sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Prismático

Diferenças de perspectiva são bem conhecidas e naturais. É normal que alguém veja algo sob um ângulo enquanto outro, noutra posição, veja o mesmo de maneira diferente. A Física explica isso com a luxuosa ajuda da óptica, matemática, ângulos, seno, cossenos, geometria...

Incrível que o mesmo acontece com opiniões, julgamentos. Isso me induz a concluir que fatos, acontecimentos, palavras, também tem forma, são materializáveis e permitem diferentes interpretações de diferentes locais de observação. Qual outra explicação para embasar o fato de que duas pessoas lendo a mesma coisa captem verdades diametralmente opostas???

Mas o mesmo acontece na rua: o motorista vê um buraco e um pneu furado. Prejuízo financeiro, atraso, trabalheira.
O borracheiro ao lado vê o aumento da receita, sua utilidade e o prazer de ajudar.
A prefeitura… bem essa nem sei se vê alguma coisa.

Acho que foi sempre assim. Uns focam no problema, outros na solução. Uns buscam a luz no fim do túnel num tempo de trevas, outros submergem de cabeça pra baixo, olhos fechados, e se afundam no escuro.

Palavras são farpas ou flores. Dor ou prazer. Mesmo que escritas exatamente da mesma maneira e na mesma sequência serão lidas e interpretadas diferentemente, às vezes até de maneira contraditória.
Não me refiro aqui aos artigos do Código Penal, ou às leis pra não se cumprir escritas sob a batuta de outros interesses no Congresso. Dessas já perdi a esperança. Somente viciados demais, arraigados demais aos valores do sistema, da cosa nostra, seria possível entendê-las.
Falo de tudo o mais que não aquilo.
Alguém diz “- vá em frente” enquanto outro vocifera “- cut de crap, vá fazer algo útil.”
Enquanto O Grande Sertão pra uns é um mundo, pra outros é só um quintal cheio de armadilhas. Cruzada é só uma música estranha e poesia é coisa pra "viado".

Há os pragmáticos, os políticos, os falsos, os poetas, os filósofos, os verdadeiros, os enganadores, os médicos, os analistas…
Níveis de compreensão são ligados à sensibilidade, conhecimento, uma certa predisposição para a beleza ou para o pragmatismo, e “bla bla bla”. Uns tem mais isso que aquilo. Outros tem menos.
Não há nada de errado nisso…

Só é preciso o cuidado de não apresentar um problema econômico para um poeta, ou uma dor no estômago a um filósofo. E nem me fale de uma desilusão amorosa para um físico!!!

Para prismas diferentes, palavras diferentes. Para um bebê de 6 meses, melhor é falar “gugú, dadá” e fazer um monte de caretas ridículas pra tentar conseguir uma gargalhada.
Pra um homem feito, algumas referências literárias, encadeamento lógico, argumentação embasada com fatos e exemplos.

"Perai"…Não… Talvez não…
Algumas vezes inverta: fale com o bebê sobre Proust em busca do tempo perdido.
E para o homem de mais de trinta???
Bem...cale-se.

(...)

Ou melhor, diga apenas “gugú dadá” e faça um monte de caretas.

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