quarta-feira, 7 de setembro de 2011

"Um pé na soleira e um pé na calçada"

Cresci me imaginando diferente, como que beijado pela providência ou musas tivesse herdado algum tipo de missão grandiosa ou o dom de mudar o mundo. O corpo fechado, "the one", o grande irmão, sei lá mais o quê.
E o mais que fiz foi copiar a mim mesmo, já cópia de tantos, dispersos e incongruentes, tornando-me o xerox do xerox do xerox... de outros, de mim.
Um seixo, ininteligível, uma borra é tudo o que resta agora no espelho d'alma onde outrora projetei meus sonhos. Talvez só a presunção e a arrogância dêem conta de meus atos, meus passos até aqui, além da miopia e um mundo virado.

E agora? Os anos se foram e é como se o produto viscoso de minhas entranhas num espasmo de ressaca nunca tivesse saído de mim nem fosse a consequência de minha estúpida embriaguez.
Não reconheço mais os propósitos ou por que ainda insisto em reconstruir-me.
Melhor teria sido reinventar-me, ou fugir definitivamente de mim mesmo. Mas o exílio de si demanda o suicídio ou a patologia da loucura, itens incompatíveis a quem ainda carrega alguma lucidez misturada a camisas e meias na mala de viagem.

A sobrevivência é puro instinto. Sempre foi.
Sempre será.

Me chamo... Léo.

"Um plano de voo e um segredo na boca, um ideal
Um bicho na toca e o perigo por perto
Uma pedra, um punhal
Um olho desperto e um olho vazado
Léo" [1]
 

[1] Léo - Milton Nascimento, Chico Buarque

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