domingo, 21 de novembro de 2010

Papo de avião

Aeroportos e viagens de avião parecem também transportar o ser humano a um mundo paralelo, muito além do destino prescrito no cartão de embarque. Mesmo depois da popularização do transporte, que tornou mais vantajoso voar que pegar um ônibus de Belô a Curitiba, por exemplo, as pessoas continuam reagindo como se estivessem num evento, numa apoteóse.
É fácil se deparar com todo o tipo de bizarrice.

Há os que são tomados por uma compulsão incontrolável de falar ao celular, nem que seja com a tia da vizinha da avô de uma amiga de infância que não via há 10 anos.
E dá-lhe palavrório: "estou no avião, decolo daqui a pouco..." Papo de uma relevância monumental, digno de repreensões das comissárias de bordo para que o passageiro obedeça a solicitação de "desliguem os celulares".

Há a turma dos óculos escuros e figurino de viagem.
Essa turma fashion é uma tribo descolada. Consideram a si próprios acima da plebe e com mais conhecimento e acesso ao universo misterioso dos aeroportos, salas vip e aviões (big deal). Afinal, eles são os representantes da estirpe SPFW da aviação nacional.

Há os executivos, empresários, doutores em aviação e reclamação, sempre ostentando seus cartões planitum, gold...whatever, e sacando - como Jesse James, o gatilho mais rápido do oeste - mais ligeiro que qualquer mortal comum:
"- Você sabe com quem está falando?"
Esses se acham acima da plebe por considerarem a si mesmos os aristocratas do ar, quase os donos dos céus do mundo.
Os fashion são até tolerados, porque sempre há uma moça bonita representando o grupo e, essa turma adora um caso com uma modelo fora do casamento.
O único problema é que se o avião cair, irão todos "juntos e misturados" ver São Pedro, pra desgosto deles... Ainda assim, muito provavelmente tentarão prioridade apresentando o cartão Elite Member na porta do céu.

A plebe é a plebe. Come de tudo o que oferecem como se um maldito sanduiche de queijo quente se transmutasse num banquete dos deuses só porque se está flutuando a 12000 pés de altura. Também são responsáveis por algumas das exigências mais insólitas, na tentativa desesperada de mostrar alguma intimidade e fazer parte do big group ("me traga uma pinga de pequi com cereja turca por favor...").

Retirar a bagagem é uma epopéia à parte. Somos todos, naquele momento, acometidos por uma ansiedade irracional, incontrolável.
Daí a frase mais comum disparada a cada 5 minutos por alguém mirando a esteira e projetando a cabeça erraticamente como um cuco tonto por sobre as pessoas e carrinhos que bloqueiam o acesso, cercando as malas :
"- A minha não veio. Oh vida...oh azar. Só acontece comigo".
Mais 10 minutos e a mala aparece, para felicidade geral da nação e saúde do ansioso quase a ponto de um ataque cardíaco ou colapso nervoso.

É um festival enfadonho.
Especialmente porque caso haja uma pane, diferentemente do Titanic, nem com cartão Gold ou Planitum, nem mesmo os óculos escuros de griffe e o figurino descolado, nem com o estusiasmo e a inocência dos neófitos em avião: o fim será extensivo a todos.
Da primeira à classe econômica, sem botes salva-vidas para os previlegiados.

Sem classe... Para o completo desespero da turma fashion. Iguais...

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