segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Mustangs


Meu pai se foi em 2012. Não me agrada lembrar a data, rever a dor. 

Meu filho recebeu seu nome... antes, muito antes de um câncer intrujão tirá-lo de nós. 
Lembro-me que primeiramente queria Francisco, Chico Chicão, como na Gabriela de Walter Durst. Porém topei com a oposição maciça da família e da mãe, da qual não poderia mesmo me esquivar. Dai veio a cartada derradeira, chamar-se-ia ZéMota, como o avô. A mãe rendeu-se de imediato, sem resistência, nem mesmo escondeu a satisfação. Afinal, tinha jogado pesado, um xeque-mate de mestre.

Lembro também de como contei ao velho. Chegando da rua, entrou pela porta da cozinha e perguntei:
Sabe qual será o nome do seu neto?
- Qual?
- O seu.
Driblou-nos emocionado e dirigiu-se ao quarto onde provavelmente ninguém o veria chorar.

(...)

Logo depois que nasceu deixou-nos no hospital e incumbiu-se compulsoriamente de registrá-lo no cartório. Pegou o laudo médico e voltou com a certidão de nascimento onde seu nome constava duas vezes: ZéMota Neto registrado por ZéMota.

(...)

É 2017. Um novo Agosto. Estamos em Silver City, Novo México. Outro dia 6, uma Segunda-Feira, cinco anos depois. 
Há cinco anos meu pai se foi. 

Agora começa o primeiro dia do resto da vida de meu filho. Encontramos o técnico, nos extasiamos com o campus, com a hospitalidade. Quase tudo acertado em um único dia. 
O Velho estava lá. 

Dois dias depois, surpreendentemente adaptado, sentiu-se em casa. Uma casa longe de Minas, mas que com Minas se parece. O dormitório da Universidade, as montanhas, o povo, a cidade de dez mil habitantes, Silver City. Poderia ter sido Ouro Preto, Diamantina, Minas Novas, é tudo mina.

(...)

O coach torce para o Galo, num país onde football joga-se com as mãos. Um mexicano-americano torcedor do Atlético Mineiro. 
O Velho estava lá de novo.
Estava comigo no caminho de volta ao aeroporto em El Paso quando olhando para as nuvens num dia ensolarado antes de Bayard, a 55 milhas por hora, disse a ele que nosso menino crescera. 
Revi seus passos, do Jequitinhonha a BH. Revi os meus, de BH a Curitiba. Pensei nos dele, BH, Curitiba, Silver City no Novo México, o mundo. Culpa do Velho. Foi em 2012 para nunca mais sair de nós. 

Deixei seu neto para trás. 
Não chorei nem entristeci, só uma ponta de saudade. Afinal, o Velho estava lá... estaria por ele, por nós, sempre!, já não pairava mais nenhuma dúvida!

Um comentário: