Num jogo de tênis é imprescindível que os jogadores estejam quase no mesmo nível, sob pena de o jogo ser tão entediante e desarticulado como um debate político antes das eleições.
Diferentemente do futebol, onde é impagável ver um time massacrando o adversário numa enxurrada de gols - bonitos, de preferência -, no tênis isso não funciona. Enquanto no futebol um dilatado placar até pode mostrar a superioridade de um time sobre o outro, isso não tira, de maneira alguma, o brilho nem a beleza de uma jogada bem tramada ou um golaço, independentemente. No tênis, isso é impossível. Pelo menos não imagino qual seria a "graça" de ver um Roddick sacando à meia força possibilitando minha devolução, só pra depois encerrar num voleio humilhante ao pé da rede. Talvez nem mesmo dois segundos, de uma agonia óbvia.
Isso seria tão "engraçado" e excitante como ver baleias orca caçando focas ou leões marinhos numa praia ao sul da Argentina. Tão previsível, fácil e entediante que até as orcas parecem buscar excitação extra jogando a presa para o ar, na expectativa de que desesperadas busquem uma saída menos trágica para seu inevitável fim.
Claro, o fim é sempre o mesmo: a orca um pouco menos entediada após a brincadeira e, de brinde, com a pança cheia.
O mesmo acontece conosco nos debates diários. É imperativo que os contendores estejam no mesmo nível ou pelo menos respeitem e disponham do mesmo arcabouço teórico que norteie a discussão sob a luz da lógica. Isso traz regras, congruência ao debate, e o diferencia de uma conversa qualquer entre dois extraterrestres argumentando em línguas absolutamente incompatíveis.
Bom também que os debatedores não sejam políticos ou ideólogos disputando eleição ou um naco do poder. Caso contrário, seria como Serra e Dilma no último debate em 2010, quando Serra falava sobre Erenice Guerra enquanto respondia a uma questão sobre banda larga e Dilma saia com Paulo Preto, em resposta a uma pergunta sobre a Petrobras. Manicômio geral.
Um debate honesto deve ser pautado pela lógica e a busca da verdade como fim em si mesmo.
Dando um exemplo corriqueiro, como discutir música caso seu oponente nem saiba o que seja 'harmonia'?
O que dizer se ao citar exemplos você termina achacado sob o jugo da estravagância, diferença ou erudição indesejada? No fim, pode até sair com a pecha de aberração de circo, embora os palhaços do picadeiro - obliterados e normalmente em maioria - sejam, invariavelmente, quem o julga.
Não há como discutir. Por vezes a distância é tão abpruta que a discussão é simplesmente inócua ou impossível.
E é bom que se diga: a falta de humildade ou soberba de um lado está necessariamente relacionada à arrogância ignorante do outro.
É bom ter ideia de quando calar. "Não sei" é resposta maravilhosa, honesta, a mais digna, no mais das vezes. Palpitar inconsequentemente, como manda a moda hoje em dia, leva inevitavelmente ao risco iminente do ridículo, ou da manipulação.
Noto que quanto menos se sabe, mais a estultícia e arrogância impelem a uma falsa certeza sobre os 80% restantes do assunto (exatamente aqueles 80% dos quais sabe-se patavina).
Em impasses causados por desconhecimento, melhor a trégua para posterior pesquisa e estudo; assim, quem sabe haja uma chance da próxima vez?!
Mas claro, sempre haverão os incautos ou mal-intencionados. Nos embates, mesmo que perdidos, comportar-se-ão como as focas da Argentina, com a diferença de que quando alçados ao ar, alegarão vitória e cooptarão a horda de amigos da "praia" num coro de jargões e apoio cego, a despeito de estarem segundos depois trancafiados por entre os dentes da baleia.
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Imagem: 'Um cego no escuro' - Guilherme Kramer
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