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sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Tranquill Buzz Coffee



Num voo de El Paso a Houston, depois de visitar meu filho em Silver City, observo a cidade sob os holofotes da lua cheia a trinta mil pés de altura de meu lugar na arquibancada do avião.

El Paso pareceu-me mais bela dessa vez. As montanhas no entorno da cidade lembrando-me a serra do Curral, só que ao invés de Belo Horizonte, ELP deitada no vale.

ELP é o acrônimo do aeroporto da cidade, e, nem tão coincidentemente assim, o nome da minha banda preferida de progressivo da década de 1970.

(...)

Keith Emerson matou-se em 2016, com um tiro na cabeça. Tinha setenta e um e não mais a destreza e virtuose que fizeram dele uma lenda. Tal infortúnio, talvez relacionado à sequela de um acidente de moto e à idade, tiraram dele a alegria deixando porém a alma de músico. Essa incompatibilidade levou-o à depressão, ainda que permanecesse para sempre o ‘E’ do ELP - Emerson, Lake and Palmer. Mas não interessa mais, Keith se foi. Não gosto mesmo de imaginar o motivo. Nem sei se algum motivo justificaria tal viagem, e nem quero saber.

Talvez Torquato já soubesse. Porém calado há tempos, veio nos contar somente depois de Edu musicar ‘Pra dizer adeus’, quando já era tarde...

(...)

Zeca e eu estivemos em um café em Silver City hoje à tarde. Como em Venice Beach, na Califórnia, a cidade também um reduto de hippies cabeludos sexagenários. Mas diferentemente da praia da costa oeste, velhos zen enfronhados em livros, música, natureza, artesanato, vida simples e alguma marijuana. Assim é o Tranquil Buzz Coffee House, onde lendo-se stressed ao contrário pede-se na verdade uma das deliciosas opções de desserts da casa.

Em Los Angeles, tudo visível demais, estereotipado demais, ripongas pra turista ver na beira do mar da Califórnia (“garota eu vou pra Califórnia...”).
Se Silver City é raiz, Venice Beach hoje é Nutella premium. Seria como comparar BH e o jazz e progressivo rural do Clube com o axé asfixiante da Bahia, a despeito do passado com The Doors e a geração Beat (1950 e 1960). Foi-se.

Ai me lembro de um ex-namorado de uma amiga (Fernando?) que durante um carnaval em Salvador, de abadá e o diabo, estancou subitamente no meio daquela torrente e perguntou-se:
 - que diabos estou fazendo aqui?
Lembrou-se pois foi de Zé Henrique cantando de cima de um caminhão improvisado “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu...”, de nós descendo a Marechal atrás do Trio em direção ao largo do Sobrado de Mário em Minas Novas... e consumido foi pela saudade.

(...)

Pensei no velho hoje de novo. Deixei seu neto outra vez mas sei que não sozinho. Os anos se passam e as comparações são inevitáveis. Reminiscências, memórias feito um caleidoscópio de lembranças, momentos.
E a lua cheia lá fora da janela “como um sonrisal num copo”, diria Inô (ex-comunista, como a China) numa daquelas férias no Vale que impossíveis de esquecer.

Envelhecer é perigoso...

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Mustangs


Meu pai se foi em 2012. Não me agrada lembrar a data, rever a dor. 

Meu filho recebeu seu nome... antes, muito antes de um câncer intrujão tirá-lo de nós. 
Lembro-me que primeiramente queria Francisco, Chico Chicão, como na Gabriela de Walter Durst. Porém topei com a oposição maciça da família e da mãe, da qual não poderia mesmo me esquivar. Dai veio a cartada derradeira, chamar-se-ia ZéMota, como o avô. A mãe rendeu-se de imediato, sem resistência, nem mesmo escondeu a satisfação. Afinal, tinha jogado pesado, um xeque-mate de mestre.

Lembro também de como contei ao velho. Chegando da rua, entrou pela porta da cozinha e perguntei:
Sabe qual será o nome do seu neto?
- Qual?
- O seu.
Driblou-nos emocionado e dirigiu-se ao quarto onde provavelmente ninguém o veria chorar.

(...)

Logo depois que nasceu deixou-nos no hospital e incumbiu-se compulsoriamente de registrá-lo no cartório. Pegou o laudo médico e voltou com a certidão de nascimento onde seu nome constava duas vezes: ZéMota Neto registrado por ZéMota.

(...)

É 2017. Um novo Agosto. Estamos em Silver City, Novo México. Outro dia 6, uma Segunda-Feira, cinco anos depois. 
Há cinco anos meu pai se foi. 

Agora começa o primeiro dia do resto da vida de meu filho. Encontramos o técnico, nos extasiamos com o campus, com a hospitalidade. Quase tudo acertado em um único dia. 
O Velho estava lá. 

Dois dias depois, surpreendentemente adaptado, sentiu-se em casa. Uma casa longe de Minas, mas que com Minas se parece. O dormitório da Universidade, as montanhas, o povo, a cidade de dez mil habitantes, Silver City. Poderia ter sido Ouro Preto, Diamantina, Minas Novas, é tudo mina.

(...)

O coach torce para o Galo, num país onde football joga-se com as mãos. Um mexicano-americano torcedor do Atlético Mineiro. 
O Velho estava lá de novo.
Estava comigo no caminho de volta ao aeroporto em El Paso quando olhando para as nuvens num dia ensolarado antes de Bayard, a 55 milhas por hora, disse a ele que nosso menino crescera. 
Revi seus passos, do Jequitinhonha a BH. Revi os meus, de BH a Curitiba. Pensei nos dele, BH, Curitiba, Silver City no Novo México, o mundo. Culpa do Velho. Foi em 2012 para nunca mais sair de nós. 

Deixei seu neto para trás. 
Não chorei nem entristeci, só uma ponta de saudade. Afinal, o Velho estava lá... estaria por ele, por nós, sempre!, já não pairava mais nenhuma dúvida!

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Caleidoscópio


Não vi coisas que vocês nunca acreditariam. Nem naves de ataque em chamas perto da borda de Orion, nem a luz do farol cintilar no escuro na Comporta Tannhauser. 

Esses momentos perdidos no tempo como lágrimas na chuva pertenceram a Roy, o replicante que em seu momento derradeiro poupou seu algoz e caçador, Deckard, personagem protagonizado por Harrison Ford em Blade Runner, de 1982. 
O filme foi mal nas bilheterias mas virou um clássico cult, o que faz todo o sentido.

No limiar do fim Roy sabia exatamente o valor da vida, e poupou Deckard dando-lhe a chance que dele fora tirada... seguir vivendo.

Vi coisas... terras, gentes, lugares que nunca imaginei vislumbrar um dia. Não sei bem ao certo como tudo aconteceu, sei apenas que havia alguém ao meu lado a soprar-me a confiança, a petulância e coragem dos valentes. Também fui poupado, como Deckard em Blade Runner.
Não, não é muito... talvez quase nada. Mas dessas lembranças ainda pinço o dia em que me embrenhei em braçadas pelo Araçuaí, rio ardiloso depois das chuvas de Dezembro no Vale. Lembro também da fachada da casa do Zé da Toca e da "fonção" em Cachoeira à noite, para onde nos dirigimos depois da acolhida rápida em Santa Rita na casa do Zéa quem demos carona de Minas Novas no Maverick do Quilim naquele dia
E subitamente estou na Grand Place num feriado, tiro algumas fotos do carpete de flores cuidadosamente montado na praça para me perder logo depois em lembranças de Asakusa, Tóquio, e seu templo budista dedicado ao bodhisattva Kannon... um bodhisattva que personifica a caridade, caridade que o criador não teve para com Roy.

New Orleans e o beignet do Café Du Monde no French Corner, o Mississipi ao fundo a me lembrar o Araçuaí, da Toca, Cachoeira e a "fonção", a Grand Place, Asakusa, Kannon e a caridade. 
Chicago logo ali a provar que o mundo é mais que nossa perspectiva provinciana e xenófoba das coisas. New York e a neve intensa de Fevereiro ou as Ramblas em Barcelona e o Mercado La Boqueria, onde quis que o João Paixão estivesse presente, ele que é louco pelo Mercado Municipal de Belo Horizonte e por tantos outros mercados, em tantos outros lugares. 

Lembro então da última vez em que estive com meu velho no Mercado em Minas Novas. Minha mãe contou que em seu momento derradeiro, no limiar de entregar sua lucidez, ainda preocupou-se e perguntou a si mesmo: "o que eu vou fazer ?" num monólogo final.
De lá para o Sena, o Thames em London ou o Danúbio em Budapeste... O air racing no St. Stephen's Day e o mergulho dos monomotores na parte final do circuito deixando um rastro de fumaça debaixo da Chain Bridge, todos a me trazerem de novo o Araçuaí, o Mississipi, os beignets do Café Du Monde, a New Orleans do French Corner, Mardi Gras, o mercado e o carnaval em Minas Novas. O manneke pies, o d'Orsay na beira do Sena... a Mona Lisa, o Louvre. 

Luca, um italiano que conheci em Palo Alto e um link que me enviou do YouTube com um show ao vivo do PFM em 2010, o mesmo PFM do clássico Chocolate Kings que herdei sem querer do Tião. Dos chocolates que comprei na Filip Martin na Rue au Beurre próximo à Grand Place... e de novo Asakusa, o templo budista de Kannon e a caridade... caridade que Roy nem outros receberam. A Golden Gate ou um festival de verão em Viena. Mozart ou o PFM, os chocolates. O choro e a saudade do meu pai no Hotel no City Centre, a caridade de Kannon, a falta dela no criador de Roy.

A Catedral Saint-Bavon em Ghent em 2007, um dia perdido no tempo, um grito. A vela que acendi para meu irmão e outros que haviam partido.
A Igreja St. Nicholas perto da Filip Martin dos chocolates em 2014 onde rezei depois de tantos anos e pedi misericórdia... 
A Deus... Por meu pai... a meu pai... por todos nós.

"Saudade é o pior tormento..."

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Imagem: http://www.cameraviajante.com.br/caleidoscopio.html

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Notas de miragem

Tentei iniciar o ano escrevendo algo diferente. Não consegui.
Tempo velho de um ano novo.
(...)
Tenho sonhado frequentemente com meu velho. Aqui e ali ele ainda passa por mim e flerta, me diz coisas.
Estranho minha mãe não ter sonhado com ele ainda.
Pra mim, de todo modo, é o velho ano que não acabou, que talvez nunca acabe.
(...)
Vim do interior onde encontrei velhos amigos dele. São meus amigos agora, como também seus filhos, e até os filhos de seus filhos. Talvez esteja me transformando, por vezes acho mesmo que sou ele. E gosto, até.
(...)
Do alto de um prédio vi a tempestade emboscar a cidade. Nuvens subitamente cobriram o azul fazendo do cinza a âncora do mundo.
O muro d'água cegou-me por minutos enquanto o rebenque do granizo açoitando o prédio, os carros me fazia imaginar o fim de tudo. Fôramos reduzidos a prédios, carros?
Busquei explicação então numa viagem de trem. Sou mineiro, after all.
Fui além... adentrei a fazenda de um pai segundo e descobri um caminho novo: entre cães, galinhas, abóboras, o maxixe da horta, a mata, o gado, o lobo guará errante, a bebida intoxicante depois do jantar, estava a vida ali dispersa à minha frente.
(...)
Continuar é preciso...
Lembrei meu avô e repeti: "quem vier por último que feche a porteira".


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Uma nota só

Um luto ainda me persegue. Não é culpa minha, a onipresença do meu velho sempre foi minha companheira, estivesse ele de corpo presente ou não.
Falo então com ele todos os dias, toda hora, como se ainda ouvisse seus conselhos e brincadeiras, esse eco que por deus, espero permaneça em meu crânio pra sempre.

Não sei quantos podem dizer o mesmo acerca do pai.
Mais engraçado é que depois de tantos erros e traumas, mútuos, viramos esse amálgama como se fôssemos um só. Hoje sei que somos, porque se a ele não foi dada a escolha, a minha fiz com convicção e vontade: mantê-lo comigo, eternamente vivo, em minhas lembranças, onde o maldito câncer não tem efeito nem alcance, não passa de uma imperfeição ou pesadelo num mundo onde o demiurgo sou eu... e é lá que viverá pra sempre, sem os riscos ou males do mundo, ladeado por outros, muitos... todos eles salvos do fim.

domingo, 11 de novembro de 2012

Tríscele ou : Daltonismo e Parosmia

Levantou os olhos, viu-se refletido no espelho mas teve a sensação de não enxergar-se, opaco, silhueta difusa, face, cabelos, os olhos que não pareciam mais os dele.
Subjugado pela dor não enxergava mais como antes.
Algo literalmente mudara, secara, perdera a cor. Fizera digressões sobre a morte inúmeras vezes, mas não tratava-se agora de mais uma de suas elucubrações, mas da vicissitude mesma, companheira intrometida a segui-lo desde então até o fim de sua vida. A teoria sempre lhe caíra melhor, professor e pesquisador que era. A realidade das provas por certo nunca deixara-o à vontade, e agora tombava-o doente.
Com a perda, um daltonismo psicossomático, o olfato cego fizeram dele um homem de três sentidos, embora não atribuísse a si mesmo sentido algum naquele momento. Era agora também um homem de três dimensões, sem o espaço-tempo, malgrado sentisse como maldição a gravidade do buraco negro a sugar-lhe as cores do mundo. Não encontrou lenitivo em suas crenças, muito menos na falta delas.
Saiu do banheiro e seguiu o cortejo até a cova, aquele ínfimo retângulo numa colina onde a passagem já determinava pisotear nomes, histórias, passados. Estacou numa daquelas lápides para verificar o derradeiro, 'Maria Aparecida Carvalho', *12.01.1982, ƚ 06.08.2012. Apertou os olhos em desespero e rogou em silêncio ser tirado dali, resgatado, transmutado, acordado em outro lugar onde pudesse ouvir sua voz de novo, seu epíteto acolhedor, "sim moço...". Nada... estava mesmo ali a cruzar o Aqueronte. Ao abrir os olhos o cinza asfixiante das gentes, do choro, da tristeza a pairar como um fog fantasma. As lembranças do hospital, seus corredores agora num gradiente de cinza que ia desde o quase branco ao quase negro, como aquele quarto de onde fugiu ao ouvir desesperado seus últimos suspiros. Do corredor, já em transe e daltônico, viu pessoas igualmente graves, sem brilho. A força da gravidade daquele quarto, o buraco negro a tragar tudo, até mesmo os raios de luz daquela manhã quando a mãe veio dizer-lhe que tudo acabara. Adentrou novamente o diâmetro daquele eclipse desvencilhando-se tão rápido quanto pôde logo depois, a fugir da escuridão a cegar-lhe, acinzentada.

Deixou o enterro logo após a descida do caixão naquela cova funda, sob a perspectiva de um mundo em tons infinitos de cinza, a começar pelo cemitério com a grama de um cinza claro, como uma névoa rasteira. Seguiu qual um zumbi mudo, errante.
Pessoas falavam, tocavam seu ombro, mas não era capaz de sentir nada. Duvidou da audição, se ainda ouvia, algo que constatou verdadeiro após ser achacado pela buzina de um carro pedindo passagem na saída do cemitério. O carro cinza claro, três pessoas dentro, cinzas, de cabelos acinzentados. Cinza, claro, suas preocupações imediatas, sua vaidade. Quase negro, cinza escuro seu orgulho. Bobagens num cinza quase branco, errático, fugidias e fugazes agora inteiramente despidas na sua curta extensão e efemeridade. Viu-as todas, arrependendo-se delas.

Era assim que viveria então, sem sentir o perfume das flores - afinal todas teriam o cheiro do crisântemo ou dos cravos, acinzentadas - nem mais entender a cor das manhãs.
Duvidou se sobrara-lhe mesmo o tato, o paladar... mas não tinha fome, e quem gostaria de possuir naquele momento, a única libido que queria de volta, era a vida.
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Figura: triskle
Tríscele em http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=3: símbolo indo-europeu, palavra de origem grega, que literalmente significa "três pernas", e, de fato, este símbolo nos lembra três pernas correndo ou três pontas curvadas, uma referência ao movimento da vida e do universo. Na cultura celta é dedicado à Manannán Mac Lir, o Senhor dos Portais entre os mundos.
Tudo indica que o número três era considerado sagrado pelos celtas, reforçando o conceito da triplicidade e da cosmologia celta de: Submundo, Mundo Intermediário e Mundo Superior.
O triskelion também é conhecido por triskle ou triskele, tríscele, triskel, threefold ou espiral tripla, e possui dois grandes aspectos principais de simbolismo implícitos em sua representação, que são: 
- Simbologia ligada ao constante movimento de ir, representando: a ação, o progresso, a evolução, a criação e os ciclos de crescimento. 
- Simbologia ligada às representações da triplicidade: Corpo, Mente e Espírito; Passado, Presente e Futuro; Primavera, Verão e Inverno... Os ciclos de transformação.

Tríscele em http://fontesdeluz.blogspot.com.br/2011/04/triskle.htmlTriskle é um símbolo celta que representa as tríades da vida em eterno movimento e equilíbrio.
*nascimento, vida e morte
*corpo, mente e espírito

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A meada do fio

Tenho saudade do meu pai. Mas diferente do Briguet, não me lembro dele em conversas sobre literatura, ou filosofia. Na verdade, sinto falta de nosso parlamento permeado por cacos de causos de Minas Novas, ou das impressões e reminiscências que puxava de suas aventuras e desventuras como caminhoneiro do Vale. Um diálogo absolutamente estranho aos neófitos, como se fôssemos extraterrestres, prot e seu filho do planeta K-PAX distante 1000 anos-luz da Terra, na constelação de Lira.
Até o silêncio carregado de gravidade, afinal, ambos sabíamos do hiato tudo o que estávamos a dizer um para o outro, sem emitir uma única palavra.
Foi assim até o final, muito mais dito nas pausas, olhares.

(...)

"Cai n'água"... "Nhô nhão..."
O velho me disse coisas, e não terei tempo para esquecê-las... Não viverei o suficiente para que o tempo (abusado e intrujeiro) apague minhas memórias dele... essa eu venci, por puro prognóstico clínico. Aliás, "suporte clínico" é só uma definição infame, que prefiro, essa sim!, esquecer.
Meu filho beijou-me a testa ontem à noite antes de sair para três dias de praia em Santa Catarina, na casa de um amigo. Me disse que no prédio há quadra de tênis e levou sua raquete. Anda jogando um tênis que me enche de certeza... puro prognóstico paterno. Já minha filha se enfiou num vestido curto brilhante e foi para uma balada teen com uma amiga. Muy certamente seu namoradinho da escola já a esperava por lá... mero prognóstico... cheio de ciúme. A mais velha chegou mais tarde do trabalho após ter parado no cinema... e agora me arrependo de não ter prestado atenção quando me contou sobre o filme ontem à noite, não me lembro do título enquanto escrevo essas linhas... Mas lembro-me de que tudo começou com ela, vinte e três anos atrás, e de como meu velho, embora assustado, apoiou-me incondicionalmente... fez mais, à minha revelia e conhecimento, adotou minha esposa como filha e deu a ela, mesmo nos momentos em que estivemos em lados opostos, o mesmo apoio que deu a mim. Nesse pormenor não tinha partido... que nem eu, que hoje como único partido tenho o 'partido alto', do samba, no bar Botafogo ali no Mercês. E pego de novo o fio, embora às vezes ele me pareça fundido com pedaços avulsos do presente, passado, até futuro, numa desordem calculada, numa sequência atemporal, como um todo.
Minha vida é assim, um ciclo... onde inevitavelmente volto... e acabo começando tudo de novo, e falo de meus velhos, meus filhos, de novo, e de novo... outra vez.



sábado, 15 de setembro de 2012

Além do espelho

Quando eu olho meu olho além do espelho
Tem alguém que me olha e não sou eu
Vive dentro do meu olho vermelho
É o olhar do meu pai que já morreu
O meu olho parece um aparelho
De quem sempre me olhou e protegeu
Assim como meu olho dá conselho
Quando eu olho o olhar de um filho meu

A vida é mesmo uma missão
A morte é uma ilusão
Só sabe quem viveu
Pois quando o espelho é bom
Ninguém jamais morreu

Sempre que um filho meu me dá um beijo
Sei que o amor do meu pai não se perdeu
Só de olhar seu olhar eu sei seu desejo
Assim como meu pai sabia o meu
Mas meu pai foi-se embora num cortejo
E no espelho eu chorei porque doeu
Só que vendo meu filho agora eu vejo
Que ele é o espelho do espelho que sou eu

A vida é mesmo uma missão
A morte é uma ilusão
Só sabe quem viveu
Pois quando o espelho é bom
Ninguém jamais morreu

Toda imagem no espelho refletida
Tem mil faces que o tempo ali prendeu
Todos tem qualquer coisa repetida
Um pedaço de quem nos concebeu
A missão do meu pai já foi cumprida
Vou cumprir a missão que Deus me deu
Se o meu pai foi espelho em minha vida
Quero ser pro meu filho espelho seu

A vida é mesmo uma missão
A morte é uma ilusão
Só sabe quem viveu
Pois quando o espelho é bom
Ninguém jamais morreu

E o meu medo maior é o espelho se quebrar
Meu medo maior é o espelho se quebrar

                                                   (1)

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(1) Além do espelho - João Nogueira

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Agosto

Tivemos momentos ruins, meu velho e eu.
Teve época em que fomos o antípoda um do outro, tudo porque no fundo éramos absolutamente iguais. Ironia.

Um evento, o divisor de águas, e nunca mais falamos de nosso passado mesclado de equívocos, de ambos os lados. Miramos o futuro e vivemos o presente... até o fim!
Não cabe aqui remoer memórias, mas numa noite na chácara de Santa Terezinha - o Recanto Motinha - contei a ele o momento que vivia.
Ele sempre estivera certo, a juventude, os arroubos passam, caso de fato você amadureça.
Ele apenas balançou a cabeça positivamente.

Embora alguns escolham não amadurecer, como o Oskar de Günter Grass em O Tambor, prefiro o contrário. Entre o Tambor de Günter ou Abril da Calcanhoto, fico com a segunda opção.

"Sinto o abraço do tempo, apertar
E redesenhar minhas escolhas
Logo eu, que queria mudar tudo
Me vejo cumprindo ciclos, gostar mais de hoje
Gostar disso" (1)

(1)

_________________
(1) Abril, Adriana Calcanhoto


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

ZéMota

Tive muitos ídolos. Tenho alguns ainda...
Toninho, cuja harmonia transcendeu o comum e dividiu águas. Russell, Voltaire pelo sarcasmo e argúcias desconcertantes. Benito Barreto e Guimarães por capela dos homens e grandes sertões. Reinaldo pelos gols no Cruzeiro... e no resto. Millôr, Francis, Beto, Tusta, tantos.
Uns escritores, outros músicos ou filósofos, jornalistas, jogadores de futebol... amigos, gente desconhecida, qualquer um. Nenhum político, todavia, e é bom que se diga.

Mas idolatro e idolatrei mesmo foi um motorista de caminhão do Vale do Jequitinhonha, daqueles que cortavam a estrada velha e depois a Definitiva num Chevrolet caixa seca, na lama, sem freio, carregado de porcos, ou o diabo. Cruzou o Brasil saindo de Minas Novas, lugar ermo (pelo menos naquela época). Seu orgulho maior era apenas dirigir como ninguém, como se tal virtude fosse mesmo o supra sumo da vida. Era pra ele, e era pra mim por extensão direta e laço de respeito e admiração. Contou-me histórias, casos de uma terra que adotei minha através das memórias dele, como se tivesse nascido e crescido lá desde sempre.
Assim Bulé, Biga, João 100%, Tião de Angelino, Zé Camargos... assim o Bongô, a Pedra da Onça, o Beco do Mota, Diamantina. Assim as bolas de fogo, inúmeras, incontáveis...

Para a inteligência vale o princípio da abundância, que diferentemente do pressuposto da escassez na economia, prescreve que quanto mais falta, mais tem-se a impressão de que sobra. Simplificando, quanto menos se enxerga,  mais arrogante, mais estupidamente decidido o estulto arrota o bom senso e agudeza que derradeiramente não tem.
Chico Doido uma vez, numa viagem de Minas Novas a Belo Horizonte, fingiu-se o tolo da história, fazendo feliz o verdadeiro besta da viagem. A estupidez tem mesmo essa característica, não entende a própria mediocridade que por cegueira projeta nos outros. O esperto era Chico. Sempre foi.
Assim cansei de ver idiotas projetando sua estupidez naquele motorista, que ria internamente da cegueira alheia. E seguia, como sempre fez.
Com alguns me indignei, com outros, simplesmente dei de ombros. Um deles disse uma vez que "quem enterra m... é gato", quando falava de um velório alheio.
Foi primeiro... cercado dos gatos a lhe cobrirem de terra... sua sina.
Sua cegueira poupou-lhe ao menos da constatação do óbvio, sua essência fétida.

A vida passou. Para aquele motorista até acabou, como também acabará para mim um dia.
Mas valeu a pena... sua alma não foi pequena.

Quanto a mim, conheci Kafka, Dostoievski, Rosa, Schopenhauer... Ouvi Bach, Toninho, Milton, Tião Contente. Vi mundo, do Japão à Hungria. Nadei no Bonsucesso e dormi bêbado no sobradão do Mário num carnaval. Acumulei lembranças.
De uma forma ou de outra, tudo graças a ele, seu legado em mim. E embora não tenha guardado posses ou dinheiro, continuo acreditando no princípio da abundância no que tange assuntos relacionados à inteligência. E diferente de Brás Cubas, tive filhos, plantei um jacarandá e ainda escreverei um livro.
Ainda vejo com certo descaso a ostentação das posses, da grana como condição inequívoca de sucesso.
Para estes, nunca a agonia de Joseph K, ou Raskólnikov, ou a epopéia sertaneja de Riobaldo Tatarana. Nunca saberão nada sobre o universo inflacionário ou a Turritopsis nutricula. Não conhecerão o bar do Cardoso, ou nadarão no Buriti.
Meu velho dizia com sinceridade desconcertante o que esses nunca poderão dizer:
 "- Da morte não tenho medo. Meu medo é o Cardoso fechar as portas."

Da Vinci vaticinou que "a simplicidade é o último grau de sofisticação".

E eu continuo achando que aquele motorista de caminhão era mesmo um deus, o Da Vinci do Vale que me deu esse jeito de andar...

Só um "cabra homi" que de bônus ainda me permitiu um dos maiores deleites que tive na caminhada até aqui: ter andado a seu lado... ser seu filho.

sábado, 19 de maio de 2012

Feito pra acabar

Há o tempo em que tudo parece infinito... o vigor, a juventude, o futuro, tudo inexorável. Minha perspectiva infantil do mundo era assim. A finitude surreal, algo que simplesmente não entendia.
Cresci e entendi melhor a morte, os limites de nossa caminhada, embora tenha fugido deles com todo o empenho e força dos meus vinte anos... nunca olhando pra trás.
Mas fiz trinta, quarenta, e o tempo insiste em gastar tudo.
Alguns vieram, outros tombaram pelo caminho, nem sempre mantendo o balanço entre a alegria e o desespero de nossas vidas. Ai me agarro aos que fiz, como lenitivo derradeiro para perdas que sei, virão. É neles que me refugio como um louco, vivendo seus júbilos, descobertas, conquistas, ensandecido, evitando outras realidades que não acrescentam.

A gente é feito pra acabar.

Não sei de nada... Talvez nunca venha a saber.
Mas vou até o fim. Meu conforto...




quarta-feira, 30 de novembro de 2011

"Hoje não passa de um dia perdido no tempo... e grito!!!"

“Engraçado” como o tempo se encarrega de colocar à sua frente realidades insopitáveis, desagradáveis porque lógicas demais, indigestas ou duras como o fel, do qual gostaríamos de manter eterna distância.

A morte de muitos com quem caminhamos é uma delas.
Como uma equação matemática – de probabilidade -, prescreve-se que os mais velhos deverão ir primeiro.
Quando é alguém que amamos, recusamo-nos a pensar sobre isso, afastando sempre que próxima de nossa mira qualquer consideração sobre a finitude de nossos entes queridos, tanto quanto a nossa mesma.

Lembro-me de como tratava tal imbróglio quando criança. Ao invés de ruminá-lo, deglutí-lo tanto quanto possível - já que inevitável e natural -, simplesmente corria na direção oposta: apagava sistematicamente de minhas elucubrações diárias tudo que relativo à possibilidade da morte de meus pais. Doía demais.

Vejo com certa preocupação que meus filhos fazem o mesmo, hoje. Sempre que confrontados com algum desvario do pai que por ventura signifique risco ou redução da expectativa de vida, reagem com pânico e certa truculência. Não obstante, trata-se de prova inequívoca de amor e cuidado, embora nem assim eu cá tenha evitado algumas burrices homéricas, desafios à vida com a coragem suicida, homicida, dos bêbados ou loucos.
Cada estupidez que cometia - feito um bucéfalo desorientado -, refletia no espelho dos olhos de meus filhos o que eu mesmo não conseguia enxergar: o mundo sem o pai.

Ao escrever essas linhas, externo aqui o pavor que imagino eles sentem nessas ocasiões, até onde posso vislumbrar sua indignação todas as vezes que me repreendem acerca de uma de minhas muitas tolices, ainda.
E eis que hoje esse medo também me persegue. É meu pai que foge de mim, contra a minha vontade, contra a vontade dele. É tudo só mais um pouco dessa matemática louca da vida, inversamente proporcional, agravada pela tristeza da doença que sufoca a chama, transmuta o outrora forte e destemido num frágil e limitado espectro, de olhar opaco sobre um futuro vago e derradeiro. É a incapacidade da prospecção de nossa própria morte, da morte de quem amamos espreitando meu sono.

Nada mudará, eu sei.
Para os crentes e místicos de todo lugar, a fé e a crença são o lenitivo para a dor e o desespero.
E quanto aos céticos?
Outro dia, como não acontecia desde 2007 quando fui acometido por uma espiritualidade desconcertante diante de uma igreja gótica em Gent, na Bélgica, fui também impelido a entrar na Igreja da Paróquia Imaculado Coração de Maria em frente à praça Ouvidor Pardinho. Mas antes de consumar o desejo, voltou-me à mente a cena da Catedral Saint-Bavon em 2007, quando ao apanhar a vela ainda inebriado de espírito, fui abordado por um auxiliar da sacristia para que pagasse primeiro, o que subitamente arrancou-me de volta do transe, deixando-me novamente só.

Ainda acendi a vela, que me custou 1,50, acho. Porém, o sentimento que havia me tocado minutos antes se desfizera, antes mesmo que a chama dançasse malemolente ao sabor das correntes de ar na nave daquela catedral medieval ou eu arriscasse uma oração.

Aqui, onde ainda consigo ser claro, sincero, imune às armaduras e máscaras que vestimos todos os dias, suplico a quem “ouvir”… e principalmente puder:  fale comigo, dê-me um sinal, ainda que eu, um ponto obscuro do cosmo crivado de erros e defeitos que nem sei se poderei sanar algum dia, vendo meu pai como alguém que ainda merece, porque acertou mais que errou, seja quem clame agora para que ele permaneça.

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Imagem: Genter Altar, Altar des Mystischen Lammes, Haupttafel, Szene: Die Anbetung des mystischen Lammes - Hubert van Eyck

domingo, 24 de abril de 2011

Estrada Definitiva

Um dia escreverei um livro... com esse título (posso sonhar).
O final será mais ou menos assim...

E definitiva era a estrada, como derradeiras as curvas e pedras do caminho.
Numa encontrei meu passado, encoberto de poeira vermelha numa espécie de traje das memórias e lembranças do tempo. Elas vestiam a roupa do Vale, vermelha, de terra escardida do cerrado.
Ali jazia minha alma jovem, pra sempre enterrada no amor pelas montanhas de Minas.

Viva Tião fidumaegua!!! Gritou-me uma voz do passado.
Voltei-me e o vi passar estalando em risos.
De repente a voz de meu pai... era ele, era eu, um espelho.

Pai!!! Gritou-me uma voz do presente.
Era meu filho... era eu, era meu pai. Espelhos.
Segui viagem.

Fui andando o caminho... definitiva a estrada.
O ronco do motor do caminhão ainda soava ao longe, como também a música do Tusta "... cortando esta reta comprida eu mato saudade de beira de estrada..."

Ouvi uma voz do futuro.
Respondi sem voltar-me para trás - como fizera meu avô tantos anos antes :
"- Quem vier por último que feche a porteira."
Silêncio.
O ciclo permaneceria... sempre.

PAI

Sou iconoclasta. Não me falem de santos, pastores, intelequituais... nem de Lula ou Dilma. Não me curvo ao pastoreio. Não tenho vocação pra ovelha.
A tristeza aqui é crua. Destilada em lágrimas solitárias. O desespero... desolador, horrendo, bruto. O que não podemos alterar é inevitável, só isso.
Mas só desisto morto!!! E sempre será assim, enquanto algum sangue ainda pulsar em minhas veias.
E mergulho de novo em mim mesmo... meu breu, minha dor. Estoico.

Meu pai também é assim. Nunca leu filosofia nem ciência, todavia. É só um homem. Um homem...
O melhor que conheci em toda a minha vida! O cara é um Deus. No único em que acredito.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Epíteto

Para ZéMota

Amei um filho de forma desesperada, mais que a mim mesmo. Talvez minha projeção, o que gostaria de ter sido, feito... não sei.
Não pressionei, porém. Como poderia? Minha ascenção findara há tempos, após sua emancipação intelectual, da qual sucumbi, impotente. Não sei do que fala agora. Capto aqui e ali, e só. Não quero mais saber, não há tempo.
Nem sei o que vai mal. Perdi o senso na dúvida de quanto tempo ainda temos, em seu e meu passado de erros, acertos, futuro incerto e impresente. Tantos conflitos tolos, como tolos são todos os conflitos.
Eu mesmo uma amálgama de pequenas vicissitudes, perjúrios e pobreza. Um jagunço errante em assuntos de paternidade e psicologia. Acho que não saberia ter feito melhor. É tudo o que vejo, ou via.
Mas cá estou passando a limpo minhas escolhas... sempre há tempo. Amei, amo. Basta!!!
O tempo só existe porque é o parâmetro necessário para medirmos as mudanças. Sem elas o tempo seria inútil, uma contagem insípida e inócua.
Que tenha tempo de vivenciar meu neto, seus júbilos.
De meu filho só quero o abraço, o calor e a presença. Nada mais.

"E o meu medo maior é o espelho se quebrar"[1]
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[1] Espelho - João Nogueira, Paulo César Pinheiro

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

"Até o fim..."

Lembro-me - em flashes - de um dia chuvoso, todos a bloquearem meu pai para que ele não saísse de carro, de sua determinação trôpega e desarticulada de jogar o carro no córrego da Mariano Procópio no João Pinheiro/Vila Oeste.
Lembro da confusão, da vã diplomacia dos amigos para demovê-lo do intento, que no final, aconteceu comigo dentro do carro, para desespero de minha mãe.
A promessa foi paga, todavia.
Era 1971. Tinha eu 5 anos, então.

Tirar o carro do rio foi outra história.
O carro, um Chevrolet 42, canadense, apelidado de "Gambá" pelo velho. Nenhuma analogia com o bicho malcheiroso, porém. O carro era uma relíquia, uma máquina que suportou meus caprichos infantis para que meu pai ultrapasse a todos, Fuscas, Opalas, Dodges, tantos outros... ninguém à nossa frente.

Não entendia aquilo com a perspectiva exata, era mais um espetáculo, uma espécie de circo. Reconstrui o cenário a partir do mosaico das lembranças, dos pedaços, e vislumbro agora toda a cena, seu sentido absurdo.

O Galo foi campeão brasileiro naquele ano, aguçando o fanatismo do velho.  O "Glorioso" campeão e Dadá "peito de aço" o artilheiro. E eu virei atleticano. Pra sempre!!!
Poucos podem dizer que torcem para um time em consequência de um ato ensandecido, uma irresponsabilidade alcoólica do pai na comemoração de um título, no pagamento de uma promessa. Homens eram assim. Falavam, cumpriam. Perdia-se o patrimônio, não a palavra. Irresponsável, eu sei. Mas estamos vivos... e as lembranças tem outro tom hoje.

Desde então tem sido um calvário: 1977, 1978 na Libertadores, 1980, 1999, 2005.
Mas ninguém muda de sexo (ou muda?), nem de time (só o Joãozito). Eu sou é Galo, como meu pai, como meu filho, como fui toda a minha vida. Isso é tudo!
Sou mais um da torcida que mais comparece ao estádio em toda a história do Brasileirão. Não interessa se a série é A, B, W, ou o escambau. Não importa se vamos mal ou bem.
Somos chamados de "Massa" atleticana, e temos a 12. Isso mesmo, a camisa 12 é da Massa (em 25 de novembro de 2006, o Atlético imortalizou a camisa 12, que representa o torcedor atleticano e não será mais utilizada por nenhum atleta. A iniciativa atleticana em homenagem à torcida foi a primeira do Brasil e já foi, inclusive, copiada por outros clubes do país. Fonte: Wikipédia).

Agradeço ao velho por forjar-me teimoso, assim...
Como Gêra, aroeira atleticana que resiste a tudo e todos, resiste até ao tempo, renovamos a força na teimosia, no sangue e na raça.
As facilidades ficam para os outros. Pra nós é tudo difícil mesmo.

E assim seguimos.
Com uma alegria que nunca sentirão, mesmo depois de ganharem mais um título.
Uma alegria que não vem da mente, da razão. Uma alegria preta e branca, bruta... do fundo do peito, da alma, do coração.

Eu sou é Galo sim meu irmão!!!

"Quando nasci veio um anjo safado
Um chato dum querubim
E decretou que eu estava predestinado
A ser todo ruim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas VOU ATÉ O FIM!!!"[1]
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[1] Até o Fim - Chico Buarque

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Hai-Kai do ZéMota

Tem gente que tá vivo, mas já morreu. Tem outros que não.

É meu conforto
Da vida só me tiram...
Morto. (1)


Homenagem ao meu pai (espero que o Millôr não me processe por copyright. É dele).
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(1) Meu Haikai preferido do Millôr Fernandes.

sábado, 18 de setembro de 2010

"Canto de Ossanha"

ZéMota me ensinou ainda na juventude: morreríamos com uma ripa de madeira atravessava, trancada por entre os dentes, antes de curvar-nos em barganhas de amor, em concessões ilegítimas da paixão.
Vinícius e Baden já cantavam...
"O homem que diz "dou"
Não dá!
Porque quem dá mesmo
Não diz!
O homem que diz "vou"
Não vai!
Porque quando foi
Já não quis!
O homem que diz "sou"
Não é!
Porque quem é mesmo "é"
Não sou!
O homem que diz "tou"
Não tá
Porque ninguém tá
Quando quer
Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha
Traidor!
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor..."
(1)

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(1) Vinicius de Moraes e Baden Powell