quinta-feira, 29 de novembro de 2012

2012

2012 está perto do fim. Que vá logo e que o mundo fique, a despeito do que disseram os outros (não os maias) acerca da pedra de Tortuguero
Ademais, mesmo depois da pedra de Comalcalco "confirmar" a data de 21 de dezembro de 2012 como o último suspiro do planeta, o historiador alemão Gronemeyer da La Trobe University na Austrália desmentiu tudo
Para dirimir de vez a dúvida (ufa!), um grupo de cientistas norte-americanos encontrou na Guatemala o calendário maia mais antigo de que se tem noticia, cujas inscrições descrevem a existência de 17 ciclos  no sistema maia - não 13, como se acreditava até agora -, o que nos daria, no mínimo, algo em torno de 1577 anos de lambuja (21 de dezembro de 2012 seria apenas o último dia do 13º b'a'ktun . Não é o final da contagem longa, pois ainda se seguiriam os b'a'ktuns 14º a 20º). 
Não sei se rio ou se choro. Mas que 2012 vá logo.

Foi um ano de perdas importantes. Perdi a graça com a ida do Ivan Lessa, do Millôr, do Chico Anysio. "Queimei meus navios" depois da partida do ZéMota, do Hamilton. À deriva. 
Foi-se a ironia na TV com a morte do Beting hoje. 

O país maravilha vê anestesiado toda semana essa m... de governo de coalizão fomentada pelo aparelhamento do estado e distribuição de cargos e favores sob os auspícios de um projeto de poder eterno, a banalização dos valores, a estratégia fabiana de deslocar a discussão dos temas reais para banalidades endossadas pela picaretagem intelectual deslavada desses intelequituais progressistas, do recrudescimento da escatologia esquerdista e da confusão generalizada entre público e privado, da mentira como homenagem que o vício presta à virtude[1]. 

Nas artes e cultura só um pouco mais do mesmo.

De certa forma, o mundo acabou mesmo.

Pelo sim pelo não, dia 21 saio de férias. Caso o mundo de fato acabe, estarei à toa, do lado de quem me interessa.
Se é pra acabar, que acabe em barranco então... ai vou encostado. 

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Figura: Ciclos da Lua e, possivelmente, de planetas, feitos pelos maias em Xultún (Foto: William Saturno/David Stuart/National Geographic/Divulgação)
[1] Parafraseando François duc de la Rochefoucauld 


sábado, 24 de novembro de 2012

Hamilton


Tusta costuma chamar de anjos criaturas cuja serenidade, bondade e talento deflagram um magnetismo cuja atração gravitacional é impossível trespassar incólume. É como se fosse mesmo compulsório gostar delas. São geodésicas espirituais que nos impelem ao abraço, ao culto sincero.
Nesse sentido Paulinho da Viola é um anjo, afinal, de que forma explicaríamos aquele ar sempre condescendente ou músicas como 'Sinal Fechado' ?

(...)

Alberto "leguelé" chama o irmão de anjo.
Por uma dessas razões que a razão desconhece, estava ele sempre lá, a aglutinar, a cuidar da família, flanando vindo sei lá de onde provendo o necessário inconscientemente, sem ter sido formalmente requisitado.

O Espiritismo apresenta a visão de que tais seres angélicos, independente de suas hierarquias celestiais, estão nesse ponto evolutivo por mérito próprio, são espíritos santificados e livres da interferência da matéria pelas próprias escolhas que fizeram no sentido evolutivo e de renúncia de si mesmos ao longo do tempo, sendo facultado também aos homens atuais - ainda muito materializados - atingirem, através de seus esforços morais e intelectuais nas múltiplas reencarnações, tais pontos de perfeição. (O Céu e o Inferno, Allan Kardec, 1865). Fonte: Wikipédia.

Eu cá, estúpido e cego de crenças que sou, não sei de nada, apenas sinto ultimamente o peso de uma rocha no peito. 
Que a ciência tenha dito isso ou aquilo acerca da fé vá lá, mas ai me pergunto: que sabem eles dos meus "ais"? 

Com efeito, ainda vejo alguns que cruzaram meu caminho aparecidos sei lá de onde, trazendo exatamente o conforto que precisava num momento de desespero, SIM como anjos.
Porque surgiram do nada?, sem perguntas?, trazendo respostas sem mesmo terem recebido chamado algum? Sei lá...
Foi assim com o Kamara's na Newton... 
Foi assim no atropelamento da 381 em frente ao Carrefour em Betim. 
Meu desespero ao colocar a vítima no carro, o receio de que se fosse ali mesmo impingindo-me uma culpa eterna antes da chegada ao hospital. 
Mas já no Pronto Socorro, ainda atônito e perdido, volto-me e atrás de mim ele, sei lá de onde saído, a dar-me o suporte sem perguntas fora de hora. 
Coincidência? Não acredito mais em coincidências!

Assim seu choro, sem palavras, no velório do meu velho. 
Ali fomos irmãos pela última vez.

(...)

"Leguelé" tem razão, era mesmo um anjo, um anjo da guarda.
Todos precisam aumentar o cuidado, o cuidado com os outros agora. 

Fica a lembrança... ficarão as palavras, que tenho certeza,  ainda virão, nem que através de sopros em nossas consciências mostrando-nos o que fazer.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Cortesia do O.C. #3



Isso ainda vai acabar mal.



Por que? E há alguma relação entre essas duas séries de fatos?
Todo o esquema socialista baseia-se na idéia de Karl Marx de que o proletariado industrial é a classe revolucionária por excelência, separada da burguesia por uma contradição inconciliável entre seus interesses respectivos.
Quando um partido revolucionário toma o poder numa nação atrasada, predominantemente agrária, como a Rússia de 1917 e a China de 1949, não encontra ali uma classe proletária suficientemente numerosa para poder servir de base à transformação da sociedade. O remédio é apelar à industrialização forçada, para criar um proletariado da noite para o dia e “desenvolver as forças produtivas” até o ponto de ruptura em que a burguesia se torne desnecessária e possa ser substituída por administradores proletários. Para isso é preciso instaurar uma ditadura totalitária que possa controlar e remanejar a força de trabalho a seu belprazer (Trotski chamava isso de “militarização do trabalho”). Daí a semelhança de métodos entre os regimes revolucionários socialistas e fascistas: ambos têm como prioridade a industrialização forçada, com a única diferença de que os fascistas a desejam por motivos nacionalistas e os socialistas pelo anseio da revolução mundial.
Já quando a esquerda revolucionária sobe ao poder por via eleitoral numa nação mais ou menos democrática e desenvolvida, ela encontra um proletariado numeroso e às vezes até organizado. Mas é um proletariado que já não serve como classe revolucionária, porque a evolução do capitalismo, em vez de empobrecê-lo e marginalizá-lo como previa Marx, elevou seu padrão de vida formidavelmente e o integrou na sociedade como uma nova classe média, indiferente ou hostil à proposta de revoluções. Para não ficar socialmente isolados e politicamente ineficazes, os revolucionários têm de encontrar algum outro grupo social cujo conflito de interesses com o resto da sociedade possa ser explorado. Mas não existe nenhum que tenha com a burguesia um antagonismo econômico tão direto e claro, um potencial revolucionário tão patente quanto aquele que Karl Marx imaginou enxergar no proletariado. Não havendo nenhuma “classe revolucionária” pura e pronta, o remédio é tentar formar uma juntando grupos heterogêneos, movidos por insatisfações diversas.
Daí por diante, quaisquer motivos de queixa, por mais subjetivos, doidos ou conflitantes entre si, passarão a ser aproveitados como fermentos do espírito revolucionário. O preço é a dissolução completa da unidade teórica do movimento, obrigado a acolher em seu seio os interesses mais variados e mutuamente incompatíveis. Narcotraficantes sedentos de riqueza e poder, ladrões, assassinos e estelionatários revoltados contra o sistema penal, milionários ávidos de um prestígio político (ou até intelectual) à altura da sua conta bancária, professores medíocres ansiosos para tornar-se guias morais da multidão, donas de casa pequeno-burguesas insatisfeitas com a rotina doméstica, estudantes e pequenos intelectuais indignados com a sociedade que não recompensa os seus méritos imaginários, imigrantes recém-chegados que exigem seu quinhão de uma riqueza que não ajudaram a construir, pessoas inconformadas com o sexo em que nasceram – todos agora marcham lado a lado com lavradores expulsos de suas terras, pais de família desempregados e minorias raciais discriminadas, misturando numa pasta confusa e explosiva os danos reais e supostos, objetivos e subjetivos, que todos acreditam ter sofrido, e lançando as culpas num alvo tão onipresente quanto impalpável: o “sistema” ou “a sociedade injusta”.
Sendo obviamente impossível unificar todos esses interesses numa construção ideológica coerente e elegante como o marxismo clássico, a solução é apelar a algo como a “teoria crítica” da Escola de Frankfurt, que atribui ao intelectual revolucionário a missão única de tudo criticar, denunciar, corroer e destruir, concentrando-se no “trabalho do negativo”, como o chamava Hegel, sem nunca se preocupar com o que vai ser posto no lugar dos males presentes. O sr. Lula nunca estudou a teoria crítica, mas fez eco ao falatório dos intelectuais ao seu redor quando, após vários anos na presidência e duas décadas como líder absoluto do Foro de São Paulo, confessou: “Ainda não sabemos qual o tipo de socialismo que queremos.” Não sabemos nem precisamos saber: só o que interessa é seguir em frente – forward, como no lema de campanha de Barack Hussein Obama --, acusando, inculpando e gerando cada vez mais confusão que em seguida será debitada, invariavelmente, na conta da “sociedade injusta”.
Se na esfera intelectual essa atitude chegou a produzir até a negação radical da lógica e da objetividade da linguagem e a condenar como autoritária a simples exigência de veracidade, como não poderia suscitar, no campo da moral social, o florescimento sem precedentes da amoralidade cínica e da criminalidade galopante?












Uma nota só

Um luto ainda me persegue. Não é culpa minha, a onipresença do meu velho sempre foi minha companheira, estivesse ele de corpo presente ou não.
Falo então com ele todos os dias, toda hora, como se ainda ouvisse seus conselhos e brincadeiras, esse eco que por deus, espero permaneça em meu crânio pra sempre.

Não sei quantos podem dizer o mesmo acerca do pai.
Mais engraçado é que depois de tantos erros e traumas, mútuos, viramos esse amálgama como se fôssemos um só. Hoje sei que somos, porque se a ele não foi dada a escolha, a minha fiz com convicção e vontade: mantê-lo comigo, eternamente vivo, em minhas lembranças, onde o maldito câncer não tem efeito nem alcance, não passa de uma imperfeição ou pesadelo num mundo onde o demiurgo sou eu... e é lá que viverá pra sempre, sem os riscos ou males do mundo, ladeado por outros, muitos... todos eles salvos do fim.

domingo, 11 de novembro de 2012

The Invoice

Umas das 'obrigações compulsórias' do casamento, caso você não seja abastado o suficiente para ter um quarto de casal com 100 metros quadrados e tudo em dobro (menos a mulé, claro... ela não aceitaria nem a pau), banheiro, closet, até a TV de plasma, bem, é ter de compartilhar o que estiver rolando. O drama é recíproco, evidente, ela não tem que tolerar seu masoquismo assistindo à TV Câmara e nem você que suportar o caldeirão...
Bom, de qualquer forma, hoje, domingo à tarde, adormeci antes do caos... Mas eis que acordo com um zumbido irritante, alguém interpretando algo da moda como o clichê do clichê do clichê. Adicione a isso potentados em pasteurização - como a Leitte (com dois tês)... É o zaralho, o mundo acabando nos comentários sempre relevantes de quem de música entende tudo... errado.
Bem, em meio ao óbvio, deixei o quarto após a votação do público, surpreso. O público acertara (pelo menos uma vez). A moça eleita manda muito bem e já a vira antes, exatamente na TV Câmara (pelo menos pra isso serve, tirar-me da TV aberta nos finais de semana pra encontrar Guinga, Lula Galvão, Juarez Moreira, Toninho e até a Oléria).
Se esse The Voice é uma droga, que pelo menos a Oléria não pague a invoice (trocadilho infame... Dedico ao Daniel, outra originalidade acima de qualquer suspeita).
Ela manda muito bem, aliás, nem sei que diabos tá fazendo lá...


Tríscele ou : Daltonismo e Parosmia

Levantou os olhos, viu-se refletido no espelho mas teve a sensação de não enxergar-se, opaco, silhueta difusa, face, cabelos, os olhos que não pareciam mais os dele.
Subjugado pela dor não enxergava mais como antes.
Algo literalmente mudara, secara, perdera a cor. Fizera digressões sobre a morte inúmeras vezes, mas não tratava-se agora de mais uma de suas elucubrações, mas da vicissitude mesma, companheira intrometida a segui-lo desde então até o fim de sua vida. A teoria sempre lhe caíra melhor, professor e pesquisador que era. A realidade das provas por certo nunca deixara-o à vontade, e agora tombava-o doente.
Com a perda, um daltonismo psicossomático, o olfato cego fizeram dele um homem de três sentidos, embora não atribuísse a si mesmo sentido algum naquele momento. Era agora também um homem de três dimensões, sem o espaço-tempo, malgrado sentisse como maldição a gravidade do buraco negro a sugar-lhe as cores do mundo. Não encontrou lenitivo em suas crenças, muito menos na falta delas.
Saiu do banheiro e seguiu o cortejo até a cova, aquele ínfimo retângulo numa colina onde a passagem já determinava pisotear nomes, histórias, passados. Estacou numa daquelas lápides para verificar o derradeiro, 'Maria Aparecida Carvalho', *12.01.1982, ƚ 06.08.2012. Apertou os olhos em desespero e rogou em silêncio ser tirado dali, resgatado, transmutado, acordado em outro lugar onde pudesse ouvir sua voz de novo, seu epíteto acolhedor, "sim moço...". Nada... estava mesmo ali a cruzar o Aqueronte. Ao abrir os olhos o cinza asfixiante das gentes, do choro, da tristeza a pairar como um fog fantasma. As lembranças do hospital, seus corredores agora num gradiente de cinza que ia desde o quase branco ao quase negro, como aquele quarto de onde fugiu ao ouvir desesperado seus últimos suspiros. Do corredor, já em transe e daltônico, viu pessoas igualmente graves, sem brilho. A força da gravidade daquele quarto, o buraco negro a tragar tudo, até mesmo os raios de luz daquela manhã quando a mãe veio dizer-lhe que tudo acabara. Adentrou novamente o diâmetro daquele eclipse desvencilhando-se tão rápido quanto pôde logo depois, a fugir da escuridão a cegar-lhe, acinzentada.

Deixou o enterro logo após a descida do caixão naquela cova funda, sob a perspectiva de um mundo em tons infinitos de cinza, a começar pelo cemitério com a grama de um cinza claro, como uma névoa rasteira. Seguiu qual um zumbi mudo, errante.
Pessoas falavam, tocavam seu ombro, mas não era capaz de sentir nada. Duvidou da audição, se ainda ouvia, algo que constatou verdadeiro após ser achacado pela buzina de um carro pedindo passagem na saída do cemitério. O carro cinza claro, três pessoas dentro, cinzas, de cabelos acinzentados. Cinza, claro, suas preocupações imediatas, sua vaidade. Quase negro, cinza escuro seu orgulho. Bobagens num cinza quase branco, errático, fugidias e fugazes agora inteiramente despidas na sua curta extensão e efemeridade. Viu-as todas, arrependendo-se delas.

Era assim que viveria então, sem sentir o perfume das flores - afinal todas teriam o cheiro do crisântemo ou dos cravos, acinzentadas - nem mais entender a cor das manhãs.
Duvidou se sobrara-lhe mesmo o tato, o paladar... mas não tinha fome, e quem gostaria de possuir naquele momento, a única libido que queria de volta, era a vida.
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Figura: triskle
Tríscele em http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=3: símbolo indo-europeu, palavra de origem grega, que literalmente significa "três pernas", e, de fato, este símbolo nos lembra três pernas correndo ou três pontas curvadas, uma referência ao movimento da vida e do universo. Na cultura celta é dedicado à Manannán Mac Lir, o Senhor dos Portais entre os mundos.
Tudo indica que o número três era considerado sagrado pelos celtas, reforçando o conceito da triplicidade e da cosmologia celta de: Submundo, Mundo Intermediário e Mundo Superior.
O triskelion também é conhecido por triskle ou triskele, tríscele, triskel, threefold ou espiral tripla, e possui dois grandes aspectos principais de simbolismo implícitos em sua representação, que são: 
- Simbologia ligada ao constante movimento de ir, representando: a ação, o progresso, a evolução, a criação e os ciclos de crescimento. 
- Simbologia ligada às representações da triplicidade: Corpo, Mente e Espírito; Passado, Presente e Futuro; Primavera, Verão e Inverno... Os ciclos de transformação.

Tríscele em http://fontesdeluz.blogspot.com.br/2011/04/triskle.htmlTriskle é um símbolo celta que representa as tríades da vida em eterno movimento e equilíbrio.
*nascimento, vida e morte
*corpo, mente e espírito

O "polvo" ou: Os NÃO "cumpanheros"


A seguir como vamos, um dia...

Watch out!!!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Pecado capital

"Muitos são orgulhosos por causa daquilo que sabem; face ao que não sabem, são arrogantes."
Goethe , Johann

Já citei anteriormente uma observação do Olavo de Carvalho sobre o 'princípio da abundância' aplicado à inteligência, uma espécie de antítese do princípio da escassez na economia. Ou seja, quanto menos visão e cultura, mais o maganão tem a sensação de ser o único iluminado do pedaço. 
Até ai tudo normal, faz parte do jogo, do extrato moderno onde ignorância passou a ser virtude cívica[1]. O problema é quando a soberba, alimentada por sabujos e acólitos, dinheirama ou poder sem meritocracia turva de vez a perspectiva do prodígio acerca de si mesmo, alçando-o "ao infinito e além". 
O sujeito passa a ser comparado a um deus, como se já não fosse suficiente considerar a si próprio o demiurgo criador de todas as coisas. 
(...)
A arrogância de vez em quando ataca qualquer um de nós, pobres mortais. É normal que sob a prepotência de nosso próprio - porém efêmero - sucesso, desatemos a distribuir destemperos, ofendendo, diminuindo alguns à nossa volta. Mas caso de fato haja algum resquício de bom senso, basta um evento, um único pito ou carraspana para que sejamos transportados de novo ao solo, e a queda do cavalo, embora por vezes constrangedora ou até vergonhosa, é sempre positiva. Pelo menos é como vejo, eu que compartilho da opinião do Mainardi:
"Eu sempre tive uma opinião muito mais negativa a meu respeito do que a maior parte dos meus detratores. Isso ajuda a não perder de vista a minha insignificância."

Mas nem sempre tal clarividência é partilhada por todos. O orgulho desmesurado faz com que alguns só enxerguem a si mesmos como dissemelhantes, únicos, acima de tudo e de todos. Afinal, beijados pela providência ou ungidos pela causa, mesmo quando pegos em equívocos crassos, incapazes que são de admitir a falha, reagem com mais arrogância, truculência ou simplesmente evaporam da discussão como que teleportados de volta ao Olimpo. Nunca mais falarão do assunto, ainda que instigados, como se aquilo nunca tivesse acontecido.

Esses pseudo-deuses costumam fazer mais estragos que os deuses da mitologia. Afinal, Zeus baniu Cronos para o Tártaro, após fazer vomitar os irmãos que o pai engolira. 
Já por aqui, as histórias tem menos glamour, menos nobreza, de tão reais e tristes que são. Tudo não passa de conluios, arranjos, promiscuidades e pragmatismos. E se Zeus ainda podia soltar alguns relâmpagos, nós aqui estamos mais sujeitos a apagões... de energia, criatividade e principalmente de caráter. E pior, de mitologia isso aqui não tem nada.

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[1] Millôr
Figura: A poetisa Ono no Komachi medita sobre a arrogância e a frieza que teve para com os seus namorados quando fora jovem e bela. (Ukiyo-e "Cem aspectos da Lua", número 7 de Tsukioka Yoshitoshi - 1886)