segunda-feira, 23 de abril de 2012

Bee days

Dias estranhos esses.
No trabalho tenho digladiado com imposturas cuja justificação principal seria uma espécie de fidelidade às melhores práticas e técnicas.
Caso fosse mesmo, seriam legítimas.
No entanto, a justificativa não passa de simulacro, falso rigor técnico travestindo um narcisismo carreirista cujo afã tem mais a ver com alguém pôr a cabeça para fora em busca de notoriedade que com outra coisa qualquer. É a síndrome do cuco.
E o problema em si?, perguntaria você; esse apenas um meio, a oportunidade de alcançar objetivos outros, a solução do problema apenas como o último intento a ser atingido, portanto. Nem foco na solução nem foco no problema, foco nas consequências da ação no âmbito pessoal, tudo questão de como capitalizar da melhor maneira possível qualquer patacoada esdrúxula desde que sirva para pavimentar seu caminho para cima.

(...)

Muito se vendeu acerca de sucesso profissional. Livros e mais livros dando conta de como fazer, das fórmulas a serem seguidas para tornar-se o novo Mark Zuckerberg do pedaço.
Só uma linha de montagem para empreendedores autômatos, novos robôs corporativos que pensariam tão previsivelmente como instruções numa bula de remédio, todavia.
E eu cá a me perguntar por onde andaria nossa capacidade de inferência e criatividade?

(...)

Talvez a inteligência tenha mesmo se tornado algo nefasto, tal qual para os zangões, cuja derradeira tarefa de fecundar a rainha uma única vez determina que melhor é abdicar completamente do raciocínio. Afinal, o que seria da colmeia se o escolhido desatasse a questionar se a transa real vale mesmo a pena? Extinção. Sorte das abelhas que os zangões não têm mesmo cérebro.

Não tenho notícia se de fato o gozo imperial valeria a vida. Nem mesmo sei se zangões gozam. Mas e dai? O que valeria realmente é o pré-condicionamento biológico e social em prol das regras de uma sociedade organizada por castas, como a do Admirável Mundo Novo de Huxley, onde todos estão sob o jugo de alguma ideologia totalitária enrustida de bem comum ou sob o determinismo genético da perpetuação, no caso específico das abelhas. Sem questionamentos indesejáveis, finalmente.

Mas não deveríamos prezar mais a característica principal que nos separa dos outros mamíferos, répteis, peixes, das aves, pedras, árvores e das abelhas? Ainda que "once in a while" pelo menos? Pensar, de vez em quando, só pra variar?

(...)

Constato porém que corporativismos de toda espécie tornaram-se independentes, tanto quanto imprevisíveis nesse caos moral-político-econômico nosso de cada dia.
Quando não deveríamos abrir mão do que os mantinha sob tutela - basicamente o que alguns picaretas intelequituais a soldo chamam hoje de moralismo -, valores inegociáveis impossíveis de relativização seja lá qual fosse a causa, sucumbimos a um pseudo-raciocínio progressista. Do outro lado, ao não impor nosso intelecto em favor de questionamentos válidos, somos corrompidos pela fidelidade cega ou manipulação ideológica pura e simples; ou mau-caratismo praticante mesmo.
Houve então a mais absoluta inversão do processo.
Ora, vejam só no que se transformaram os sindicatos, movimentos sociais, partidos políticos, as ONGs, a UNE dessa nossa "democracia" patológica.

Dito isto, talvez seja mesmo útil que as operárias comportem-se como operárias, os zangões como zangões e as rainhas como rainhas, às vezes.

Mas também é bom lembrar que a rainha voa apenas uma vez, no voo nupcial. Que a cópula ocorre em pleno voo e a rainha pode ser fecundada por até 17 zangões. Que o sêmen é armazenado num reservatório especial denominado espermateca e será utilizado para a fecundação de óvulos durante toda a vida, pois ao retornar à colônia a rainha nunca mais sairá para realizar outro voo.
Também é importante dizer que as operárias não reproduzem e estão fadadas o resto da vida ao trabalho de manutenção da colmeia. E só!
Já os zangões… Bom, esses todo mundo sabe como acabam: eunucos e mortinhos da silva, logo após o coito (o órgão genital do zangão – endófalo - fica preso no corpo da rainha e se rompe, ocasionando sua morte).

Pois bem meu amigo, antes de sair por ai respondendo bizzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz como uma engrenagem qualquer da máquina - de qualquer máquina corporativista/ideológica -, pense primeiro no que te espera no futuro; a menos que pra você também valha mais a morte após um gozo real ou voar uma única vez na vida, perpetuação da espécie não deveria ser o intento principal.
Pior ainda se você é um daqueles que acreditam no “outro mundo possível” do Emir, como se lá também você não fosse só mais uma abelha operária da colmeia.

Em todos os casos, exorto mais uma vez duas máximas millôrianas: "O capitalismo é a exploração do homem pelo homem. E o comunismo é exatamente o contrário."
Bizzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz...
“Livre pensar é só pensar” maganão.
Cuco... cuco... cuco...

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