quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ai é demais!!!

Li em algum lugar referência à reportagem “A tomografia da fita crepe”, cuja fonte era uma tal 'Carta Maior'. Fui eu então dar uma olhada, não pelo episódio da fita crepe, irrelevante e tão banal quanto as campanhas dos candidatos, mas pela fragilidade/banalidade do argumento. Queria entender a fonte.

Pensei que tivesse visto tudo na vida. Estava errado. Essa tal Carta maior é um blog chapa branca péssimo. Chapa branca mesmo, a começar pelo patrocínio da Petrobras... do PT.
Reescrevem a história a bel-prazer (não a da fita crepe, isso é babaquice. A História, com H, em outros artigos do blog). Isso é que nem interpretação da bíblia pelos pastores das igrejas picaretas. Há sempre uma versão/interpretação a favor do fim que se almeja.

Na matéria 'Jornalista é demitido por fazer matéria sobre marxismo', exaltam o marxismo esquecendo por inteiro a história (com H) do século passado e todos os side effects dos totalitarismos de esquerda que varreram a Europa oriental e findaram todos (vejam vocês, eram bons demais) até 1989.

Alguém ai já leu Tony Judt? Por acaso sabem o que foi o Holodomor e o Grande Expurgo? Gulags, sabem o que eram? Conhecem por acaso no que se transformaram a Tchecoslováquia, a Polônia, a Romênia, Ucrânia, a Hungria, durante a famosa ditadura do proletariado de um partido único cujo clero despachava de Moscou? Tudo bem, a URSS combateu o nazismo de Hitler e "libertou" alguns países invadidos. Outros foram anexados no pós-guerra ("no imediato pós-guerra, o socialismo foi associado diretamente à causa da libertação nacional e, muito por influência da União Soviética, os partidos comunistas chegaram ao poder nos governos locais. Em alguns deles houve um golpe de Estado para que isso ocorresse, como na Romênia e na Polônia. Em outros, porém, a adesão ao socialismo foi espontânea e democrática (como na Tchecoslováquia, onde o PC local tinha votos de 40% do eleitorado). Além disso, os três países bálticos (Letônia, Estônia e Lituânia) foram anexados à URSS como repúblicas socialistas soviéticas". Fonte: Wikipédia).
Mas lembrem-se, Stalin não era melhor que seu "antípoda" alemão. Em termos de genocídio, o Holodomor (a Grande Fome da Ucrânia) só não teve os campos de concentração nominados. No resto, fez o mesmo estrago. Milhões de mortes, por inanição, fome. Na primavera de 1933, na Ucrânia, morriam de fome 17 pessoas por minuto, 1000 por hora, quase 25000 por dia…Óbvio, sem que o ocidente tomasse conhecimento disso. A imprensa era chapa branca, do partido, e todos, todos que não fossem a favor iam para a "fogueira da inquisição" do Grande Expurgo, que também matou outros milhares de pessoas. Livrar-se de Hitler podia significar deparar-se com Stalin ("se correr o bicho pega, se ficar o bicho come"). Liberdade???
Sabiam que o pressuposto de Lenin ao romper com a antiga Internacional Socialista foi centralizar as organizações revolucionárias conforme o modelo bolchevique recebendo instruções de Moscou? Que o Comintern de 1920 e suas 21 condições encerrava uma 22a não formalmente escrita - segundo o líder socialista francês Paul Faure - que autorizava os bolcheviques a ignorar as outras 21, se lhes fosse conveniente? AI5 vermelho. Isto é história meu caro. Contada aos quatro ventos, na Internet e em milhares de fontes. Pode pesquisar. Pesquise bastante, de mente aberta. Analise. Nunca parta de um pressuposto e só ache os argumentos pra justificá-lo. Pesquise, pesquise mesmo, várias fontes, autores... Só depois conclua.
O único lugar onde a história pode ser reescrita (para atingir seus objetivos) é em blogs e publicações como essa tal Carta Maior. Maior???

"Perá lá psiu". A tal Carta Maior festeja a censura da imprensa e diz que a "grande imprensa" é golpista. Leia-se grande imprensa como "todos eles atravancando meu caminho", pequeno ou grande. Tamanho aqui não é documento. "Não está comigo está contra mim".
No resto do blog só panfletagem, nada de reportagem. Isso não é imprensa. Nunca foi. Serve de alimento só para os radicais amestrados. Isso é o caminho para o inferno e, já vimos essa história.
Aliás, vão estudar a história do Século passado e parem de ler esse lixo.
Caso continuem, correm o risco de acreditar que Squid subiu no Monte Pascoal e recebeu 'Dele' os 10 madamentos petistas para a felicidade do "polvo" brasileiro. Ladeado por Dirceu, Dilma e outros xiitas do partido, apareceu depois nas ruas numa bruma (de Avalon) encantada e desatou a fazer milagres. Foi ele que fez tudo. O Saci Pererê, foi ele quem inventou. O coelho da páscoa também. Inventou até a felicidade.
...E todos viveram felizes para sempre...

PQP, 101.590.153 destinaram seu voto a um dos candidatos à presidência da República no primeiro turno, sendo estes votos considerados válidos. Deu segundo turno.
Sou brasileiro, juntamente com os outros 53.936.129 brasileiros que NÃO votaram no discurso oficial, 53,09% dos votos acima.
Nós só queremos continuar a ter o direito da escolha, plural. Teve Dilma, Serra, Marina, Plínio, Eymael, Zé Maria, Levy, Ivan Pinheiro e Rui Costa. Muitos partidos. Democracia.
Me preocupa gente instruída que ainda acredita nessa baboseira sem estudo ou questionamento.
Para eles um recado: caso vejam a mula sem cabeça por ai, mandem saudações minhas. Para o coelho da páscoa não precisa, falei com ele ontem. Não vou falar do Papai Noel porque isso é "invenção burguesa estadunidense".

No hope...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Game over

Nessa reta final estou me afogando do mesmo assunto. Para onde me volto é aborto, fundamentalismo, caso Erenice, quebra de sigilo, Paulo Preto, "luladas" e toda a sorte de sujeira e banalidade que se possa imaginar. Não sei porque alguns ainda mantêm o otimismo. Será que perdi alguma coisa?
Tá muito ruim... Ruim demais!

(...)

Vi Tropa de Elite 2, logo após seu lançamento. Quatro dias de depressão.
Agora na televisão me deparo com Cidade dos Homens.

Depois do filme, já deprimido, zapeando, caio no fosso da Record com o debate. "Valha-me Deus Nossa Senhora". Isso é o fim do mundo? O Apocalipse?

Nosso cinema hoje em dia é absurdamente verossímil, uma catarse. Os filmes não impactam mais pela ficção, mas sim pela crueza. Um murro no estômago. Será que estive hibernando por tanto tempo?
Mas o debate me fez mais mal ainda. What the hell is that? Tive enjoo. Troquei de canal. Mas vide artigo do UOL:
"(...) o espectador não vai perceber que a resposta de Serra sobre Erenice Guerra ocorreu em resposta a uma questão sobre banda larga, nem que Dilma está falando sobre Paulo Preto em resposta a uma pergunta sobre a Petrobras."
Isso não é nem conversa de bêbado. É marketing político, partido empresa. Ideias? O país? Debate??? Debate???

(...)

Um dia idolatrei Woodstock. Quis ser hippie...mas cheguei atrasado. Tenho 44.
Já fantasiei a política e acreditei no socialismo inevitável. Só no conceito, porque nunca li Engels ou Marx. Mas usei camisa da feira hippie, gostei dos posteres do Che e participei do Centro de Estudos de Matemática, na Federal ("tava" mesmo hibernando).
Como todo adolescente universitário, quis mudar o mundo... com uma foice e um martelo. Atrasado de novo. Já vivíamos a revolução da informação, a Perestroika e, ninguém usava mais foice e martelo (nem no campo). Stalin já havia matado o comunismo (e muita, muita gente), assustado o socialismo e criado o Stalinismo com o Holodomor e o Grande Expurgo, pavimentado assim, como diria Hannah Arendt, "o caminho para o inferno". Estava eu de novo atrasado, e mal informado, nos meus 19 anos (hibernando de novo).

Tivemos a redemocratização, a constituição de 88, os escândalos do Sarney, do Paulo César, o impeachment.

Continuamos a ter escândalos. Do Renan, do Sarney, do PT...Todo dia.

É... 3:16AM. Melhor mesmo é ir dormir...
E torcer (dessa vez conscientemente) pra acordar só daqui a uns 4 anos.
"Me tira o tubo..."(1)

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(1) "O amigo do João", personagem do Jô Soares no Viva o Gordo - 1985.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Hai-Kai do ZéMota

Tem gente que tá vivo, mas já morreu. Tem outros que não.

É meu conforto
Da vida só me tiram...
Morto. (1)


Homenagem ao meu pai (espero que o Millôr não me processe por copyright. É dele).
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(1) Meu Haikai preferido do Millôr Fernandes.

domingo, 24 de outubro de 2010

O Cachorro de Pavlov

Entendo a defesa de uma crença, a justificação de um posicionamento. Porém, atores do Século XXI desprezando o legado do Século XVII - o Século das Luzes - para retornarem militantemente ao sectarismo e proselitismo religioso, político, me aflige sobremaneira. Isso sem falar no desprezo ao método científico e à lógica.
É um passo (ou vários passos) para trás. 

Tenho recebido e-mails (de várias fontes) com posicionamentos cegos, carentes de embasamento ou justificação plausível. Meros proselitismos políticos, como textos preparados por “torcidas organizadas”. Quero deixar claro que embora não seja ninguém, ou talvez por isso mesmo, dispenso toda e qualquer panfletagem que ofenda minha ínfima inteligência. Vamos por partes:
- “Dubito, ergo cogito, ergo sum[1]. Nenhum argumento de autoridade, vindo de quem quer que seja (e devo dizer que os que tenho recebido são pífios), é suficiente por si só para convencer-me sem o devido estudo e/ou reflexão.  
Diferentemente do cachorro de Pavlov, prefiro acreditar que ainda consigo me livrar do condicionamento clássico[2] e renego, portanto, o Behaviorismo inicial de Watson. Prefiro aceitar as últimas verdades da neurociência e alguns dos argumentos de Chomsky que me garatem alguma autonomia intelectual. 

E já que falei de animais e de argumentos de autoridade, cito (propositalmente) o sarcasmo de Olavo de Carvalho no texto ‘Rorty e os Animais’ em seu livro ‘O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras’, 5a ed., pp. 60-67. 
Olavo, ao comentar um artigo de Richard Rorty na Folha de S. Paulo num três de Março qualquer, disse o seguinte:
“(...) Mas não creio que o Sr. Rorty escreva assim por mera inépcia. Ele sabe que mente — e o segredo do fascínio que ele exerce sobre hordas de jovens pedantes consiste precisamente em que, descrendo de toda verdade, eles invejam o poder de mentir bem. Há muita gente que sonha em ser Richard Rorty quando crescer.
(...)
Quem conhece o Sr. Rorty pessoalmente garante que ele é um primor de simpatia. Acredito. Mas duvido que abane o rabo. Afinal, não é ele o animal da história [3]”.

Deveríamos (todos) voltar os olhos para uma política mais racional, menos “sanguínea”. Futebol é para estádios. Lá podemos xingar o juiz, odiar o adversário por 90 minutos e lavar a alma sendo irracionais e fanáticos.
Dentro do estádio e por 90 minutos, onde ainda podemos dar vazão aos nossos estímulos animais ancestrais separados por grades/telas/cercas e tutelados pela polícia. Lá seria um bom lugar e, 90 minutos, um bom tempo para salivarmos como o cachorro da experiência de Pavlov. 
Mas fazer isso aqui fora, com política, é o mesmo que transformar o país num experimento de condicionamento de quatro anos. 

Prós e contras, bem e mal, esse maniqueísmo binário só é bom e funciona perfeitamente na álgebra booleana.

Abramos os olhos, pois, ouvidos, mentes. Menos beligerância. 

Ah... E caso não tenha nada de útil a acrescentar, apenas esqueça meu endereço eletrônico...
E vá ler um livro...Por favor.


[1] "Eu duvido, logo penso, logo existo" é uma conclusão do filósofo e matemático francês Descartes alcançada após duvidar da sua própria existência, mas comprovada ao ver que pode pensar e, desta forma, conquanto sujeito, ou seja, conquanto ser pensante, existe indubitavelmente.
[2] Psicologia S-R (sendo S-R a sigla de Stimulus-Response (estímulo-resposta), em inglês). 
[3] Olavo de Carvalho - Rorty e os Animais, O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras, 5a ed., pp. 60-67

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Estatuto do Torcedor

Depois de ver o noticiário de ontem com as cenas do tumulto na caminhada do Serra pelo Rio, pensei mesmo que deveríamos implementar ‘O Estatuto do Torcedor’ para essa militância política acéfala  (de ambos os lados) aqui “desse nosso sítio”.

Eis então que me deparo agora (sem nenhuma surpresa, though) com os comentários sempre sensatos de vossa excelência, Squid, no UOL. Reproduzo um trecho: "Primeiro bateu uma bola de papel na cabeça do candidato, ele nem deu toque para a bola, olhou para o chão e continuou andando. Vinte minutos depois esse cidadão recebe um telefonema, deve ser o diretor de produção dele que orientou que ele tinha que criar um factoide, deve ter lembrado do jogo do Chile com o Brasil". Puro deleite. Quase saltei do sétimo andar, tal meu grau de satisfação.

Diante de tantas analogias molústicas, futebolísticas, venho dizendo há tempos que isso não é mais embate político, é futebol (http://strategosaristides.blogspot.com/2010/10/meu-caro-amigo.html). Militância política é torcida, com a mesma “fé cega, faca amolada” dos sectários e fanáticos em geral.
Em artigo anterior, inclusive, vislumbrei Squid como o novo técnico da Seleção Brasileira num cenário apocalíptico onde o estado de direito fora surrupiado pelo unipartidarismo bolivariano de líderes como Chávez e Squid (http://strategosaristides.blogspot.com/2010/07/diplomacia-69_23.html).
Pra alguém despudorado ao emitir comentários inconsequentes – a despeito de sua posição - sobre qualquer assunto, embasados tão somente pela sua farta "incultura", "deserudição" e "desperspectiva" econômica, filosófica, literária; para alguém acostumado a zombar das leis e instituições e subverter tudo a decisões pessoais desconsiderando a Constituição com a confiança indefectível em seu ego e popularidade, como se estivéssemos todos num bar numa discussão entre desafetos, melhor seria estender de vez a Lei 10.671/03 (conhecida como ‘Estatuto do Torcedor’) - de autoria do Poder Executivo e sancionada no Governo “da” Lula, em 15 de maio de 2003 - aos partidos políticos e seus marionetes "desmilitantes".

Para essa lei, é garantido o entendimento de Squid. Pelo menos foi ele quem sancionou.
Talvez ele até cumpra (se o time dele estiver ganhando).

Afinal, vossa excelência sabe - com certeza - cantar aquela musiquinha:
“Aqui tem um bando de louco
Louco por ti “Curinthia”
Aqueles que acham que é pouco
Eu vivo por ti Curinthia (...)”.[1] 
___________________________________
[1] Bando de Louco - Composição: Gaviões da Fiel

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Não deu peixe.

Sempre sofri de insônia, acho que desde muito jovem. Pelo menos de insônia noturna.
Notívago, durmo com mais facilidade quando deveria estar acordado, pela manhã.
Nunca foi fácil, então, seguir os parâmetros tidos como normais. Já carreguei o estigma de preguiçoso e ostentei fama de que nunca conseguiria me adaptar a um trabalho normal, com entrada às oito e saída às seis. E de fato evitei tal lei marcial até quase os meus trinta anos. Dormia até o meio dia, sem dor na consciência. Nunca fui mesmo um defensor da "ética do trabalho" nem adepto do arquétipo do proletário.
Mas "we gotta do what we gotta do".

(...)

Tiro algumas vantagens da insônia, às vezes. A paz e o silêncio e solidão da madrugada já me proporcionaram bons frutos. Mas nem sempre isso é possível. Por vezes, simplesmente "não dá peixe", como em qualquer pescaria.
Todavia, como toda compulsão, insisto...

Sem inspiração, recorro à ajuda do Blanc (esse sempre inspirado):
"(...) confessei: o mar é meu pecado!
Eu errei, quis ser rei,
soberbei...
Orassamba
acreadeço
pela esfoladura em minhas mãos
na palma em concha o anjo ressurrei
aluciassassinado
A sereia na rocha
me avisou mas eu soberbei
o fanal com a tocha
me avisou mas eu recomecei
Orassamba, não perdoe
esse mergulhorgulho, pescador
que de uma outra vez
com São Pedro
eu ando sobre as águas!"(1)
_____________________________
(1) Orassamba, Guinga e Aldir Blanc.

domingo, 17 de outubro de 2010

Crônicas do Mato. # 2 : "Lá tem..."

Os traços fonéticos do dialeto mineiro são bem conhecidos e já mereceram o devido estudo. Cito dois, a título de curiosidade:
(1) Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais;
(2) Projeto Mineirês – desenvolvido na UFMG entre os anos de 2007 a 2008 –, cujos resultados foram apresentados à comunidade acadêmica através de publicações de diversos tipos.

Mas os aspectos do nosso jeito de falar que mais me interessam agora são:
  • Permutação de "e" em "i" e de "o" em "u" quando são vogais curtas.
  • Aférese do "e" em palavras iniciadas por "es": esporte torna-se sportchi.
  • Apócope do "d" nos gerúndios: chovendo passa a ser chuvenu. Cantando passa a ser cantanu. Fazendo passa a ser fazenu. Tomate passa ser tumat' (com o "t" levemente sibilado).
  • Somente o artigo é flexionado no plural, à semelhança do caipira: os livros é dito us livru. Meus filhos se pronuncia meus filhu.
  • Contração freqüente de locuções: abra as asas passa a ser abrazaza.
  • Alguns ditongos passam a ser vogais longas: fio converte-se em fii, pouco é dito poco.
  • Algumas sílabas são fundidas em outras. -lho passa a ser i (filho ⇒ fii), -inho converte-se em -inh (pinho ⇒ pinh).

(...)


"Cininh" é figura pacata de uma cidade do interior de Minas - no vale do Jequitinhonha - com pouco mais de 30 mil habitantes (estimativa de 2004 depois do último censo de 2000). Atualmente é segurança do BB onde pode ser visto diariamente - no horário comercial - trajando seu uniforme bege com o cassetete (isso mesmo. Escreve-se com o dígrafo “-ss” porque seu étimo (origem) é o francês “casse-tête”, literalmente “quebra-cabeça”) na cintura.
Felizmente não se tem notícia de nenhum roubo a banco por aquelas bandas e o tal instrumento permanece decorativo. Nunca foi usado, nem mesmo pra apartar os mais inflamados na fila do caixa pela insolação da pinga, muito comum naquela região. É sujeito tinhoso, leva no bico, negocia..."Bicaria" é sabedoria herdada por ali.
A propósito, Cininh vem de Alcino, nome de seu pai. Era de se esperar que virasse Alcininho...
Mas em Minas é Cininh "mesmm" e "kabô"!

Seu hobby predileto é fazer trilha de moto. Com ele mais uma dúzia de aficcionados e simpatizantes.
Há na cidade um grupo considerável de adeptos que vão dos mais abastados aos que só tem a moto. E mais, sem discriminação ou arrogância de quem quer que seja. Todos iguais. Socialismo jequitinhonhês de quem cresceu junto, dividindo os mesmos espaços das ruas, rios da cidade (ler Marx pra quê?).

Marcão, aglutinador e agitador da maioria dos eventos, marcou a trilha para um Sábado e planejou que o circuito terminasse na "roça" de Cininh a uns 25 Km da cidade. Encontraram-se no bar do Zé Balaio numa Sexta a tarde pra discutir o horário da saída, ponto de encontro, ordem da comitiva e, principalmente, como terminariam a via crucis na roça de Cininh. Sugestões então pipocaram:
-Tá bom de levar uma "meia" de pinga pra gente tomar lá, disse Marcão.
Cininh pontuou, devagar e mineiramente:
- Leva não moço... Lá tem...
Dedeço irrompeu então com a proposta do "tira-gosto":
- Então vamos levar uns dois frangos caipiras. Ai a gente faz lá.
Cininh de novo emendou, tranquilo, quase com sono:
- Leva não moço, lá tem...
- A gente leva então umas 2 caixas de cerveja, disse Johnny (seu nome "é" mesmo Johnny).
- Leva não moço... Lá tem - Disse Cininh mais uma vez.

Pareceu a todos tudo perfeito demais. Foi então que Marcão, que não perde viagem, espetou:
- Tá bom de a gente levar então é umas raparigas pra lá ...Pra gente ter o que "cunversá"...
Silêncio.
Todos se entreolharam com um ar atônico e buscaram Cininh, antecipando sua reação indignada.
Esse levantou-se da mesa e pôs-se a coçar a barba rala, enquanto caminhava e já divisava o morro da Contagem, da porta do bar.
Um hiato de uns 40 segundos - que pareceram infinitos - sem resposta.

Ele voltou então, devagar e ainda com um olhar distante, coçando a barba com movimentos preguiçosos.
Aproximando-se, curvou o tronco para o centro da mesa e sussurrou - quase soletrando - ao mesmo tempo em que fitava um por um com um movimento lento de cabeça:

- Leva não moço... Lá tem...
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(1) RIBEIRO, José; Mário Roberto L. Zágari ; José Passini ; Antonio Pereira Gaio. Esboço de um atlas lingüístico de Minas Gerais. Rio de Janeiro: FCRB, 1977.

sábado, 16 de outubro de 2010

De volta a Sodoma e Gomorra

Sceptical Essays de Bertrand Russell foi publicado em 1928. No décimo ensaio, O Recrudescimento do Puritanismo, ele disse:
"A objeção prática ao puritanismo, tal como a qualquer forma de fanatismo, é que ela destaca certos malefícios como sendo tão mais graves que os outros que devem ser suprimidos a qualquer custo. O fanático não consegue reconhecer que a supressão de um mal verdadeiro, caso seja realizada de um modo por demais drástico, produz outros males ainda de maiores proporções."(1)

Nessa altura da campanha eleitoral onde ambos os candidatos "venderam a alma" a essa fatia do eleitorado puritano que subitamente transformou-se no fiel da balança, chegamos ao fundo do poço.
Retoma-se o culto da antiguidade de que "determinados crimes provocam a fúria dos deuses contra as comunidades que os praticam e, portanto, são socialmente nocivos. Esse ponto de vista personifica a história de Sodoma e Gomorra."(1)

Tive preguiça de pesquisar os "scouts" dessa hipocrisia, porém, utilizo os dados de um blog idôneo. Pasmem :
"O que deve ser motivo de reflexão é a realidade estampada corajosamente pelos grandes veículos de comunicação: cerca de 1,1 milhão de abortos clandestinos são feitos todo ano no Brasil; a cada dois dias, uma mulher é morta ao fazer aborto clandestino; pelos dados do SUS, o que faz presumir que o número seja muito maior, são 200 mortes por ano. Isso sem contar as que morrem Brasil afora sem nem sequer virarem estatística. Passaram pela rede pública no ano passado, para fazer curetagem, 184 mil mulheres que abortaram clandestinamente e tiveram complicações; em 12 anos, o SUS fez mais de 3 milhões de curetagens no Brasil. O fato concreto é que uma em cada cinco brasileiras de até 40 anos já abortou e mais de 5 milhões de brasileiras já passaram por este trauma.
É a realidade batendo nas nossas caras e clamando para ser encarada como o que é: um problema, seríssimo, de saúde pública!"(2)

Descriminalização do aborto é, portanto, uma questão de saúde pública, não religiosa.
Mas quem quer que seja que vença essa triste eleição caiu de joelhos perante essa turma fundamentalista e hipócrita.
Pelo menos sob a perspectiva desse tema, a vitória either de squidilma ou do Mr Burns será pírrica pra nós, brasileiros, pobres expectadores dessa wall street política que virou essa eleição.
Oh vida...Oh azar...
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(1) Bertrand Russell, Sceptical Essays -1928. 
(2) http://rudaricci.blogspot.com/2010/10/o-mais-importante-artigo-deste-segundo.html

domingo, 10 de outubro de 2010

Resposta do meu antigo professor de Sociologia

Embora não tenha sido completamente compreendido (em meu sarcasmo e ironia) nem concordado totalmente com suas justificativas (entenda porque em http://strategosaristides.blogspot.com/2010/09/etica-ideologia.html e http://strategosaristides.blogspot.com/2010/10/carta-meu-antigo-professor-de.html), esse é um espaço democrático e prezo o embate de idéias.

Posto agora a resposta do meu antigo professor (btw, o cara é Sociólogo, Mestre em Ciências Políticas e Doutor em Ciências Sociais. Diretor Geral do Instituto Cultiva e membro da Executiva Nacional do Fórum Brasil do Orçamento (www.forumfbo.org.br). Membro do Observatório Internacional da Democracia Participativa. Prêmio Grande Mérito Educacional. Autor de "Terra de Ninguém" (Editora Unicamp), co-autor em "A Participação em São Paulo" (Editora UNESP), Orçamento Participativo Criança (Editora Autêntica) e Dicionário da Gestão Democrática (Editora Autêntica), Lulismo (Editora Contraponto/Fundação Astrojildo Pereira), entre outros. Colunista da Band News FM MG). Ufa...

Reitero, todavia, minha convicção: precisamos de um neo-iluminismo politico.

" Caro Aristides,
Você se esquece que fui fundador do PT. Eu conheço bem o que foi o partido em seu início. Tinha valor republicano, sim. Era plural. Agora, virou isto que diz: pragmatismo eleitoreiro. Acho que você confunde moralismo com valor. Não existe esquerda sem valor moral. É justamente o pragmatismo que não possui valor. O udenismo era moralista, o que não é o mesmo. O choque de gestão é anacrônico. É um tecnicismo gerencial. Nada fundamental para o Brasil. Aécio não tem rumo programático. É um animal político, dos melhores, mas programaticamente é frágil. E ficou na década de 1990. Estamos vivenciando o neo-keynesianismo. Finalmente: Zé Dirceu não dirige nem fusca. Ele tenta, tenta. Mas é outro que ficou no ideário da ALN. Passado. Bola prá frente, caro". Rudá Ricci, 10 de Outubro de 2010.

"Carta" a meu antigo professor de Sociologia

Desculpe-me mas: "Agora, abre mão dos valores republicanos mais caros ao petismo" ??? Valores??? O PT subverteu tal conceito ao pragmatismo eleitoral fundamentado em resultados. Isso é uma empresa (e as igrejas neo-pentecostais e todas as outras também). Conceitos como marketing político, a ascensão e influência cada vez maior dessa turma do backstage analisando dados e propondo correções de rota de campanha - custe o que custar -, isso é Wall Street política. Em artigo anterior (‘A pior campanha das eleições presidenciais contemporâneas’), você criticou a agenda moralista (e agora fala em valores) "udenista".  Achei a referência sem sentido, mas não comentei. Perdão, mas agora você soa como economista: só mais um "profeta do passado". 
Criticou o chamado “choque de gestão” (esse mesmo que elegeu Anastasia e Richa no primeiro turno) justificando ser um conceito derrocado pela crise americana. E, a meu ver, é exatamente o contrário.
Ideário é o problema. E se o PT era o último reduto, fomos todos traídos. Prova disso é o artigo sobre a palestra do Zé Dirceu para os petroleiros, onde é visível o projeto a médio e longo prazo do partido. Isso lembra mais o modus operandi dos totalitarismos de esquerda do século passado, ovos da serpente com foco no poder unipartidário, somente.
Já que você fala da ausência pedagógica do lulismo, melhor seria revermos a futurologia econômica Marxista (o comunismo/socialismo inevitável - um blefe) e o materialismo histórico, cuidadosamente. Melhor sería voltarmos ainda mais atrás. Hume seria oportuno. Mas como você bem disse, eles "nunca leriam Fausto". Pedagogia petista então me soa uma contradição. O lulismo promoveu a ignorância como virtude cívica e tá mais para o pragmatismo de Rorty (sem nunca tê-lo lido). Eu cá, pobre mortal, sigo com meu moralismo mineiro: não largo o osso de um ideal, honestidade, e outros valores menos importantes. Qto a religião, a tal agenda ultra-conservadora (outra referência sem sentido pra mim) e o segundo turno, ”vão de retro”.
PS.: 'Leite Derramado' é bom. Tente o Chico (squid disse que leu. Duvido).
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Para completo entendimento, consulte: http://rudaricci.blogspot.com/2010/10/artigo-da-semana-fundamentalismo-e.html e vide também comentários.

sábado, 9 de outubro de 2010

"Mental masturbation"

Long time with no posting in english. It can be presumption of mine - as if I had a big audience abroad -, but it's always a pleasure to play with thoughts, words, phrases in different languages. This makes me fell like someone who can finally be understood apart from boundaries.
I'm sure that I could not make up a different style in english from what I've been writing in portuguese, though. A matter of fact, I feel like thinking in portuguese at the same time of translating and typing in english and, I know, this is not exactly a writing's style in english. But can tell you, gives me a lot of pleasure, anyways.

Something else is to be able to read in english, of course not completely orphan from a dictionary. It's enjoyable to notice the advantages of saying some things in english instead of in portuguese and also in the other way around. Each language has a way to pass things ahead. English is more logical, straight forward. Portuguese may be more appropriate to literature, although we have master pieces in both, each one with its treasure.

So, here I'm once more. Playing with my poor english towards somewhere...

(...)

Reading Tony Judt's book 'Reappraisals: Reflections on the Forgotten Twentieth Century'. And there are more differences between our histories in the last century that I could imagine. Not only regarding the lively cultural and political scenes - in scale - completely different there from here. But also in the sense of all traumas, historical hard feelings that somehow motivated and drove you into 2 big wars and a change in the whole european geography. Now I understand a bit better the feelings and differences between people so close and so far from each other. Not saying that we don't have kind the same, but I'd say that we're still young, therefore safe with no many hard feelings down here.

Well, next "shot" will be to read two books about the dawning of Brazil when D. João VI running away from Napoleon got here and made this a country, '1808' and '1822', Laurentino's books that became best-sellers. I do hope I can then try a link between the two history lines.
Well, I'll let you know then...
What?...you don't care?...

Don't worry. I'll be just exercising my english then.
C ya.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

"No somos más que una gota de luz..."

E ondas sonoras me transportam através de tempo e espaço, além d’alma. Surfando por entre acordes, línguas, vozes, verdades, todas diferentes. Todas transcendentes. Acordes a estrada, o caminho da viagem a lugares de deleite infinito e, no entanto, tudo num espasmo de minutos.
Amálgama de instrumentos, separados, reunidos, fundidos num todo, a música. Pobre de quem não vê, nem ouve assim. Privado de um prazer maior, real e imaginário, ao mesmo tempo.  Só possível porque temos miltons, ritas, rosas, toninhos, drexlers, chicos, tavinhos, lenines, genesis, e outros tantos...
O tempo passa e o velho é novo. O novo é “una estrella fugaz, una chispa, tan sólo, en la edad del cielo(1).
E  “no somos lo que quisiéramos ser, solo un breve latir, en un silencio antiguo, con la edad del cielo"(1).

Enjoy... nosso tempo continua curto.
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(1) La Edad Del Cielo, Jorge Drexler

terça-feira, 5 de outubro de 2010

"Meu caro amigo"

A política – “aqui na terra...” - continua a ser tratada como um embate futebolístico. O negócio é ganhar o jogo. Esse é o fim em si mesmo.
Confesso meu atavismo e acho que não tenho mesmo cura, sou um sonhador. Anacrônico, educado por um motorista de caminhão e uma professora do primário, ainda gostaria de acreditar que bom mesmo é ter um ideal, ser honesto, sincero. Não caberia confortavelmente nesse mundo, todavia.
Porém não coopto.
Ai patino, no trabalho, na vida, nas relações pessoais.
Dane-se! Velho demais pra mudar estou, mestre Yoda.

Houve um ponto em nossa história recente onde migramos do obscurantismo religioso para um iluminismo pragmático, amoral. Adeus tabus - o que foi bom - mas adeus também aos valores, de cujo conteúdo dogmático infelizmente nos livramos. Fui testemunha ocular, nos anos 80.
Em parte devemos isso aos psicólogos televisivos, que deram muito Ibope e falaram muita besteira, por modismo e/ou inconsequência.
Mas a maior parte ao statu quo, sempre favorável aos que detém poder e influência ao mesmo tempo que implacável com todos os outros.
O exemplo sempre veio primeiro de cima... ai virou moda. Liberou geral.
A gente se cansou de ver gente descumprindo o que é amplamente disseminado (ideologicamente, claro, só pra garantir que não roubem deles, enquanto eles roubam de todos, impunemente) como honestidade, cumprimento das leis.

Pode-se tudo. Ser politicamente correto virou sinônimo de “Mané”. Tudo é ridicularizável. Extrapolamos a ironia, o sarcasmo, o humor ferino sobre nossas próprias vicissitudes e deficiências. Isso agora é imbecilismo, não é rir pra aprender com nossa desgraça. É rir de tudo, de todos, o tempo todo, feito hienas.

Daí vieram os psicopatas da nova geração, esses que já "brincaram" de queimar indigentes vivos nos abrigos de ônibus de Brasília. Esses que já saíram das baladas dirigindo suas “beamers”, bêbados, pela contramão do Anel Rodoviário em direção ao BH Shopping, matando assim inocentes em seus carrinhos nacionais sem air bags.
Punição??? Que tal a proibição de pilotar o helicóptero da família?
Fazem piada. Dá Pânico.

Daí vieram também quem mataria a mãe por alguns minutos de exposição na televisão, ou pela audiência, a luta irresponsável pelo Ibope. Vale mostrar qualquer coisa.

Daí vieram principalmente a eleição continuada desses nossos políticos.
Usurpadores de tudo, todos, o tempo todo.
Virou balcão de negócios, benesses, sinecuras.
Sei não...

Agora reclamar do Tiririca? Porque ele é analfabeto?
Foi eleito com mais de 1,3 milhão de votos. E concordo com ele: "pior que tá não fica".
É triste na mesma proporção em que é verdade.
Os profissionais letrados são do naipe dos barbalhos, malufs, dirceus, sarneys, genoinos e por ai vai. E squid não é nenhuma sumidade em matéria de letras, e é presidente há 8 anos.

Entre eles e o palhaço fico com o palhaço. 
Já está uma palhaçada mesmo...
Isso tem que pelo menos servir pra ridicularizá-los a um ponto inaceitável.
Ai ou mudamos nós, ou mudam eles: pro Alaska, Madagascar, Springfield ou pra PQP.

E o cara ainda alardeou a ignorância nacional como sendo virtude cívica.

É...
“Mas o que eu quero é te dizer que a coisa aqui tá preta...”.