buraco e um pneu furado. Prejuízo financeiro, atraso, trabalheira.
O borracheiro ao lado vê o aumento da receita, sua utilidade e o prazer de ajudar.
A prefeitura… bem essa nem sei se vê alguma coisa.

Acho que foi sempre assim. Uns focam no problema, outros na solução. Uns buscam a luz no fim do túnel num tempo de trevas, outros submergem de cabeça pra baixo, olhos fechados, e se afundam no escuro.

Palavras são farpas ou flores. Dor ou prazer. Mesmo que escritas exatamente da mesma maneira e na mesma sequência serão lidas e interpretadas diferentemente, às vezes até de maneira contraditória.
Não me refiro aqui aos artigos do Código Penal, ou às leis pra não se cumprir escritas sob a batuta de outros interesses no Congresso. Dessas já perdi a esperança. Somente viciados demais, arraigados demais aos valores do sistema, da cosa nostra, seria possível entendê-las.
Falo de tudo o mais que não aquilo.
Alguém diz “- vá em frente” enquanto outro vocifera “- cut de crap, vá fazer algo útil.”
Enquanto O Grande Sertão pra uns é um mundo, pra outros é só um quintal cheio de armadilhas. Cruzada é só uma música estranha e poesia é coisa pra "viado".

Há os pragmáticos, os políticos, os falsos, os poetas, os filósofos, os verdadeiros, os enganadores, os médicos, os analistas…
Níveis de compreensão são ligados à sensibilidade, conhecimento, uma certa predisposição para a beleza ou para o pragmatismo, e “bla bla bla”. Uns tem mais isso que aquilo. Outros tem menos.
Não há nada de errado nisso…

Só é preciso o cuidado de não apresentar um problema econômico para um poeta, ou uma dor no estômago a um filósofo. E nem me fale de uma desilusão amorosa para um físico!!!

Para prismas diferentes, palavras diferentes. Para um bebê de 6 meses, melhor é falar “gugú, dadá” e fazer um monte de caretas ridículas pra tentar conseguir uma gargalhada.
Pra um homem feito, algumas referências literárias, encadeamento lógico, argumentação embasada com fatos e exemplos.

"Perai"…Não… Talvez não…
Algumas vezes inverta: fale com o bebê sobre Proust em busca do tempo perdido.
E para o homem de mais de trinta???
Bem...cale-se.

(...)

Ou melhor, diga apenas “gugú dadá” e faça um monte de caretas.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Trem de Doido

Minas invadiu de vez minha perspectiva, de novo. Estou cego de Minas outra vez. Só vejo a Amazonas, a Tamoios depois da Praça Raul Soares, o Viaduto Santa Tereza, a Francisco Sales e o prédio marrom opulento quase na esquina da Mal Deodoro. Só vejo o sol vermelho se recolher atrás da Serra do Curral nas tardes do 15º andar ao som de Toninho Horta, Celso Moreira... Só ouço a voz do Helvecinh (sem  ´nho´ mesmo uai) a contar, a falar da "mentalidade de garimpo" de alguns comparsas.
E a janela wide opened trazendo a brisa que talvez tenha passado por um cem número de quintais antes de me arrebatar ali, hipnotizado pelas montanhas que Milton uma vez desenhou num LP.
E correm lágrimas, cerveja, músicas, palavras, música, palavras, risos...
Eu de volta no trem de doido, muito além do céu...nuvem cigana querendo casa, minha casa.
Abraço o Tusta e tomo o rumo de volta, pela Contorno e em direção à Savassi, subo a Nossa Senhora do Carmo e acelero. São Pedro, Sion, a favela do Papagaio ficam pra trás. A curva do Ponteio, o BH Shopping e eu na banguela, o anel rodoviário de novo. Úrsula Paulino, a Igreja, Praia dos Sapos afinal. Lair aberto, ele não está mais lá, se foi. Mas vejo o Góis, "Pelo Amor de Deus", Darão, "Leitão", muita gente. Desço do carro, e é febre, febre de gente, de uma gente que não acaba. Vai embora, chega mais, nada muda. Parece até que conheço o mundo todo, pelo nome, pelo apelido.
Volto trôpego pra casa. Não fui assaltado. Sorte. Sorte de quem o pai ainda espera, verifica, certifica que não falta um pedaço.
"Minas permanece impávida"...não falta um pedaço.
Em mim... só em mim...um pedaço falta...
 
Amanhã é só outro dia...outro dia longe de Minas.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

SAD (Seasonal Affective Disorder)

Sempre fui perseguido por uma melancolia contagiosa no inverno. O céu daltônico me causa uma espécie de niilismo sazonal, e não importa quão mal as coisas piorem.
Todavia, não sei bem dizer o porquê do gosto exagerado por Londres. Sempre cinzenta, devido à alta ocorrência de nuvens paridas pela umidade local, sempre elevada, deveria instigar meus mais recônditos instintos suicidas.
Mas felizmente não corro esse risco. É sempre possível um gosto de sol por lá.
Btw, que diabos mesmo é recôndito??? E suicida?

Ah... E é mito que lá só chova. Pra ser preciso, chove menos lá que em Miami. Chove mais no Hawaii. É que é impossível retirar do nosso imaginário a imagem Miami Vice e Waimea de sol e praia desses lugares.

Mas voltando à melatonina/serotonina fria, sou acometido nessas épocas de cinza intermitente por um desejo recorrente de enfiar a viola no saco e dar no pé pra "beozonte".

Se fosse em Londres sairia sem rumo e andaria na chuva pelas fronteiras medievais da Square Mile até Epping Forest, ouvindo Selling England by the Pound no ipod.
Mas aqui é passar pela Nilo Cairo, 25 min. a pé até a Praça Rui Barbosa e dar de cara com o Visconde de Nacar, onde tudo recomeça, cinza, sem sal, sem testemunhas oculares da luta entre a fortaleza de Paranaguá e um vapor inglês qualquer. "Vida, minha vida, olha o que é que eu fiz..."(1)

Eu sei, essa cidade é linda, ecológica, funcional, e tem o Requião, o Pessutão e até o...cervejão...
Mas tristeza é tristeza, não interessa a cor da cidade (desde que não seja cinza).

Mas até que aprendi a conviver com a... essa SAD (americano adora um acrônimo). Em Minas nem comentaria sobre isso, alguém gritaria:
- Homi...deixe de ruge ruge!!! Frescura, que baitolage é essa?

Mas lá também eu sairia, a esmo, e mesmo a deriva acabaria ancorando em um bar cercado de amigos falando abobrinhas, alfaces e taiobas. Aqui é mais difícil.
Quase impossível comer um joelho de porco no Lair (aqui é eisben), ou tomar uma gelada no bar do Caixote (embora aqui tenhamos o Kay Barracos, com K e y).

Aí vou indo, destilando a melancolia e entremeando a sensação de vazio dos dias com os Beatles no fone de ouvido, saltando das discussões inócuas de trabalho para o Ken Follett e o priorado de Kingsbridge, e quebrando o imbecilismo congênito da nossa era com o otimismo derradeiro do Fernando Brant.
Não se preocupe, vou sobreviver, sempre foi assim...
Ademais, o inverno não dura mais de 3 meses...Ou dura???

(...)
"Deixo tudo deixo nada
Só do tempo eu não posso me livrar
E ele corre para ter meu dia de morrer

Mas se eu tiro do lamento um novo canto
Outra vida vai nascer
Vou achar um novo amor
Vou morrer só quando for
E jogar o meu braço no mundo
Fazer meu outubro de homem
Matar com amor essa dor
Vou
Fazer desse chão minha vida

Meu peito é que era deserto
O mundo já era assim"(2)

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(1) Vida, Chico Buarque
(2) Outubro, Milton e Brant