sábado, 30 de março de 2013

Contenda II

Thiago Amud e Guinga já disseram em verso e música que contenda é a pior das brigas, porque aquela de você contra você mesmo.
Concordo.

Após ler a biografia do Agassi notei quão corriqueiro num esporte individual isso é(... mestre yoda).
E eu que já imaginei o tênis como o paraíso da autonomia onde não precisasse prestar contas das falhas, erros a ninguém. Nunca lidei muito bem com cobranças de gente cuja autoridade e direito não alcançavam meu sapato, btw.
Mas é fato que a cobrança vinda de você mesmo pode ser ainda mais devastadora. Pior, dessa simplesmente não há fuga.
Tommy Haas confirmou isso em entrevista recente quando justificava a um repórter a devastação de uma derrota. Porém, perto de completar 35 anos e jogando um tênis impecável, disse não saber ainda viver sem essa pressão. É um vício.
Meu filho, aos treze, vivencia hoje a mesma contenda, a dúvida.
Não posso fazer muito, o que é ainda mais enlouquecedor. Ele terá de andar sozinho o caminho, como sozinho também estará em quadra lidando com os altos e baixos do jogo e da briga interna. O "tênis é um turbilhão".
Mas lograr-se sobre si mesmo fazem de ti um campeão, e se não consegui eu mesmo vencer essa "sombra rival que me acompanha", esse "rosto escondido no espelho", meu filho rodopia, beija o chão, camba pra cá, camba pra lá, luta. E eu grito VIVA!
Seu mestre rei foi ZéMota, camará!!!

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Imagem: http://www.marcelomoutinho.com.br/blog/Diversidade_sexual_imagem.JPG

Contenda
(Guinga e Thiago Amud)

Sou a dobra de mim sobre mim mesmo
Nesse afã de ganhar de quem me ganha
Tento andar no meu passo e vou a esmo
Tento pegar meu pulso e ele me apanha
Eita, sombra rival que me acompanha
Artimanha de enconsto malfazejo

Rodopiei, beijei o chão, cambei pra cá
Meu mestre rei foi Salomão, camará!

Dei um talho em meu próprio sentimento
Pra que o mundo fulgure na clareira
Que esse nervo me aviva o sofrimento
Que esse olho é motivo de cegueira
Ê, presença difusa, desordeira
Giro de furacão sem epicentro

Desafiei, puxei facão, ponguei pra lá
Vazei no peito esse intrujão, camará!

E vem pernada aí
Vem não, foi desvario
E vem navalha aí
Vem não, foi calafrio
A roda vai abrir
Quando eu cair
No vazio

Meu sangue arredio, arrevesado
Arranco e derramo em oferenda
Mas não ponho fim nessa contenda
Com meu coração esconjurado

Camará, Camará, Camará...

Sei de um rosto escondido no espelho
Bem depois do cristal iridescente
Entro no meu juízo e destrambelho
Entro no meu caminho e passo rente
Eita, angústia que vai minando a gente
Capoeira contra Pedro-Botelho

Serpentei, botei pressão, varei o ar
Parei no meio do desvão, camará!

E vem pernada aí
Vem não, foi desvario
E vem navalha aí
Vem não, foi calafrio
A roda vai abrir
Quando eu cair
No vazio

Camará, Camará, Camará...

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