sábado, 9 de outubro de 2021

#Novo normal é "meus ovo"

A pandemia, um marco histórico. 

Com efeito, das incertezas e previsões estapafúrdias de ambos os polos, negativo e positivo, direita e esquerda, prós e contras... saíram pérolas que se devidamente notadas deveriam trazer-nos algum aprendizado. Novo normal “meus ovo...”, diga-se de passagem. Nada além de um festival de idiossincrasias tão falsas como qualquer outra sessão do Congresso, esse povo obtuso vociferando apego à ciência, ao método científico como imperativo categórico, o último crivo entre o certo e o errado sem nunca ter dado o menor pedal para a Lógica - ingrediente absolutamente aversivo ao ofício dos (in)dignatários dos palanques. Um insulto a Ibn Al- Haytham (Alhazém), um disparate e desrespeito a Descartes. Subitamente políticos transmutam-se em médicos, youtubers viram epidemiologistas, blogueiros uma mistura de John Snow com Madre Teresa de Calcutá. Dantesco. No Instagram todo mundo vira top model de máscara e desfia seu altruísmo genuíno lastreado por certezas inarredáveis... a dos seus avatares. A ânsia por protagonismo e exposição destravada há tempos pelas redes sociais e Internet saciada agora por toda sorte de sublimação. Nas redes todo mundo é foda!!! Em frente às câmeras, tudo bonito, puro, imaculado. 

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Só que não... Felipe pregando isolamento hiperbóreo enquanto arruma a mochila pra bater bola com os amigos. Renan e Omar como vestais da inquisição humanística contra o genocídio e estultícia do verdugo do planalto (Eclesiastes 2:12 - Então passei a contemplar a sabedoria, e a loucura e a estultícia. Pois que fará o homem que seguir ao rei? O mesmo que outros já fizeram) ... e ainda falando mal da corrupção... do governo? Surreal. Se não tivesse assistido a cena eu mesmo na TV não acreditaria. Novo normal??? Pára que eu quero descer. 

Confúcio ensinou há mais de 2500 anos o que o povo das redes aprendeu sem nunca ter lido filosofia chinesa. Imagem é mesmo tudo. Diante da pequenez e insignificância humanas, os guevaras de plantão descobriram que poderiam mudar o mundo com posts, lacrações e a velha e boa hipocrisia, a grega clássica hupokrisis e a de François duc de la Rochefoucauld

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Confesso que sinto saudade da imperfeição. Um rosto não tão lindo num corpo estonteante. Um rosto tão lindo, olhos azuis e uma bundinha miúda. Gafes e reações desconfortáveis quando não se sabia do que os outros estavam falando. Racismo, sexismo conceitos ocos ainda não operacionalizados pelos grupos identitários. Conversas casuais e imperfeitas ainda sem tanto vitimismo, tanta patrulha. Ainda não havia um manual de instrução para o papo furado. Agora pasteurizaram essa merda. 

“Não sei” agora, ao invés de sinal de humildade e ignorância sobre um assunto, expressão gatilho para a segregação pela “turma do bem”. Não engajamento militante agora uma espécie de lepra social em direção ao cancelamento pela patrulha do “mundo melhor”. Todos idiotas de uma linha de montagem que reduz as relações humanas a ”...estar comigo” ou “...estar contra mim”. Rotores da linha de produção desse fordismo ideológico que nada mais é que a redução das correntes a duas, gerenciáveis, previsíveis, manipuláveis. Fábrica de puppets obviamente hipnotizados pela síndrome de dunning-krugger, cheios de si, sobrando em suas verdades irrefutáveis, atores desse espetáculo piegas e grotesco. E imaginar que muito provavelmente cá estamos só por conta de uma criação imperfeita, de um Deus assimétrico (Marcelo Gleiser). Houve a maçã... 

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Bored to death. Cansado de sanhas identitárias, desse culto cego a uma democracia patológica capitaneada por essa oligarquia que insufla os incautos na luta por mudanças que invariavelmente foram feitas, ao contrário, para deixar tudo do jeito que está. 

Lembro então da juventude em Minas Novas, Lalau de Zé Camargos a parafrasear Bandeira: 
- Vou-me embora pra Chapada (do Norte)... lá sou amigo de Tôto...

Ahhh os hiperbóreos, povo lendário que para os antigos gregos, habitava uma região perpetuamente ensolarada na extremidade setentrional da Terra, além do vento norte. 

Mas vai que é a Chapada? O nome grego eu já tenho. 
Ai tô bem… 23 KM de Minas Novas, dá pra ir de bikeConsiderando que Atlântida tem de ser longe, além de salgada e molhada, e para mim água de preferência doce e cozida (crua costuma ser muito fria), bora pro norte...

Ahhh “meus ovo” ... 
E só pra deixar claro, “novo normal é o c...”.