sábado, 23 de junho de 2012

Tartaglia, Fermat e Pascal para engajados

Lugares comuns, clichês, unanimidades impostas por engenharia social e disseminação ideológica, as redes sociais...
A tal da "democratização da opinião púbica", o "outro mundo possível" do Emir batendo à nossa porta. É a bala no crânio de Winston, a vitória sobre si mesmo exatamente para deixar de ser você mesmo, o famoso paradoxo de Orwell.
(...)
O engajamento que vejo por ai é tão infantil e carnavalesco quanto "um pano de guardar confetes". Scruton formalizou tal estupidez assim:
"O pensamento utópico nos remete diretamente para um objetivo, passando por cima da viabilidade do projeto. É fácil digeri-lo e se embeber do seu otimismo mal-intencionado e sem fundamento. O problema vem depois, quando a utopia termina em fiasco."
(...)
Participei do décimo primeiro ENEMAT em Porto Alegre, há vinte e tantos anos atrás. Acho que tinha vinte... e uns, não tenho certeza. Lembro-me porém da já estratificada e dominada estrutura de mobilização por partidos políticos nas universidades. Fazia matemática na UFMG naquela época, curso que nunca tive competência para levar adiante, todavia.
Tinham os do PCB, os do PCdoB (sim, são dois partidos, separados em 1962 por mero oportunismo semântico), os do PT, os do PDT... dominando DCEs, DAs, centros de estudos e o que mais fosse útil para manipular qualquer movimento estudantil.
Todavia, bem intencionado e crente que era, participei da plenária do primeiro dia na UFRS. Evidentemente que a primeira assembleia não saiu da discussão do estatuto interno do ENEMAT. Quem teria direito à voz, ao voto, aquela baboseira entediante que os engajados da época levavam às últimas consequências como se discutissem o futuro da humanidade, com aquele ar grave de superioridade e a satisfação e petulância dos tolos.
Talvez por isso mesmo de boa lembrança tenha me sobrado basicamente a festa na faculdade de veterinária fora do campus onde acabei me dando bem com uma "carioquinha" de Rio Bonito. E das bebedeiras, claro.
Mas tive a clarividência apontada por Scruton foi mesmo no segundo dia de plenária, quando em meio a brigas, discussões, disputa pelo microfone para os 15 minutos de fama que todos têm direito, os iluminados tentaram definir quem teria afinal direito à voz e ao voto. Notei que engajados emplumados utilizaram inconscientemente análise combinatória para propor todas, absolutamente todas as possibilidades como se de fato fossem mesmo necessárias, ou relevantes. Senti-me um perfeito idiota. Vislumbrei então o culto narcisista ao arquétipo do estudante universitário da época:  roupas, cabelos, badulaques, o formalismo revolucionário mimetizado, tolices úteis a partidos políticos, ou só besteiras. Sai... Fui ao bar fazer algo mais produtivo.
(...)
O tal documento oriundo daquele encontro, depois de 5 dias de plenárias, foi sem dúvida a panaceia para os problemas do mundo, como são todos os documentos "bem intencionados"... e as plenárias, fóruns: sem lastro, nada além de boas intenções, como no inferno.
Pena que tenha se perdido. Quem se importaria com compromisso, com viabilidade, factibilidade... sonhos em papel sempre deram muito mais ibope.
Talvez tenha servido a uns e outras para seduzir as gatas/gatos mais lindas(os), inebriadas(os) com toda aquela vontade impoluta e decidida de mudar o mundo.
Mas estou certo de que mais útil à alguma fogueira... ou ainda à função mais nobre, deixado assim em algum banheiro de DCE evitando a derrubada de algumas árvores.

PS: o legado de Tartaglia talvez tenha sido o único indício de que eram mesmo estudantes de matemática - ainda que tenham usado 'combinações simples' de forma inconsciente para esgotar as opções (...e minha paciência) a serem postas em votação -, porque a participação nos minicursos onde o assunto era realmente acadêmico tinha sempre quorum reduzido.

Combinações simples:
Representando por Cn,k o número total de combinações de n elementos tomados k a (taxa k) , temos a seguinte fórmula:

Nota: o número acima é também conhecido como Número binomial e indicado por:

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