segunda-feira, 23 de agosto de 2010

"Filosofada"

Sempre achei que as coisas acontecessem comigo de uma forma um tanto ordenada, como se um acontecimento por mais desejado que fosse só viria por ordem, subsequente a outro - seu pré-requisito, mesmo contra a minha vontade.
Todavia, essa visão mística não encontra lastro em minhas convicções, uma vez que prefiro a luz da ciência ao obscurantismo metafísico, embora Hume ou Russell às vezes me tragam mais dúvidas que certezas acerca da causalidade.

Tirando o fato de que você nasce primeiro, cresce, depois morre, exatamente nesta ordem, não vejo outra lei determinante ao nosso destino.
Paradoxalmente, me conforta imaginar que as coisas aconteçam somente na hora em que deveriam acontecer. E isso não diminui o fato de considerar essa uma visão medíocre, calcada na acomodação e indolência, na maioria das vezes. Presta-se no máximo a manter você em paz consigo mesmo, evitando uma guerra interna cujas consequências poderiam ser desde a depressão e ceticismo a uma tentativa insana de transmutar-se no arquétipo do “homem de sucesso” moderno.
Não, obrigado!!!

Compreendi minhas limitações e persisto ultimamente em tentar dar-lhes uma justificativa plausível, uma espécie de salvo conduto contra as opiniões contrárias.
Pensar já é um ato de diferença. A maioria de nós não pensa porque o mundo é do jeito que é e nem porque nos dedicamos a fazer as coisas que fazemos todos os dias, repetidamente.

(...)

Ai, diante da TV vejo as notícias que trazem invariavelmente o mesmo tempero, a mesma receita: “ânsia de aquisição”, “vaidade”, “rivalidade” e a “paixão pelo poder”1. Confesso um tédio abissal, embora veja nas leis acima, não sem tristeza, algumas das molas propulsoras da minha própria existência...até agora.


Porém, diante da complexidade filosófica do tema e de minha restrita capacidade intelectual, recorro novamente à indolência do fatalismo clichê de que a vida seria mesmo assim, de qualquer maneira. É mais cômodo, por hora, não pensar porque as coisas aconteceram dessa e não daquela maneira.
E me refugio de novo na doce guarita das realizações artísticas, essas das quais as explicações não explicam, e nem acrescentariam nada de útil.
Ouço “Saudade da Guanabara”2 e mergulho no refrão “Brasil, tira as flechas do peito do meu padroeiro, que São Sebastião do Rio de Janeiro, ainda pode se salvar...” pra fugir do ceticismo que me espreita ultimamente, agravado sobremaneira pelo horário eleitoral.
 
Sem esperanças...



(1) Bertrand Russell’s Best - 1958
(2) Saudade da Guanabara, Moacyr Luz, Aldir Blanc e Paulo César Pinheiro


Um comentário:

  1. A velha discussão do acaso! O acaso realmente existe ou até mesmo o inesperado ja foi decretado pela estatistica como previsível? Sinceramente Seu Apolinário ... continuo partidario q nada acontece na vida por acaso!

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