sexta-feira, 30 de março de 2012

Guru do Méier

Eu vim com pão, azeite e aço;
Me deram vinho, apreço, abraço:
O sal eu faço.

A burrice não é exclusividade minha, ou sua, ou do seu Manoel da padaria da esquina. Ela sempre esteve entre nós, fingindo-se de morta, à espreita, pela mais absoluta falta de inimigos declarados em número suficiente e/ou vigilante. Ela é verdadeiramente democrática, para a felicidade dos novos príncipes. Um descuido e babau, lá vem ela vestida de boa causa, verdade inquestionável ou seja lá qual mais for a utopia.
Talvez também por indulgência nossa, foi ela oficialmente socializada: 'a ignorância como virtude cívica'[1], remissão para todas as ovelhas perdidas e ávidas por pastoreio e tosquia.

Mesmo os inimigos declarados da burrice foram morrendo - literalmente ou de raiva - nesse admirável mundo novo da elevação da mediocridade e do pragmatismo político-financeiro-social à condição excelsa, nobre.
Nas universidades, só intelequituais com q e suas exegeses inócuas vicejam sob a imparcialidade de sua ideologia[2] viciada. A produção científica agora passa pelo prisma ideológico onde as conclusões antecipadas determinam um silogismo ao avesso, subvertendo o método científico e estabelecendo a conveniência como a condição necessária e suficiente do pensamento. É o método Marilena...
E idiotas astuciosos receberam a alcunha de gênios, Doutores Honoris Causa.
Descrente[3].


Morreu o Millôr, embora permaneça mais vivo que todos esses que ai estão. Vivo no Saite, na obra que deixa, essa eterna.
Livre pensador, um dos últimos moicanos numa imprensa pelega e a serviço de alguma "causa". Vou sentir sua falta...
"Fica a lição do "guru do Méier" de que é preciso sempre olhar para a realidade sob uma perspectiva crítica."
Eu nunca duvidei disso. Nunca tive mesmo vocação pra ovelha.


O Brasil ficou um pouco mais burro na terça passada. 
Salve-se quem puder (se quiser)!!!


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Imagem: do Saite do Millôr - Hai-Kais I
[1] Pergunta pro Presidente Lula: "Em que exato momento histórico nossa ignorância passou a ser virtude cívica?" Das Frases VIII do Millôr
[2] Ideologia: Bitola estreita para orientar o pensamento. Não existe pensador católico. Não existe pensador marxista. Existe pensador. Preso a nada. Pensa, a todo risco. A ideologia leva à idolatria, à feitura e adoração de mitos. E, finalmente, ao boquete ideológico. Do Dicionário Irrefletido do Millôr
[3] Descrente: Indivíduo que crê piamente na descrença. Do Dicionário Irrefletido do Millôr

quinta-feira, 15 de março de 2012

My corporate life


I'm not the kind of person who has or had ever a very strict conviction about the real importance of work in our lives. As a matter of fact, not either one of those molded guys who just left the college saying exactly what managers are willing to hear so as to make their lives less difficult.
All that bs to me is just a stupid boring recipe to skyrocket the career saying the same old things about leadership, role models and mentioning every other two min lots of buzz words.
In philosophy, you might call it work's ethics. That's just a value, only the son of an ideological thought sold by corporations and power groups to make more profitable their shares.

Know what? Life is my son playing tennis and winning a tournament last week. Seeing him shooting smashes, winners, pushing all his resources out of the toolbox over the adversary, like a sniper, I felt myself as something which really worth in this world. Life is also to hear from my daughter she's missing me and home is terrible when I'm not there. This brings me to an upper level, makes me feel like a giant.
Life is when my oldest daughter caught me in a long conversation to tell me about her fight against the bullying promoted by stupid people due to her profound hearing loss.
Life is indeed when in a Saturday morning, and I'm still flat in bed, wake up with my wife carrying a table crowded of good things for my breakfast. And she yet says she loves me.
Life is my father fighting a cancer for the past 5 years without losing his light. He insists, still burning even though his fire is low.
Life is my mother supporting him at all times, no matter what, no matter when.

Life is not fair, we all know. But quoting Clint Eastwood in 'Unforgiven', "this has nothing to do with fairness".

To live is more than drowning yourself into a plot where you are supposed to play a role, following a pre-defined script written by someone else you've never heard of.
Erasmus said in 'Praise of Folly' that all of us are actors, wearing masks till someone takes us out of stage. Maybe... Most likely… in most of times.
But I prefer to think about myself just as a father, a son, a fool who comes over and over again to work playing a role, just for some hours. But the real truth is outside, waiting for me at a tennis court, at home, in a Russell’s book like 'In Praise of Idleness', or in a bar table chatting with friends, the only real people who really interest me.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Tirando a poeira

O trabalho me tomou todo o tempo e energia nas últimas semanas, daí (será que aderi de vez ao curitibês?) não escrever há algum tempo. Estou aproveitando o layover entre um voo interno nos US e o outro para meu retorno pra casa para tirar a teia de aranha. Já tava empoeirado isso aqui. Então... falemos meus caros, falemos.

Trabalhei as duas últimas semanas em Baton Rouge, na Louisiana. Para quem pensava que a capital da Lousiana era New Orleans (como eu), ledo engano. Já foi, remontando 1812 quando o território de Orleães tornou-se o décimo oitavo estado americano, tendo sido então renomeado para Louisiana.
Mas é Baton Rouge a capital desde 1849.

Btw, fui jantar no Café Amelie em New Orleans na Quarta (New Orleans está a aproximadamente uma hora de carro de Baton Rouge). Claro que passei pela Bourbon Street (caso contrário seria como ir à Amsterdam e não passar pelo Red Light District) e terminei a caminhada no Cafe Du Monde, às margens do Mississippi. O French Corner em New Orleans é indispensável.
Cidadezinha incrível, mas pra ser vista e andada em dias, não em horas (e eu sem nenhuma câmera).
A experiência gastronômica aconchegante iniciada no Amelie foi selada com chave de ouro com o café do Cafe Du Monde (served Au Lait) e uns tantos beignets, as especialidades da casa. (Não sou bom descrevendo bebida ou comida. É um de meus fracos. Caso queiram informações, vejam os links).

O Mississippi divide Baton Rouge de Port Allen, onde trabalhei de fato nas 2 semanas anteriores. O lugar seria mais ou menos como BH e Contagem, não dando exatamente para notar as nuances, as diferenças entre as cidades, a não ser pelas imposições legais como diferentes prefeituras, polícias, tribunais, essas coisas. Não fosse a opulência do maior rio americano, navegável, com cargueiros enormes e portos de respeito, NÃO poderíamos fazer nenhuma outra comparação com BH/Contagem (te deixei confuso? Ufa!). É completamente diferente mesmo.
Para resumir tudo numa frase, "as coisas aqui funcionam".

Bom, mas não passei aqui pra discorrer mais uma vez sobre a propaganda negativa dos ideólogos e ignorantes úteis (os que nunca estiveram nos US. Porque o dia que vierem, após ganharem alguma sinecura do poder, farão como a nomenklatura Venezuelana: serão por tempos os maiores consumidores de Miami), mas pra esticar o esqueleto... e a palavra. Também para dar-lhes uma notícia para mim muito bem vinda: minha filha, que também escreve seu blog Paper Late, resolveu enveredar por algo mais consistente, e criou outro blog para dividir com quem quiser, mas principalmente com os deficientes auditivos como ela, sua jornada pela vida e os percalços que tem de enfrentar. Se o primeiro ela escrevia em Inglês, esse último é tupiniquim. Vale a pena: Martelo Bigorna.
Convido você a dar uma espiada.

Talvez eu nunca venha a ser um escritor, embora continue tentando...
Mas ela com certeza um dia será, se quiser. Iniciou esse exercício já aos 21 anos e terá tempo para amadurecer.

Nada há de mais prazeroso na vida que ver seus filhos realizando (e realizando você)!
Na última semana meu filho venceu seu primeiro torneio importante de tênis.
Já havia falado disso em outro post, 'Is there anybody in there?'. Estava certo!
Quase tive um treco. Chorei, claro, o choro mais delicioso que há.
Agora falo com minha filha do meio e ela me diz que está com saudade, que a casa sem mim é terrível.
E pra completar, a filha mais velha escrevendo suas impressões no 'Martelo Bigorna'.

Rapaz... o que mais um homem pode querer da vida?
"O meu medo maior é o espelho se quebrar..."
Mas a vida é assim, e meu velho continua na luta. Da vida só o tiram morto! Andemos...

Bom, deem uma passeada pelos links, com certeza acharão interessantes.

Hasta.