sábado, 6 de novembro de 2010

Réquiem: da vida só o levaram morto!

A morte é tão inevitável quanto a vida. De fato. Ninguém escolhe nascer.
No entanto, alguns escolhem morrer por um ideal, missão ou sonho. Por ironia, esses por vezes terminam imortais.
Outros, simplesmente desistem de viver. Por antagonismo direto trilham o caminho do suicídio.

Embora recorramos às crenças e religiões como consolação em relação à morte de um ser amado ou à prospecção da nossa própria morte, o assunto permanece para a maioria de nós como um tabu ou frustração irremediável.

Da Wikipédia trago o seguinte:
"Do ponto de vista científico, não se pode confirmar nem rejeitar a idéia de uma vida após a morte. Embora grande parte da comunidade científica sustente que isso não é um assunto que caiba à ciência resolver, muitos cientistas tentaram entrar nesse campo estudando as chamadas "experiências de quase-morte" e o conceito de "vida", que se associa ao de "consciência". São consideradas duas hipóteses:
A consciência existe unicamente como resultado de correlações da matéria. Se esta hipótese for verdadeira, a vida cessa de existir no momento da morte.
A consciência não tem origem física, apenas usa o corpo como instrumento para se expressar. Se esta hipótese for verdadeira, certamente há uma existência de consciência após a morte e provavelmente antes da morte, também, o que induziria às tentativas de validação da reencarnação".
 
Eu cá, humildemente, considero a "utilidade" da morte em dois aspectos:
(i) Serve para confrontar-nos com nossa própria finitude; a finitude de nossas crenças e verdades absolutas, a relatividade de nossas leis e perspectivas acerca do que é certo ou errado, nossa própria pequenês, enfim;
(ii) Instigar em quem fica um sopro de vida - ou de morte - como consequência da perda de quem amamos ou apreciamos. Enquanto em alguns faz nascer a motivação e o exemplo em outros desencadeia diametralmente o oposto: o mote para a depressão do suicídio.
 
Diferentemente de Camus e seu 'Mito de Sísifo', não tenho a menor intenção (nem a sapiência) para embrenhar-me pelo assunto sob a luz da filosofia e/ou da psicologia do absurdo.
Na verdade só considero válida a opção (ii) até a parte da motivação e exemplo.
O suícídio, por outro lado, faz menos sentido para mim que a morte em si mesma.
 
No fim vivemos a vida na ironia de morrer um pouco a cada dia - nossa contagem regressiva.

(...)
 
Fui apresentado a ele por um ex-sócio, alguém que em teoria deveria ser meu amigo. O que aconteceu foi exatamente o contrário. Pelo tal ex-sócio nunca nutri uma amizade real pela mais absoluta falta de afinidades. Já por ele, a simpatia foi instantânea.
Não foi um herói que mereça longos discursos, homenagens e adaptações em sua história para acomodá-lo como um mito perfeito. Foi apenas humano. Amigo.
Suficiente!
 
Acometido por uma doença que continua a dizimar-nos sem parcimônia, viveu...e viveu...até o fim.
Lutou relegando os prognósticos médicos aos seus devidos lugares, ao vazio. E na verdade eles não significam nada para alguém que não desistirá de lutar. Nunca.
"Era seu conforto, da vida só o levariam morto".

Aconteceu hoje, inevitável.
Mas acho que ele ainda luta, agora para sempre, já que foi a luta a última reminiscência em sua consciência.
 
A ele minhas homenagens e um desabafo de quem anda desolado pela falta de crença e acometido pelo ceticismo do absurdo:
 - És madeira de lei!!! Que te recebam outros que nos deixaram e que hoje talvez nos esperem. Que todos esperem por nós juntos, agora. Que Motinha, Tião, Fabeca, te recebam e o acolham.
Saiba, és madeira de lei!!! E se agora voltas ao pó, é porque só te levaram morto.
Aqui, viveste até o último suspiro. Foi até o fim...sem desânimo, sem arrependimento. Como tem que ser...
"Good night sweet prince"[1]...
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[1] Hamlet, Act V, Horatio, scene ii - Shakespeare

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