quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Nova Ordem II

Voltei.
Nessas férias passei pela experiência de uma rápida imersão no universo paralelo dos novos ricos, com direito à festa em mansão com o clichê do pulo na piscina (calibrado por uísque, absolut e cerveja, todavia), viagem a balneário com bônus de passeio em iate, balada em boite particular de mansão com 9 suítes e jardim japonês (não mexi um músculo, btw, ainda que bêbado - o som típico de balada nunca me persuadiu  a chacoalhar nem um osso do esqueleto), dentre outros luxos (quais sejam, quadra de tênis e heliporto, ainda em construção. PQP).

Cheguei então a algumas conclusões, mesmo que levianas.
  • Ter dinheiro parece ser um fim em si mesmo, colocando o maior detentor no topo de um gradiente de glamour e poder com direitos quase monárquicos sobre os demais, como "bem manda" o ethos de nosso tempo;
  •  As conversas devem passar necessariamente pela comparação tácita - porém numérica, ainda que falsa - de quem tem mais, via confrontação sutil das posses, viagens, gastos e excentricidades, além, claro, por questões periféricas afins como quem merece "receber o serviço de manutenção de meu iate de 58 pés" ou se você conhece A ou B ou esteve na festa de sei lá quem; isso sem falar da mulherada arrivista (sempre linda e malhada) a soldo (ou não) que orbita os astros da grana atazanando a vida das esposas, e dos gadgets eletrônicos acessados a cada minuto como se todos precisassem broadcast sua glamourosa e imprescindível realidade diária para Deus e o mundo;
  • Pessoas valem quanto pesam (em dinheiro), não quanto pensam;
  • Nós, meros mortais duros e sem onde cair mortos, somos chamados de "prendas" pelos ricaços quando levados de roldão para tais encontros, ainda que sejamos, sem dúvida, o resquício humano do grupo que ainda fala de futebol, filhos, amizade e otras cositas mas, embora menos nobres e mais fantasiosas, com certeza. "Cá estou eu ainda tentando entender qual foi a verdadeira razão para o convite e nossa presença. Talvez procurassem o elo perdido??? Ou viramos aberrações de circo??? Sei lá. Who cares???";
  • Símbolos de riqueza devem ser cuidadosamente estudados - ora, rico bebe champagne e uísque, nunca cerveja. E marcas são importantíssimas, como bem disse a ricóloga Valdirene, mais conhecida como Val (e como diria meu primo Marcão, "que b... hem?").
(...)

Sempre gostei e gosto de luxo, embora até hoje não tenha pago o preço para tê-lo.
Aliás, tirando São Francisco de Assis (e talvez a Dona Vany), nunca conheci nenhum outro humanóide que não tivesse o mesmo gosto por conforto, requinte, facilidades... É só experimentar e você será fisgado...
Nem revolucionários, nem ex-guerrilheiros, nem os estudantes chincheiros da USP, nem políticos e, muito menos, ex-pobres estão isentos.
E embora não haja nada de errado em assumir o gosto pelo luxo, poucos "intelequituais" e/ou "engajados" o fazem. Mentem, portanto.
Assim, tirem definitivamente dessa lista os citados acima. Esses só utilizam o marketing da pobreza para encher os próprios bolsos ou sanar alguma psicopatologia por já terem nascido ricos, tentando desesperadamente justificar sua existência insípida com uma causa ainda que tão verdadeira e factível quanto a existência do Caboclo D'água.
Se não é assim, você deve estar diante de um novo Francisco de Assis.

(...)

De outro lado, estive entre o resto dos mortais do interior de Minas, do qual sou também um exemplar legítimo.
Ali sim, em estado bruto, interagi com gente de verdade, comi quibebe e acarajé do Vale, angú liso (de milho verde, não de fubá), molho pardo, além de me fartar da cerveja mais gelada do mundo no Bar do Cardoso e falar abobrinhas por horas.
Da Vinci tinha razão, a simplicidade é mesmo o último grau de sofisticação.

Assim sendo, concluo que grana é bom. Iates e mansões em balneários também. Tanto quanto carrões e mulheres bonitas. Não sou estúpido. Ademais, não sou político nem militante, logo, sincero o suficiente e imune às conclusões forjadas (forçadas) sob o espectro ideológico. Imune o suficiente também ao teatro político e às distopias para dizer o que sinto, o que penso, sem receio de patrulhamento.
Porém, quando tiver a minha mansão, a festa na boite terá Gentle Giant, Jethro Tull, Yes, Genesis, Led, Stones, Rappa, Milton, Chico, Pixinguinha, Nelson Cavaquinho... como trilha sonora. Nada de techno, música eletrônica ou DJs com nomes escrotos simulando aquela parafernália eletrônica de botões como se estivessem a tocar um prelúdio ou fuga de Bach no cravo. Menos ainda algo da famigerada preferência nacional por sertanejo ou axé.
Haverá sim é muita cerveja gelada, daqui e da Bélgica... ou da Inglaterra, Hungria, Vietnã, Japão, Índia, Minas... Tudo regado a acarajé de milho do Vale, molho pardo, quibebe, arroz com pequi e o mais que der na telha. Tirando o que vai tocar no equipamento de som, tudo o mais será permitido: você pode até trazer o uísque 18 anos que/se quiser, a Veuve Clicquot, o vinho mais caro, ou o chapinha mesmo, a pinga ou o foi gras... whatever you want. E eu com isso???

Espere um pouco: tudo permitido não! Me falem do galo, do cruzeiro (nem tanto), de fórmula 1, de amenidades... do diabo que o parta. Só não me perguntem a marca do avião ou da lancha e nem me fale da Amnesia ou do "We love Sundays" em Ibiza. E nem se atreva a citar Chanel, Gucci, Louis Vuitton, Lanvin ou Rodeo Drive.
Ahhh... e detalhe: "prenda" é a PQP!!!
Quero ver é se além de ganhar dinheiro as Valdirenes leram mais que revistas náuticas ou livros sobre pompoarismo e sabem que Razumikhin era amigo do protagonista Raskólnikov, da novela russa 'Crime e Castigo' de Dostoiévski.
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Fonte da imagem: curiosocorreiocoruja.blogspot.com
Nova Ordem I

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