A verificação de uma tese sob a varredura de inúmeras perspectivas é para mim condição sine qua non para conclusões relevantes e verdadeiras.
Alguns gênios, e esses raros - embora o adjetivo seja indiscriminadamente utilizado por sabujos ou pragmáticos interesseiros na produção de mitos de barro -, podem e têm insights imediatos e aparentemente sem ligação anterior com as teorias já formalizadas acerca do mesmo tema. Mas o conhecimento, de modo geral, é incremental, ou seja, parte de um arcabouço já definido que expandido, contestado, é inovado ou reescrito em partes. Há sempre um ponto de partida, uma pergunta inicial e suas diversas respostas ou crenças imediatas a orbitarem a dúvida primordial. Para avançar, parte-se do já edificado e por inferência/dedução chega-se a novas conclusões. Mas sempre há ai o crivo da lógica. Mas nada sei sobre gnosiologia, muito menos sobre o apriorismo Kantiano na união dos ideais do racionalismo e do empiricismo. Menos ainda sei sobre Saul Kripke e sua oposição ao apriorismo. Sei apenas que a leitura apressada e inconsequente seja lá de qualquer fato ou teoria é tão mais estúpida quanto menos se prospecta tudo o que já foi dito, sob diversos ângulos, a respeito dela. Parece mesmo uma obviedade.
Porém, miremos o embrutecimento intelectual que vem subvertendo nos últimos 30 anos qualquer arquétipo de erudição como algo indesejável, imoral e que engorda. Tente você impor à qualquer discussão um rigor maior na abordagem dos fatos, na pesquisa das fontes, na diversidade das opiniões, autores, perspectivas e você receberá o selo de aberração... ou de reacionário, direitista, conservador e todo aquele rosário de rótulos odiosos que de tão batidos já me embrulham o estômago.
O espectro ideológico domina, manipula e estabelece a opinião vigente. É a tal da "democratização da formação da opinião pública" almejada pelo Emir. E entenda-se aqui a novilíngua envolvida, 'democratizar' significa exatamente o contrário, nada mais que padronizar o pensamento à luz e interesse do poder vigente. E dá-lhe patrulhamento. Ai, ou você enfrenta a horda e liberta-se, pesquisa, lê, infere, ou permanece a idolatrar os mesmos velhos ídolos.
Portanto, opinião hoje em dia significaria na maioria das vezes exatamente a mais absoluta falta dela. Marionetes que juram de pé junto independência de pensamento e que nem mesmo pensam, todos abduzidos pela hipnose oficial. E é bom que se diga, tal abdução segue às vezes as razões do Renan, do Sarney, do Collor para a aceitação alegre da sedução. Noutras vezes não passa de inocência útil. Mas como nas igrejas, templos e no AA, é imperativa a repetição sistemática, a lavagem cerebral contínua. A verdade, sem ela, emergeria mais dia menos dia. Temos mesmo um cérebro programado para questionar e inferir, duvidar caso a experiência diga-nos algo contrastante.
Dai a orientação idônea de potentados nacionais como o Zé ditando quais publicações, TVs e radios deve-se ou não seguir. Tudo em nome da "democratização da formação da opinião pública", uma contradição em termos.
Impressionante como quase tudo o que leio ultimamente diz exatamente o oposto do que realmente teria de dizer.
Providenciam todos os esclarecimentos possíveis exatamente não esclarecendo nada; falam de igualdade enquanto deflagram a relatividade jurídica sob a subjetividade dos próprios interesses; pregam, enfim, tudo o que NÃO são porém o que querem dos outros. Só dos outros.
É nada mais que o alvorecer de uma nova oligarquia, embora traga consigo as mesmas velhas figuras cujo passado não deixa dúvida: sempre estiveram do lado de quem manda, mamando...
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