sábado, 17 de julho de 2010

"A vida é um sonho, Charlie Brown"

Peanuts (no Brasil "A turma do Snoopy") sempre foi para mim uma obra prima! Schulz capturou a "patologia" inofensiva dos sonhadores materializando-a num cachorro beagle com complexo de Walter Mitty.
Do outro lado, Charlie Brown dava o contraponto debatendo-se com os fracassos e frustrações do mundo real. Snoopy era uma espécie de alter ego de Charlie Brown; ou Charlie é que era de Snoopy. Não importa.

Por muitas vezes tive a fantasia de que num estrondo a vida se transformasse naquele desenho animado onde eu, teleportado a outra dimensão, aparecesse sentado ao lado da Paty Pimentinha naquela escola ouvindo a voz de trombone de vara desafinado dos professores (ou dos adultos em geral). Até hoje tal metáfora impressionante e perturbadora me fascina, especialmente porque os adultos só existiam da cintura pra baixo. O que mais poderia existir além daquilo???

Charles foi um gênio ao capturar o universo infantil com tanta sensibilidade e verossimilhança. Como explicar a Primeira Guerra Mundial, o Sopwith Camel (na verdade a casa do Snoopy) ou Manfred von Richthofen, o Barão Vermelho?
Como explicar Beethoven, Joe Cool e toda aquela trilha sonora?
Só mesmo Schulz pra fazer isso sem dor.

Diante de tantas notícias macabras no jornal, tanto descalabro político, me vejo melhor falando com um amigo imaginário como o Woodstock (que fala apenas a linguagem dos pássaros através dos sinais de exclamação, interrogação, etc.) ou voando nos céus da França num Sopwith Camel me desvencilhando das balas do Barão Vermelho no meu encalço.
É isso ou adentrar o universo dos discursos chulos do presidente squid, da violência urbana que vai da pedofilia ao esquartejamento de corpos ou da promiscuidade política que subverteu conceitos como honestidade (Genoino, Maluf, Sarney e tantos outros tem a ficha limpa. Impressionante).
Prefiro por hora enfrentar o invisivel "Gato estúpido da porta ao lado" (também chamado "Terceira guerra mundial") ou disputar a posição de shortstop com o Snoopy no campo de baseball da cidade.
Btw, de volta a minha vida secreta de escritor...

(...) "Estava uma escura e tempestuosa noite..."(1)


(1) Tirado de uma história de Edward George Bulwer-Lytton escrita em 1830 chamada Paul Clifford e parte de um dos momentos memoráveis dos "Peanuts" onde Snoopy era um escritor, com seu eterno abrir da mala onde está a máquina de escrever.

Um comentário:

  1. Cool !
    Virei um leitor de carteirinha.
    Manda mais, estarei aguardando , Strategos Aristides.

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