terça-feira, 3 de agosto de 2010

SAD (Seasonal Affective Disorder)

Sempre fui perseguido por uma melancolia contagiosa no inverno. O céu daltônico me causa uma espécie de niilismo sazonal, e não importa quão mal as coisas piorem.
Todavia, não sei bem dizer o porquê do gosto exagerado por Londres. Sempre cinzenta, devido à alta ocorrência de nuvens paridas pela umidade local, sempre elevada, deveria instigar meus mais recônditos instintos suicidas.
Mas felizmente não corro esse risco. É sempre possível um gosto de sol por lá.
Btw, que diabos mesmo é recôndito??? E suicida?

Ah... E é mito que lá só chova. Pra ser preciso, chove menos lá que em Miami. Chove mais no Hawaii. É que é impossível retirar do nosso imaginário a imagem Miami Vice e Waimea de sol e praia desses lugares.

Mas voltando à melatonina/serotonina fria, sou acometido nessas épocas de cinza intermitente por um desejo recorrente de enfiar a viola no saco e dar no pé pra "beozonte".

Se fosse em Londres sairia sem rumo e andaria na chuva pelas fronteiras medievais da Square Mile até Epping Forest, ouvindo Selling England by the Pound no ipod.
Mas aqui é passar pela Nilo Cairo, 25 min. a pé até a Praça Rui Barbosa e dar de cara com o Visconde de Nacar, onde tudo recomeça, cinza, sem sal, sem testemunhas oculares da luta entre a fortaleza de Paranaguá e um vapor inglês qualquer. "Vida, minha vida, olha o que é que eu fiz..."(1)

Eu sei, essa cidade é linda, ecológica, funcional, e tem o Requião, o Pessutão e até o...cervejão...
Mas tristeza é tristeza, não interessa a cor da cidade (desde que não seja cinza).

Mas até que aprendi a conviver com a... essa SAD (americano adora um acrônimo). Em Minas nem comentaria sobre isso, alguém gritaria:
- Homi...deixe de ruge ruge!!! Frescura, que baitolage é essa?

Mas lá também eu sairia, a esmo, e mesmo a deriva acabaria ancorando em um bar cercado de amigos falando abobrinhas, alfaces e taiobas. Aqui é mais difícil.
Quase impossível comer um joelho de porco no Lair (aqui é eisben), ou tomar uma gelada no bar do Caixote (embora aqui tenhamos o Kay Barracos, com K e y).

Aí vou indo, destilando a melancolia e entremeando a sensação de vazio dos dias com os Beatles no fone de ouvido, saltando das discussões inócuas de trabalho para o Ken Follett e o priorado de Kingsbridge, e quebrando o imbecilismo congênito da nossa era com o otimismo derradeiro do Fernando Brant.
Não se preocupe, vou sobreviver, sempre foi assim...
Ademais, o inverno não dura mais de 3 meses...Ou dura???

(...)
"Deixo tudo deixo nada
Só do tempo eu não posso me livrar
E ele corre para ter meu dia de morrer

Mas se eu tiro do lamento um novo canto
Outra vida vai nascer
Vou achar um novo amor
Vou morrer só quando for
E jogar o meu braço no mundo
Fazer meu outubro de homem
Matar com amor essa dor
Vou
Fazer desse chão minha vida

Meu peito é que era deserto
O mundo já era assim"(2)

_________________________
(1) Vida, Chico Buarque
(2) Outubro, Milton e Brant

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