segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Os iguais e os diferentes

Um dos muitos choques culturais que sofri (além da perplexidade com o respeito às normas, organização, arquitetura, etc.) quando estive fora em 2007, foi que todos lá são considerados iguais.
O que quero dizer com isso? Que o “todos são iguais” alardeado ideologicamente aqui é um engodo, em contraposição com o que vi na Europa e nos US.
Explicando: (A) Todos sim somos iguais (ou deveríamos ser) perante a lei (e aqui começa o porquê disso ser um engodo no Brasil). Diante do artigo da constituição temos todos rigorosamente os mesmos direitos de cidadão independentemente de raça, credo, opção sexual, ocupação, conta bancária ou whatsoever
(B) Todos são iguais perante Deus (ou deveriam ser - pra quem acredita).  

Qualquer coisa a mais que isso seria balela, certo??? Errado.
Exemplo: de um lado, quando deveríamos ser iguais, menosprezando qualquer diferença estamental, de posses, dinheiro, posição, aspecto físico que possa existir entre cidadãos pleiteando a mesma coisa, somos tidos como completamente diferentes, ou você acredita que o caseiro Francenildo teve o mesmo tratamento dispensado ao consultor mor do Brasil? E a fala de squid ("Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum.") sobre o autor do 'Brejal' enroscado no emaranhado dos atos secretos?
De outro lado, não sou igual a ninguém no tocante a como faço meu trabalho ou como encaro as regras e os valores. Ninguém é igual a mim na análise do que é importante, belo ou válido, embora, todavia, sejamos nivelados “por baixo” e condenados a “iguais” dentro de um grupo, empresa ou tribo,  não por vontade própria, mas pela impostura de quem manda. O objetivo então é tão exclusivamente pragmático: encarar o diferente como igual em prol da estandardização. Isto facilita o gerenciamento.
(...)
Num café na Passeig de Gràcia em Barcelona em 2007, sob um frio de uns 3 ou 4 graus, chamei o garçon que me respondeu descuidado com um aceno dizendo que me atenderia assim que possível. Depois de uns 5 minutos, irritado, como todo brasileiro estúpido que acha que garçom é a terceira pessoa depois de ninguém e está lá apenas para atender “vossa excelência” com a exclusividade que “vossa majestade” merece, ralhei com o garçom, cheio de razão e petulância.
Creio que o desprezo dispensado no Brasil aos garçons e outros “serviçais” está arraigado ao conceito de castas que ainda vigora extra-oficialmente em áreas rurais da Índia, onde o Untouchable, ou Dalit, não merece nem mesmo um lapso de atenção por ser considerado "contaminado".  É isso ou já estamos a implementar o modelo de castas do ‘Admirável Mundo Novo’ de Huxley, porque justificar isso como herança monárquica não cola, já que na Portugal de nossos colonizadores não se vê tal tipo de preconceito. 

Mas voltando à vaca fria, o desfecho da pendenga com o garçom foi memorável, embora constrangedor para mim. O garçom veio e disse clara e objetivamente, sem pestanejar, sem a menor cerimonia ou receio de patrulhamento da chefia:
- La casa está llena! Estoy ocupado y voy a servilo en su turno!
Tão simples, justo e direto como isto. Outro mito estúpido é de que o “cliente sempre tem razão”. Mentira!!! Recolhi-me então à minha insignificância - que só era “significante” porque de antemão me considerei mais que os outros - e aguardei minha vez.
O café estava perfeito, quando chegou. 

No Brasil isso seria ofensa mortal. O comensal brasileiro avalia que num restaurante ou cafeteria, qualquer pedido esdrúxulo precisa ser capturado e aceito prontamente pelo garçom sem questionamento, no tempo e do jeito que o “rei” quiser, aliás. 
E ai do pobre se a limonada vier com mais (ou menos) limão que o desejado.

Presenciei isso hoje, novamente.
Achacado por mau humor de razões desconhecidas (às vezes TPM, embora desconheça qualquer referência masculina à elevação do estrogênio ou queda da progesterona), meu colega resolveu chutar o primeiro “cachorro” que passou-lhe pela frente. Por infeliz coincidência, o “cachorro” da vez transmutou-se no garçom do restaurante (embora pudesse ser a doméstica, o encanador, o padeiro...).

Desde que chutar o primeiro cachorro avistado na rua pra extravasar frustração ou raiva vai frontalmente contra meus princípios, resolvi tomar algumas providências:
Posso até continuar a visitar o mesmo restaurante, talvez ser atendido pelo mesmo garçom, porém não almoço mais com gente que acha que o que vai mal consigo é responsabilidade alheia.
Além do mais, descobri da pior forma que papo ruim dá uma azia miserável.
A propósito, cadê aquele envelope de magnésia bisurada que comprei ontem...?

domingo, 28 de agosto de 2011

Cego... no escuro!

Num jogo de tênis é imprescindível que os jogadores estejam quase no mesmo nível, sob pena de o jogo ser tão entediante e desarticulado como um debate político antes das eleições.
Diferentemente do futebol, onde é impagável ver um time massacrando o adversário numa enxurrada de gols - bonitos, de preferência -, no tênis isso não funciona. Enquanto no futebol um dilatado placar até pode mostrar a superioridade de um time sobre o outro, isso não tira, de maneira alguma, o brilho nem a beleza de uma jogada bem tramada ou um golaço, independentemente. No tênis, isso é impossível. Pelo menos não imagino qual seria a "graça" de ver um Roddick sacando à meia força possibilitando minha devolução, só pra depois encerrar num voleio humilhante ao pé da rede. Talvez nem mesmo dois segundos, de uma agonia óbvia.
Isso seria tão "engraçado" e excitante como ver baleias orca caçando focas ou leões marinhos numa praia ao sul da Argentina. Tão previsível, fácil e entediante que até as orcas parecem buscar excitação extra jogando a presa para o ar, na expectativa de que desesperadas busquem uma saída menos trágica para seu inevitável fim.
Claro, o fim é sempre o mesmo: a orca um pouco menos entediada após a brincadeira e, de brinde, com a pança cheia.

O mesmo acontece conosco nos debates diários. É imperativo que os contendores estejam no mesmo nível ou pelo menos respeitem e disponham do mesmo arcabouço teórico que norteie a discussão sob a luz da lógica. Isso traz regras, congruência ao debate, e o diferencia de uma conversa qualquer entre dois extraterrestres argumentando em línguas absolutamente incompatíveis.

Bom também que os debatedores não sejam políticos ou ideólogos disputando eleição ou um naco do poder. Caso contrário, seria como Serra e Dilma no último debate em 2010, quando Serra falava sobre Erenice Guerra enquanto respondia a uma questão sobre banda larga e Dilma saia com Paulo Preto, em resposta a uma pergunta sobre a Petrobras. Manicômio geral.

Um debate honesto deve ser pautado pela lógica e a busca da verdade como fim em si mesmo.

Dando um exemplo corriqueiro, como discutir música caso seu oponente nem saiba o que seja 'harmonia'?
O que dizer se ao citar exemplos você termina achacado sob o jugo da estravagância, diferença ou erudição indesejada? No fim, pode até sair com a pecha de aberração de circo, embora os palhaços do picadeiro  - obliterados e normalmente em maioria - sejam, invariavelmente, quem o julga.

Não há como discutir. Por vezes a distância é tão abpruta que a discussão é simplesmente inócua ou impossível.
E é bom que se diga: a falta de humildade ou soberba de um lado está necessariamente relacionada à arrogância ignorante do outro.
É bom ter ideia de quando calar. "Não sei" é resposta maravilhosa, honesta, a mais digna, no mais das vezes. Palpitar inconsequentemente, como manda a moda hoje em dia, leva inevitavelmente ao risco iminente do ridículo, ou da manipulação.
Noto que quanto menos se sabe, mais a estultícia e arrogância impelem a uma falsa certeza sobre os 80% restantes do assunto (exatamente aqueles 80% dos quais sabe-se patavina).

Em impasses causados por desconhecimento, melhor a trégua para posterior pesquisa e estudo; assim, quem sabe haja uma chance da próxima vez?!

Mas claro, sempre haverão os incautos ou mal-intencionados. Nos embates, mesmo que perdidos, comportar-se-ão como as focas da Argentina, com a diferença de que quando alçados ao ar, alegarão vitória e cooptarão a horda de amigos da "praia" num coro de jargões e apoio cego, a despeito de estarem segundos depois trancafiados por entre os dentes da baleia.
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Imagem: 'Um cego no escuro' - Guilherme Kramer

sábado, 27 de agosto de 2011

"Livre pensar é só pensar"

A frase título é do Millôr.
Como sou também admirador intransigente do "livre pensamento", vai ai o Decálogo de Russell (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bertrand_Russell#Dec.C3.A1logo):
  1. Não tenhas certeza absoluta de nada.
  2. Não consideres que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz.
  3. Nunca tentes desencorajar o pensamento, pois com certeza tu terás sucesso.
  4. Quando encontrares oposição, mesmo que seja de teu cônjuge ou de tuas crianças, esforça-te para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.
  5. Não tenhas respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas.
  6. Não uses o poder para suprimir opiniões que consideres perniciosas, pois as opiniões irão suprimir-te.
  7. Não tenhas medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.
  8. Encontres mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se valorizas a inteligência como deverias, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.
  9. Sê escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentares escondê-la.
  10. Não tenhas inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.

A arca perdida

Artigo oportuno que transcrevo na íntegra (Fonte: http://www.educacional.com.br/entrevistas/entrevista0091.asp) com algumas notas e grifos meus.
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A imposição moral e ética
Yves de La Taille, psicólogo especializado em desenvolvimento moral, fala sobre como, apesar da crise por que passam, sobretudo na família e na escola, a moral e a ética continuam a ser pontos fundamentais na educação e desenvolvimento das crianças.

Educar. Palavra de apenas seis letras que traz consigo um amplo leque de responsabilidades que deixa qualquer pai ou educador que se proponha à árdua tarefa de ensinar uma criança a trilhar os caminhos do mundo inseguro. A violência, a falta de respeito e o individualismo (* Nota: cuidado com o uso "generalista" dessa palavra. Enquanto fala contra um 'individualismo primário', associado ao egoísmo e/ou egotismo - sendo redundante, 'individual' -, ok. Caso sirva apenas como homonímia, estratagema para o discurso oficial estendendo o conceito à sociedade e a um regime político em especial, ai seria só erística pra vencer uma discussão desonestamente. O tema aqui é ética e moral) — algumas das marcas registradas dos dias atuais — levantam questões sobre como andam e como transmitir dois conceitos fundamentais da boa educação e do convívio social: a moral e a ética.
Para Yves de La Taille, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, a situação do mundo hoje é paradoxal. “De um lado, verificamos um avanço da democracia e do respeito aos direitos humanos. Mas, de outro, tem-se a impressão de que as relações interpessoais estão mais violentas, instrumentais, pautadas num individualismo primário, num hedonismo também primário, numa busca desesperada de emoções fortes, mesmo que provenham da desgraça alheia”, afirma.
La Taille nasceu na França, mas, desde criança, vive no Brasil. É professor de Psicologia do Desenvolvimento Moral na USP. É co-autor dos livros Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorias Psicogenéticas em Discussão, Indisciplina na Escola (Summus Editorial) e Cinco Estudos de Educação Moral (Casa do Psicólogo) e autor, entre outros, de Limites: Três Dimensões Educacionais (editora Ática). Investiga o desenvolvimento moral desde a década de 80 e é um dos especialistas mais respeitados do país nessa área.
Segundo ele, a crise moral e ética atinge tanto a escola quanto as famílias, e uma empurra a responsabilidade da educação das crianças para a outra. “Muitos professores acusam os pais de não darem, por exemplo, limites a seus filhos, e muitos pais acusam a escola de não ter autoridade e de não impor a disciplina”, diz. Mas completa que tanto uma quanto a outra têm grande responsabilidade no desenvolvimento moral e ético das crianças.
Leia a seguir a entrevista com o professor.

A definição de moral e ética é muito discutida atualmente. Como você define cada uma delas?
Entre as alternativas de definição e diferenciação entre os dois conceitos, eu tenho empregado estas: moral é o conjunto de deveres derivados da necessidade de respeitar as pessoas, nos seus direitos e na sua dignidade. Logo, a moral pertence à dimensão da obrigatoriedade, da restrição de liberdade, e a pergunta que a resume é: “Como devo agir?”. Ética é a reflexão sobre a felicidade e sua busca, a procura de viver uma vida significativa, uma “boa vida”. Assim definida, a pergunta que a resume é: “Que vida quero viver?”. É importante atentar para o fato de essa pergunta implicar outra: “Quem eu quero ser?”. Do ponto de vista psicológico, moral e ética, assim definidas, são complementares.
Alguns estudiosos definem como uma característica da pós-modernidade a crise nos valores morais e éticos por que passam as civilizações, principalmente as ocidentais. Outros falam até em ausência total da moral nas relações entre as pessoas nos dias de hoje. A que você credita essa crise? É possível vivermos sem moral e ética?
A situação parece-me de certa forma paradoxal. De um lado, pelo menos no mundo ocidental, verificamos um avanço da democracia e do respeito aos direitos humanos. Logo, desse ponto de vista, saudosismo é perigoso (* Nota: esta observação serve especialmente para os esquerdopatas das teorias coletivistas, aquelas que ao longo da história produziram as PIORES e mais genocídas ditaturas do mundo. Leia mais em http://stoa.usp.br/boblevi/files/-1/2277/Coletivismo,+Individualismo+e+Liberdade.htm para esclarecimentos adicionais sobre os conceitos 'individualismo' e 'coletivismo' abordados). Mas, de outro lado, tem-se a impressão de que as relações interpessoais estão mais violentas, instrumentais, pautadas num individualismo primário, num hedonismo também primário, numa busca desesperada de emoções fortes, mesmo que provenham da desgraça alheia. Assim, penso que, neste clima pós-moderno, há avanços e crise. É como se as dimensões política e jurídica estivessem cada vez melhores, e a dimensão interpessoal, cada vez pior. Agora, como não podemos viver sem respostas morais e éticas, urge nos debruçarmos sobre esses temas. De modo geral, penso que as pessoas estão em crise ética (que vida vale a pena viver?), e essa crise tem reflexos nos comportamentos morais. A imoralidade não deixa de ser tradução de falta de projetos, de desespero existencial ou de mediocridade dos sentidos dados à vida.
Então, essa crise das questões morais e éticas tem relação direta com a violência, o desrespeito, o individualismo, etc. vividos atualmente?
Veja: se o projeto de vida de alguém for, como é freqüente hoje em dia, ter muito dinheiro e glória, esse alguém tende a ver as outras pessoas como adversários (o dinheiro não dá para todos) ou como súditos de seu sucesso. Nos dois casos, são instrumentos de seu projeto. Manipula-os quando necessário, elimina-os quando não pode manipulá-los. Eis a violência instalada. Muitos valores presentes na sociedade contemporânea levam a relações fratricidas, e a violência no interior da própria comunidade passa a ser vista como modo inevitável de convívio e qualidade dos “fortes”.
É interessante observar como muitos anúncios de propaganda, na televisão e no rádio, apresentam relações sociais competitivas, rudes e violentas, e isso para vender serviços telefônicos, carros, vídeos, etc., ou seja, objetos ou serviços nada bélicos.
De que maneira essa crise afeta as relações na escola e na família?
Ela afeta todas as relações e, por conseguinte, aquelas que unem a família e a escola. Nesse caso, o que se verifica é a constante delegação de responsabilidade a outrem — da família para a escola e vice-versa — e também a constante acusação mútua de incompetência ou desleixo. Muitos professores acusam os pais de não darem, por exemplo, limites a seus filhos, e muitos pais acusam a escola de não ter autoridade e de não impor a disciplina.
E a quem cabe a parte mais importante da formação moral e ética das crianças, à escola ou à família?
Não penso ser possível estabelecer hierarquia. Ambas as instituições são fundamentais para a educação moral e a formação ética. Logo, devem trabalhar em cooperação, completando-se mutuamente.
Em seu livro Limites: Três Dimensões Educacionais, você sugere a retomada da discussão do “contrato social” entre os indivíduos nos projetos educacionais como forma de melhorar as relações da comunidade. Qual é a melhor maneira de fazê-lo na realidade da escola brasileira?
Sabe-se que a melhor, para não dizer a única, forma de ter sucesso na educação moral, na formação ética e na pacificação das relações é, no seio da escola, trabalhar a qualidade do convívio social entre seus membros (professores, alunos, funcionários e pais) (* Nota: "sabe-se que a melhor, pra não dizer a única..." Sabe-se??? Sei não!). Logo, em vez de limitar-se a impor inúmeras regras, é melhor a escola deixar claro, para todos, os princípios que inspiram a convivência social. A elaboração de regras — que pode ser feita pela comunidade como um todo — será derivada da apreciação desses princípios. Eis o que se pode chamar de discussão do “contrato social”. (* Nota: se feita pela sociedade e não imposta pelo Estado, mesmo que de forma tácita, vá lá. Imposta como " ‘’Bem Comum’’ que muitos coletivistas defendem, serve mais como uma promessa vazia que permite livre-ação e todo um conjunto de manipulações arbitrárias da sociedade pelo planejador do que um conjunto de propostas suscetível à aprovação popular, na medida em que abre-se uma margem para a imposição, por parte do governante por trás do governo, de sua própria escala de valores. Embora os coletivistas preguem que existirá um governo maciçamente popular, na prática observa-se que sempre há a marca da pessoalidade de um governante nos países coletivistas, seja ele um indivíduo como no nazismo, seja um partido único, como na antiga União Soviética."[1] Ai é puro engodo e manipulação intelectual com outro fim).
No mesmo livro, você afirma que existe uma contradição, na qual se verifica, ao mesmo tempo, a falta de limites em muitas pessoas (e não apenas nos jovens, como reza o senso comum) e que o excesso desses limites também sufoca a maioria delas. Qual é a medida certa para transpor alguns limites e amadurecer e como impor limites que permitam a vida em sociedade?
A questão pode ser retomada por meio dos conceitos de moral e ética. A moral trata de limites no sentido restritivo (deveres). A ética, por remeter a projetos de vida, trata dos limites no sentido da superação, do crescimento, da busca de excelência. Ora, se há excesso de limites, em breve, se a sociedade, em vez de estimular o crescimento, valorizar a busca de uma vida que não vá além do mero consumo e que se contente com o aqui-agora, com a mediocridade, ela vai prejudicar a perspectiva ética e, conseqüentemente, a perspectiva moral. Uma pessoa somente agirá moralmente se vir, nesse tipo de ação, a tradução de uma vida que vale a pena ser vivida. Como a moral impõe restrições à liberdade, uma pessoa somente vai aceitar tais restrições se fizerem sentido num projeto de vida coletivo e elevado. (* Nota: cuidado novamente com frases "generalistas" como esta. O que seria um "projeto de vida coletivo e elevado"??? A experiência mostrou que esse projeto - caso tal entidade realmente exista - sempre veio a fórceps em forma de totalitarismos e/ou ditaduras, embora carregado de promessas).
Numa palestra, você afirmou que, em sua maioria, os pais de hoje foram os filhos, nas décadas de 60 e 70, que lutaram com todas as forças contra a repressão, por isso, às vezes não impõem os limites corretos aos filhos por terem medo de parecer “autoritários”. Como fazer para dosar a disciplina em casa e transmitir os valores éticos corretamente sem parecer antiquado?
O medo de ser autoritário é um sentimento importante. Mas o que é autoritarismo? É impor regras injustas, arbitrárias. É impor regras — mesmo que boas — negando à pessoa que deve obedecê-las a possibilidade de compreender sua origem e sentido. Exercer autoridade é outra coisa. Para tanto, as regras colocadas devem ser justas e devem também ser explicadas. Um bom exemplo de relação com autoridade é a relação que temos com um médico: seguimos suas prescrições porque o consideramos como representante de um conhecimento legítimo, inteligível (por mais difícil que seja) e que pode nos fazer algum bem. A relação de autoridade, seja na família, seja na sala de aula, deve seguir essa mesma lógica: os pais ou os professores devem ser reconhecidos como pessoas que detêm conhecimentos legítimos e necessários ao pleno desenvolvimento das novas gerações. Assim sendo, é claro que a moral (o respeito pelo outro) e projetos éticos de crescimento pessoal e social correspondem a valores preciosos para a vida. A criança começará a pensar neles referenciada em figuras de autoridade e, quando conquistar a autonomia, vai se libertar da referência à autoridade certamente com gratidão.
Você acredita que a violência a que estão expostos os jovens — através da TV, videogames, etc. — pode por si só influenciar e tornar as crianças violentas ou isso pode variar de acordo com os valores morais implícitos?
É uma questão difícil de ser respondida e sobre a qual não temos dados confiáveis. A meu ver, não é tanto a exposição a cenas de violência que pode causar comportamentos violentos, mas sim o sentido dado a elas. Se filmes mostram a violência como recurso último, cujo uso segue certas balizas morais e cujo objetivo é, ele mesmo, moral (lutar pela justiça), é uma coisa. Agora, se glorificam a violência em si, se a colocam a serviço do próprio prazer, se a colocam como primeira opção de resolver conflitos, é outra coisa. No primeiro caso, a violência é apresentada com crítica, no segundo, não. Isso pode exercer uma influência sobre o sistema de valores de jovens. Mas é preciso lembrar que há tantas variáveis e influências em jogo que não se pode eleger os meios de comunicação e entretenimento como grandes vilões.
Título: Limites: três dimensões educacionais
Autor: Yves de La Taille
Editora: Ática
Nº de páginas: 151
ISBN: 85-08-07188-4
 
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Por Diogo Dreyer
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* Nota -> comentários adicionados por mim.
[1] Trechos retirados - não ipsis litteris, porém sem prejuízo da idéia/texto original - do texto 'Coletivismo, Individualismo e Liberdade' ( http://stoa.usp.br/boblevi/files/-1/2277/Coletivismo,+Individualismo+e+Liberdade.htm )
NA: Sobre a arca da aliança, consulte http://super.abril.com.br/religiao/arca-perdida-444115.shtml.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Pensando sempre errado!

Artigo publicado na Folha de S. Paulo do dia 13/08/2011 assinado por Marta Suplicio demonstra por A mais B a "profundidão" de sua inteligência.
Disse ela:
"Os incêndios e saques na Inglaterra protagonizados por jovens podem levar a uma percepção enganosa remetendo tanto à Paris de 2005 como às rebeliões na Síria e na Grécia.
Os contextos são diferentes e é fundamental entender as angústias dessa juventude e as diferentes cenas.
Na Paris de 2005, os distúrbios foram nos subúrbios pobres. Jovens queimaram carros e destruíram prédios do governo. Saques não eram a meta. Os jovens se rebelavam politicamente contra a falta de oportunidade e a exclusão dos seus guetos periféricos, onde se concentram as habitações sociais parisienses.
A diferença na manifestação londrina é que não foram somente os bairros pobres os protagonistas, mas, talvez devido à configuração das moradias mistas em Londres, jovens de classe média que aderiram à baderna. E eles não protestam por coisa alguma.
A apatia social, gerada pela falta de oportunidade e de cultura, e o desinteresse pelo mundo, propiciado pela impossibilidade de acesso ao consumo, geraram raiva e rebeldia contra um sistema que os ignora."

O que nega no primeiro parágrafo, induzindo-nos a uma falsa expectativa por uma "sacada" genial (sendo irônico? Com certeza!), frustra indecentemente nos parágrafos seguintes, na forma de mais um desses "solecismos dialéticos" sem o menor sentido ou lógica, óbvio, a ser usado no final a favor de sua patota e seu governo.

Em Paris, "os jovens se rebelaram politicamente contra a falta de oportunidade e exclusão"(sic).
Em Londres, "a apatia social, gerada pela falta de oportunidade e de cultura"??? "e o desinteresse pelo mundo, propiciado pela impossibilidade de acesso ao consumo"??? "geraram raiva e rebeldia contra um sistema que os ignora."(???)
É duro de entender. Que raios seria essa apatia social? Distopia carregada de newspeak? Conclusão: 'apatia é rebelião'. Orwell bem sabia.
Mas o melhor veio depois: apatia gerada pela falta de oportunidade e de cultura? Oportunidade??? (ela não disse que era diferente da Paris de 2005?).
Tinha gente da classe média, disse ela. Num país com IDH(2006) igual a 0,940, renda per capita de US$38000, assistência médica e seguro desemprego, museus, Leicester Square, Shakespeare, Dickens, Hume, Russell... Greene, Martin Amis, J.K.R. / Potter, só mesmo justificando a tal "apatia social" como desinteresse pelo mundo "propiciado pela impossibilidade de acesso ao consumo".
Aqui sim, Marta pensa como Marta, e decreta: os jovens terão desinteresse pelo mundo caso não tenham acesso ao consumo. Afinal, o que seria do mundo sem Armani, Versace, Dolce Gabana???

Se aquilo era apatia social, what the hell é isso aqui?
Engraçado, se essa lógica fosse aplicada ao Brasil, teríamos de ter passado por centenas de rebeliões.
Pelo jeito o que serve para Europa não serve pra nós.

Fico aqui pensando se contra a apatia não deveríamos todos fundar uma ONG ou movimento social, militar para o PT, fazer passeatas e lutar pela criminalização do peido no elevador, "mudar o mundo", quiçá virar presidente da UNE e depois, até ser senador(a).
Talvez devessemos mesmo é aprender 4 ou 5 clichês com os "intelequituais" pensantes dos blogs progressistas e arrebentar de "intelequitual" engajado nesses debates esdrúxulos do Facebook ou Orkut.

(...)

Teria sido mais simples e honesta a conclusão trivial de um evento causado pela incontinência hormonal juvenil + fuga da compulsão natural humana ao tédio + adrenalina + twitter.
Da Vinci dizia que a "simplicidade é o último grau de sofisticação".
Mas intelequituais engajados não pensam simples. Aliás, não pensam.

O único acerto de toda a patacoada foi dizer "que eles não protestavam por coisa alguma" (de novo, excitação explosiva causada pelo twitter e testosterona + uma profunda falta de valores e limites).
É pena que ela se contradiga totalmente logo na frase seguinte. Sofismável Marta.

Mas pra quem na vida o melhor que fez foi o Supla - além de plásticas e compras -, esperar o que?
Que saudade da Erundina.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

"Nunca dantes..."

Sempre tive imenso apreço por argumentação lógica, silogismos, muito antes de conhecer o "Cícero", suas elucidações filosóficas, matemáticas, mesmo antes de saber que "catso" significava silogismo, ou saber quem era Aristóteles, Boécio, Bertrand Russell. 
Imposturas sempre me desceram melhor precedidas por argumentos - de preferência convincentes - dedutíveis ou lastreados por causalidade.

Antes de conhecê-lo, no finado Colégio Anchieta no centro de BH, detinha-me apenas ao diletantismo dos debates pueris com o Hamilton, meu melhor amigo, quando quase sempre era massacrado. O "rapaz" usava maiêutica como um Sócrates do subúrbio, embora nem eu nem ele tivéssemos a mínima ideia do nosce te ipsum - "conhece-te a ti mesmo" do Oráculo de Delfos, ou de Sócrates, Platão e, muito menos, que diabo era a tal maiêutica. "Só sabíamos que nada sabíamos". Pelo menos foi assim até o iluminismo do "Cícero". 
Não que isso tenha realmente mudado tanto...

Tudo bem, podiam ser discussões estéreis, irrelevâncias, debates inúteis dentro do ônibus no caminho de volta pra casa depois da aula, dois palhaços com minhoca na cabeça filosofando sobre qualquer banalidade sob o olhar atônito das outras "criaturas da noite" que também viajavam de volta no "trem das onze". Nenhum glamour, at all.

Mas hoje sei que foram úteis. Posso até me arriscar por Schopenhauer - sua Dialética Erística - com certa "familiaridade". 
É imperativo, diga-se de passagem. De que maneira seria possível "entender" os políticos e "intelequituais" pelegos, suas explicações estapafúrdias sem saber do 'argumentum ad hominem', do estratagema do 'desvio', da 'homonímia sutil', da 'ampliação indevida', da 'manipulação semântica' e principalmente do 'rótulo odioso'? 
Como entender a pecha de "moralismo udenista" como "justificativa" para a indignação sincera com a corrupção deslavada e acintosa como "nunca dantes"? Como compreender a "explicação" de que as tramóias no Ministério do Transporte, do Turismo, da Agricultura reveladas pela imprensa "é mera estratégia deles, deles que estiveram do lado de lá no golpe de 64" (isso porque não tocaram ainda no Ministério das Minas e Energia, do autor do Brejal) ?

Bom, o golpe findou há mais de 26 anos e não é nem nunca foi justificativa para os ministérios loteados logo para eles, eles que estavam do lado de lá no golpe de 64. Paradoxo??? Seria, caso respeitassem a lógica. Não é o caso. Aqui é o reino do paralogismo... Navegue pelos blogs chapa branca e deleite-se. Só não tente usar Aristóteles.

Até quando os mesmos jargões? Até quando as mesmas referências jurássicas para esconder a própria face e as m... deixadas pelo caminho? Até quando as "heranças malditas" continuarão a justificar o fiasco futuro? Até quando a culpa permanecerá terceirizada sobre os ombros alheios? Até quando "eu não sabia de nada...", "não provaram nada contra mim, fui absolvido pela justiça", "tudo não passa de perseguição política" etc. etc. etc.? Até quando???

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Joguem o sofá pela janela


Os envolvidos e interessados abusam da erística, propaganda, dos jargões e estratagemas pouco "ortodoxos" para tampar a grande m... que é esse tal de "governo de coalisão".


Alfredo Nascimento foi à tribuna do Senado hoje para dar um recado: “Paulo Bernardo me conhece; Mantega me conhece; Dilma me conhece…” 
Ameaça?!?! Bem, "quando eu era criança pequena lá em Barbacena..." pingo era letra. Agora, os tempos são outros e qualquer declaração boçal do "filho do Brasil" costuma "explicar tudo" (apagar o incêndio). Vivemos a era das analogias rasteiras como verdades científicas. Endossadas pelo MEC, btw.

Nascimento disse mais: “Quando saí, junto com a presidenta Dilma, então ministra, o PAC do Ministério dos Transportes significava um pacote de investimentos da ordem de R$ 58 bilhões. Quando retornei, já estava em R$ 72 bilhões. Dediquei os primeiros 90 dias de gestão a uma imersão em todos os projetos e ações programadas em andamento. Em fevereiro, fui o primeiro a perceber a disparada dos gastos previstos e determinei um pente fino para conhecer a origem de tal movimentação”.

A coincidência parece não incomodar: a explosão de gastos se deu em 2010, ano da campanha eleitoral para a Presidência. 

A presidenta disse - tão enigmática quanto possível - que medidas contra a corrupção serão tomadas, porém não pautadas por "medidas midiáticas"(sic).

Olha, isso faz tanto sentido quanto o resultado da piada infame sobre o corno que pega a esposa em casa com outro no sofá. 
Solução do problema? 
Clichê: cale a mídia "golpista", "burguesa", "bla bla bla".

E jogue fora o sofá, só pra garantir.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Nem verdadeiro, nem falso... Muito antes pelo contrário.

Minha resistência em digerir calado algumas das convenções sociais “universalmente” aceitas é conhecida. Antes de ser um mero exercício de polemismo num esforço esdrúxulo para chamar a atenção, é uma discordância natural, pueril. Porém, inútil tentar justificar dessa forma. Quase sempre sou estigmatizado sob o jugo da primeira alternativa. Não que isso realmente conte, afinal, com 44, sei exatamente quem sou e não preciso que ninguém me conte isso. Mas como concluiria o antropólogo alemão Arnold van Gennep no início do século passado, “em todas as sociedades primitivas, determinados momentos na vida de seus membros eram marcados por cerimônias especiais, conhecidas como ritos de iniciação ou de passagem. Essas cerimônias, mais do que representarem uma transição particular para o indivíduo, representava igualmente a sua progressiva aceitação e participação na sociedade na qual estava inserido, tendo, portanto tanto o cunho individual quanto o coletivo. [1] ” E ainda: “Van Gennep fez um estudo sistemático dos cerimoniais que em diversas sociedades marcam a transição dos indivíduos de um status para outro. Assim, ele concluiu que a maioria dos ritos analisados observavam uma sequência que incluía "separação", "transição" e "incorporação".”[1]

Ora,  “vista-se assim ou assado...” ou “só beba isso comendo aquilo...” são meras convenções para manter-nos em consonância com o grupo do qual queremos fazer ou fazemos parte. Hoje... aqui e agora, btw.

Ademais, quem são esses tais “consultores de moda” para dizer-me o que devo ou não vestir? De onde vieram tais conclusões senão do interesse da indústria em normatizar “tendências” com o claro objetivo de reduzir custos definindo a demanda da próxima estação upfront? Se não é assim, pior ainda: que autoridade teria uma Glória Kalil sobre minhas meias ou camisas? 
E misturar leite com manga, pode???  

The devil wears Prada, mas eu visto o que bem entender. 
E há quem goste da combinação “fatal” leite com manga. Eu, particularmente, pulo essa, embora não ostente preconceito algum contra quem aprecie. Aliás, "na verdade, esta é uma combinação bastante saudável. "A manga contém altos teores de nutrientes como o caroteno e a pró-vitamina A - além de ser fonte de vitamina C, fósforo, ferro, cálcio, lipídios e proteína", diz a engenheira agrônoma Elizabeth Ferraz da Silva Torres, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e autora do livro Alimentos em Questão - Uma Abordagem Técnica para as Dúvidas Mais Comuns. O leite, por sua vez, é rico em proteína, cálcio, vitaminas A e D, riboflavina, fósforo e magnésio. Moral da história: um coquetel de manga com leite garante fartas doses de vitaminas e sais minerais dos mais importantes para o organismo humano."(Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/manga-com-leite-faz-mal).


Para fazer parte da tribo, até fazemos concessões aqui e ali. Mas há um limite. Não devemos misturar convenções com método científico, citando causalidade ou qualquer bulshit pseudocientifica relativa a papilas gustativas ou whasoever para justificar que “com A usa-se B”.
Claro, num restaurante, com o sommelier indicando qual bebida combina com esse ou aquele prato, até concordo! Afinal, o cara está lá exatamente para isso e caso você queira fazer parte do grupo, either way: concorde ou vá pra casa, evitando constranger-se ou constranger outrem no restaurante. (In modern times, a sommelier's role may be considered broader than working only with wines, and may encompass all aspects of the restaurant's service, with an enhanced focus on wines, beers, spirits, soft-drinks, cocktails, mineral waters, and tobaccos. Fonte: Wikipédia). 
Há também outra opção, embora menos acessível: seja multimilionário. Ai, ninguém vai realmente ligar se você pedir um Château Mouton-Rothschild 1982 com banana assada e pequi no arroz, vestido numa calça xadrez a la Agostinho Carrara em pleno verão carioca. Aliás, é bem provável que você saia do lugar tendo convencido a todos de que aquilo é na verdade a mais nobre combinação possível, levando de quebra a fama de excêntrico alardeada nos jornais e revistas pelos bajuladores das colunas sociais e de fofocas.

Sei que vestir-se de preto sob um sol escaldante de 40º, a não ser para ir a um velório,  não é boa escolha. Pior ainda, blusa de couro no verão... parece-me asfixiante. Já usar listras horizontais engorda ainda mais o já gordinho o suficiente. Mas no final, os góticos e punks que sobraram don’t give a damn. E o Faustão... continua amealhando milhões por mês com aquele figurino duvidoso e seu programinha dominical de arrepiar até os mais calmos. 

Fato é que não consigo “acreditar” em toda essa "encenação social" sempre. Preciso simplesmente desempenhar meu papel para manter-me… imperceptível, ajustado ao grupo da vez. No fundo, ainda que  explicações fashion-enólogo-científicas sejam encantadoras, o ridículo ditado popular “gosto não se discute” permanece "franciscanamente" verdadeiro. 


Lembro-me de um show de ‘música contemporânea’ na antiga Praça da Estação em BH onde dois músicos, um no teclado outro no violino, disparavam  - um para o outro - acordes a esmo numa peleja auditiva sem sentido, embora o  título da “obra” fosse extremamente pomposo. Um garoto de rua puxou-me pela calça e disparou:
-          O que é isso? – Disse-lhe eu consternado, após pensar alguns segundos sobre a pergunta:
-          Sei não!!!

Meu irmão costumava misturar café com queijo cortado em cubos e farinha de milho. Só de pensar nessa mistura alguns têm náusea.
Eu mesmo tenho minhas “heterodoxias” (note bem, “hetero…”). 

Concluo teimosamente, então, que faço as combinações de bebida e pratos que eu quiser. Calçando meias brancas e usando bermuda listrada, pra piorar. Desde que não esteja em nenhum restaurante ou fazendo pose para os amigos, tudo bem. 
Porque escondido lá em casa, quem manda no meu gosto sou EU!
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[1] Fonte: Wikipédia