"Estou tecnicamente morto!", dizia um entediado Francis nos bons tempos do Manhattan Connection. "E já houve um Francis não entediado?" perguntariam os não iniciados. Claro que sim. Em seu humor sarcástico, sua erudição requintada e ferina, sua contundência por vezes forçada e muitas vezes equivocada, em seu tédio ensaiado, teatral.
"Apenas os idiotas não se contradizem", espetava de pronto quando confrontado com uma de suas muitas opiniões comprovadamente equivocadas. Não tinha medo de errar, de ser injusto... às vezes. Ter opinião e ser livre pensador sempre teve um preço. Sabia e usava isso com maestria. Nunca ficou "em cima do muro".
Na era da "burrice como virtude cívica" e do peleguismo fisiológico, isso faz mais falta ainda. Sinto falta daquela verve.
Nunca mais vi o programa. Acabou-se, como acabou também a última trincheira de livre opinião da imprensa brasileira. Emitida de NY, btw.
Hoje o país opina por conveniência, exercita a política ensinada pelo grão mestre: conchavos, cooptações e clientelismo, ignorância, banalismo. De todos os lados. Todo mundo em busca de um jabá. Pragmáticos.
O Brasil anda tão previsível que perdi o apetite de "descer o malho" nas últimas semanas. É tudo só "um pouco mais do mesmo", sem novidades, sem graça.
Quanto ao pretensioso exercício literário de escrever contos, crônicas... também afetado pela maré de tédio. Tecnicamente morto.
Como ele, nessas horas difíceis, também "Eu gostaria de ser o fantasma do Metropolitan Museum"[1]. Afinal, "Hitler nos provou que política dá sempre errado. Tudo o que ele mais queria era acabar com o comunismo e com os judeus. No final da Guerra a União Soviética virou superpotência e os judeus conseguiram fundar Israel."[1]
O "sweet prince" faz falta.
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[1] Paulo Francis
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