domingo, 20 de março de 2011

De volta!!!

Uma temática me persegue, desde sempre. Chame do que quiser, provincianismo, xenofobia, ingenuidade, mas somos o que somos, e eu, principalmente, não nego isso nunca mais!
Com efeito, minha maior influência musical foi pavimentada por tudo o que fizeram os arautos do 'Clube da Esquina', Milton, Beto, Toninho, Lô, Tavinho, Flávio, Sirlan, Márcio, Brant, Ronaldo Bastos... Santa Tereza - onde nem nunca morei, diga-se de passagem, só em meus sonhos.
Foi o que sedimentou minha percepção musical, quer eu queira quer não.
Dai veio o resto, porque toda minha interpretação musical passa invariavelmente pela harmonia, pelo crivo do que ouvi do 'Clube', meu ponto de partida. Uma comparação que não consigo evitar.

Em 1996, Tusta me disse para ler 'Os Sonhos Não Envelhecem', do Márcio Borges. Como relutante incorrigível - sigo sempre meu próprio tempo, meu próprio compasso, nem melhor nem pior, só lento, às vezes, e às vezes não - comprei o livro ontem, 15 anos depois do lançamento.
E cá estou, de volta, com meu ufanismo mineiro, jactando-me nas palavras de Márcio, revivendo enciumado sua história como se pudesse me juntar à 'Turma do Levy', ser um dos tantos que caminharam e sonharam juntos de Milton, dos Borges, de todos, num tempo negro de não liberdades (1964), mas cujo boom cultural da juventude revolucionou o planeta, como (talvez) nunca mais.

Já a minha geração foi infinitamente mais sem sal. Prova disso é toda a minha dificuldade e ignorância em entender todas as referências sobre cinema, arte, jazz, filosofia, literatura, em tudo o que leio.
Mas felizmente Larry Page e Sergey Brin (e porque não Robin Li) nos deram de bandeja o Google, que na definição do Millôr, seria o "conhecimento prêt-à-porter". Hoje consigo eliminar minhas lacunas depois de alguns minutos de pesquisa, pelo menos.
Porém é triste notar que as gerações se sucedem e se obliteram, umas sobre as outras.
A de hoje parece que anda ainda mais cega.

Depois de tudo, como bom mineiro, repito: "trem de doido", o livro.

Claro que o Clube não seria compreendido por alguns, de cuja pressa e intelecto imediato não se pode esperar muita coisa... só que sejam baianos, como Marcelo (nada de) Nova.
Mas diferente do Faustão, com "os melhores de todos os tempos desta semana", os anos sessenta foram um trator cultural que pavimentou quase tudo o que ouvimos e vemos como 'O melhor de todos os tempos', até hoje.

Concluo nostálgico que nasci atrasado. Deveria ter nascido nos anos quarenta, consequentemente nos sessenta estaria em ponto de bala para pular nesse trem, nem que fosse apenas como um expectador longínquo. Ainda assim faria das (hoje) lembranças do Márcio as minhas, como testemunha quase ocular, mas definitivamente auditiva, de alguém que partilhara na linha do tempo um momento, um alvorecer de algo tremendamente novo.
Saudade.

"Saudade do novo".

"Se digo um ai
É por ninguém
É pela certeza
De saber que tudo tem

Tem sua vez de lá retornar
Ao lugar mais fundo
Fundo fundo mais que o mar

Se digo sol
Não tem talvez
Não espero mais a chuva
Só preparo meu começo
A explosão de toda luz
A chama chama chama chama

Se digo amor
Só é por alguém
É pelos malditos
Deserdados desse chão"[1]
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[1] Novena - Milton e Márcio Borges -  primeira da dupla, numa noite em 1964

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